A má higiene bucal aumenta o risco de câncer colorretal

Por Shan Lam e JoJo Novaes
27/06/2024 00:14 Atualizado: 27/06/2024 00:14
Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.

A higiene bucal não significa apenas manter os dentes saudáveis; as bactérias orais também foram associadas ao câncer colorretal. Como as bactérias orais entram no intestino? Os enxaguantes bucais podem ajudar? Shao-Hung Wang, especialista em microbiologia de Taiwan, discutiu a relação entre as bactérias orais, a saúde intestinal e as doenças cardiovasculares no programa “Health 1+1” do Epoch Times e delineou métodos para manter uma boa higiene bucal.

Um estudo publicado na prestigiada revista internacional Nature revelou que a Fusobacterium nucleatum, uma bactéria oral associada a doenças gengivais, foi encontrada nos tumores de alguns pacientes com câncer colorretal. Essa bactéria pode promover o crescimento de tumores colorretais e aumentar o risco de recorrência do câncer, levando a um prognóstico pior.

O Sr. Wang explicou que a subespécie Fna C2 da Fusobacterium nucleatum pode resistir a condições ácidas, permitindo que ela passe pelo trato digestivo e entre no cólon e no reto. Uma vez lá, ela produz fatores de adesão para se ligar às células e libera moléculas tóxicas que induzem a inflamação, promovendo o desenvolvimento de tumores.

O Sr. Wang acredita que os antibióticos podem não ser adequados para combater essas bactérias orais que podem causar câncer colorretal, pois matam indiscriminadamente todas as bactérias, inclusive as benéficas. Em vez disso, alguns microbiologistas utilizam bacteriófagos ou moléculas antibacterianas no chá verde para reduzir a Fusobacterium nucleatum. Além do extrato de chá verde, o consumo de vegetais ricos em polifenois, bem como de extratos de chá preto e derivados de catequina encontrados no chá, também pode ajudar a limpar a boca e inibir o Fusobacterium nucleatum no intestino.

O Sr. Wang mencionou que, nos tempos antigos, as pessoas não tinham escovas de dente e tendiam a usar folhas de chá para enxaguar a boca após as refeições para remover a placa dentária, na qual a Fusobacterium nucleatum persiste como uma das bactérias mais comuns. Entretanto, devido à tendência das folhas de chá de deixar manchas, a maioria das pessoas acabou abandonando essa prática.

Como as bactérias orais entram no intestino?

O Sr. Wang afirmou que algumas bactérias orais estão presentes em alimentos mal cozidos, enquanto outras formam placas de biofilme por meio da agregação bacteriana, que pode ser engolida com saliva ou alimentos. Se as bactérias orais formarem aglomerados, elas podem sobreviver à exposição ao ácido estomacal e à motilidade gástrica.

É interessante notar que certos microrganismos desenvolvem resistência ao ácido à medida que passam pelo esôfago para o estômago, o que lhes permite aderir ao revestimento do estômago. Algumas bactérias, como o Lactobacillus reuteri, possuem até mesmo um revestimento externo especializado para proteção. Além disso, enquanto uma pessoa come, o ácido estomacal pode se diluir de pH 1 ou 2 para cerca de pH 5, permitindo que as bactérias evitem o ambiente ácido.

O Sr. Wang enfatizou a importância de comer devagar e mastigar bem os alimentos para evitar que os microrganismos se escondam nos pedaços de alimentos e escapem do ácido estomacal. Além disso, manter uma higiene bucal adequada é fundamental para reduzir a formação de placas de biofilme bacteriano.

Bactérias orais aumentam o risco cardiovascular

O Sr. Wang destacou que o Fusobacterium nucleatum pode entrar na corrente sanguínea por meio de sangramento gengival causado pela escovação, feridas na boca ou doenças periodontais. O butirato, produzido na boca pelo Fusobacterium nucleatum, aumenta o risco de doença periodontal ao aumentar a produção de porfirina, que promove o crescimento bacteriano. Além disso, o butirato serve como nutriente para algumas bactérias e ativa vírus patogênicos, levando à inflamação e até mesmo à morte das células da gengiva.

O Sr. Wang explicou ainda que as bactérias orais podem contribuir para a periodontite. Substâncias inflamatórias e bactérias podem entrar na corrente sanguínea por meio de feridas na gengiva ou lesões na mucosa gastrointestinal. Quando essas substâncias chegam ao fígado, elas desencadeiam a liberação de mais proteínas de resposta de fase aguda, incluindo zimogênios como a protrombina, que estão envolvidos na coagulação do sangue. À medida que a protrombina viaja pela corrente sanguínea, ela pode causar coágulos sanguíneos se encontrar áreas com acúmulo de colesterol ou inflamação nos vasos sanguíneos, resultando, assim, em sintomas associados à doença coronariana.

Portanto, o Sr. Wang aconselha a todos que controlem seus níveis de colesterol e tomem medidas para evitar que microorganismos orais entrem no corpo, pois isso pode levar à inflamação.

Práticas recomendadas de higiene bucal

O Sr. Wang contou sua experiência pessoal de cerca de 20 anos atrás, quando sofreu de uma úlcera estomacal. Naquela época, não havia tratamento padrão para a Helicobacter pylori, então ele tomou antibióticos por quatro semanas. Na terceira semana, sua língua desenvolveu uma camada espessa porque os antibióticos mataram as bactérias, mas permitiram que os fungos, inclusive a Candida albicans, se desenvolvessem, causando um desequilíbrio no microbioma oral.

Ele enfatizou que a chave para a higiene bucal não é necessariamente matar as bactérias, mas escovar fisicamente as superfícies dos dentes e as áreas onde a cobertura da língua tende a se formar.

Portanto, o Sr. Wang delineou as seguintes recomendações para manter a saúde bucal:

– Escove os dentes duas vezes ao dia.

– Use fio dental ou palitos de fio dental após as refeições para ajudar a remover a placa bacteriana ou os restos de alimentos.

– Visite regularmente o dentista para fazer check-ups e limpezas para remover a placa calcificada.

– Evite o uso frequente de enxaguantes bucais.

O Sr. Wang explicou que os enxaguantes bucais contendo flúor podem afetar significativamente o microbioma intestinal, portanto, é melhor não usá-los mais de duas vezes por semana. Os enxaguantes bucais que contêm o antisséptico clorexidina são tóxicos para as bactérias, mas podem perturbar o equilíbrio do microbioma bucal se usados com frequência.

O microbioma bucal desempenha um papel fundamental no ciclo de nitratos e óxido nítrico. Os compostos nitrogenados encontrados em vegetais, como os nitratos, são inicialmente convertidos em nitritos pelas bactérias orais. Em seguida, esses nitritos entram na corrente sanguínea por meio da mucosa e dos vasos sanguíneos. Além disso, o ácido estomacal pode processar ainda mais os nitritos para formar óxido nítrico.

Descobriu-se que o óxido nítrico regula a pressão arterial e a permeabilidade vascular, reduzindo assim o risco de hipertensão e outras doenças cardiovasculares. Ele também inibe a agregação de plaquetas e a adesão de leucócitos. Entretanto, o excesso de óxido nítrico pode inibir a transmissão nervosa e a respiração mitocondrial. O uso frequente de enxaguantes bucais pode reduzir os níveis de óxido nítrico no corpo, o que pode levar ao aumento da pressão arterial e a um maior risco de morte por doença cardíaca isquêmica.