Por Daksha Devnani
Análise de notícias
Os exercícios navais conjuntos entre China, Rússia e Irã chegam em um momento preocupante para os Estados Unidos e seus aliados.
No dia 21 de janeiro, foram realizados os exercícios “Cinturão de Segurança Marítima de 2022” no norte do Oceano Índico, com o objetivo declarado de aumentar a cooperação entre os três países. De acordo com um porta-voz das forças armadas iranianas, esta cooperação visa “apoiar conjuntamente a paz mundial, a segurança marítima e criar uma comunidade marítima com um futuro comum”.
Este é o terceiro desses exercícios navais oficiais conjuntos entre os três países desde 2019. O oficial iraniano, Mostafa Tajoldin, informou que o objetivo desses exercícios é fortalecer a segurança das rotas comerciais internacionais, combater a pirataria e trocar experiências. Algumas das capacidades que foram demonstradas incluem operações de resgate de navios em chamas, resposta a um sequestro de navio e exercícios de artilharia antiaérea.
Essas operações programadas fazem parte de uma tendência mais ampla que busca aumentar as relações econômicas e de segurança entre os três países. No dia 19 de janeiro, o recém-eleito presidente iraniano, Ebrahim Raisi, – um radical antiocidental – se reuniu com o presidente russo, Vladimir Putin, em Moscou. O ato foi seguido por exclamações de aprofundamento do relacionamento entre as duas nações e requisita uma cooperação ainda maior no futuro.
Ao mesmo tempo, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir-Abdollahian, visitou a China na semana passada para discutir um acordo de 25 anos assinado recentemente entre os dois países. Sob o nome de “associação estratégica abrangente”, este acordo visa consolidar ainda mais a florescente associação econômica e política. China e Rússia – potências com armas nucleares e capacidades militares tecnologicamente mais avançadas que o Irã – tiraram vantagem do crescente descontentamento de Teerã com as políticas agressivas do Ocidente.
Estas últimas políticas enfraquecem a influência regional do país do Oriente Médio, levando o Irã a buscar formas alternativas de aumentar sua influência econômica e política. Pequim e Moscou ficaram mais do que felizes em fornecer essa saída para o regime teocrático em Teerã.
O esforço para melhorar as capacidades navais e aumentar a coordenação entre a China e a Rússia não é novo, mas parece estar se intensificando. Há vários meses, em outubro de 2021, a Rússia e a China realizaram sua primeira patrulha naval conjunta no Oceano Pacífico, “Intereção-Maritima-2021”, que incluiu 10 navios russos e 5 chineses, que viajaram pelo Mar do Japão. De acordo com um comunicado do Ministério da Defesa russo, as forças realizaram exercícios de tiro anti-navio e praticaram manobras táticas conjuntas.
Esses eventos surgem em um momento preocupante para o atual ambiente internacional. Em 20 de janeiro, os Estados Unidos contestaram as reivindicações territoriais da China no Mar do Sul da China com uma operação de frete grátis. O USS Benfold navegou ao redor das Ilhas Paracel (conhecidas como Ilhas Xisha na China) na parte noroeste da zona marítima. Pequim afirma que tem o direito de soberania sobre a área e construiu guarnições militares para consolidar sua reivindicação. Os Estados Unidos não aceitam a soberania de nenhum país sobre a área e realizam regularmente esses tipos de exercícios de navegação para desafiar o regime chinês.
Conforme relatado pela mídia estatal russa RT, um porta-voz do Comando de Teatro do Sul do Exército de Libertação Popular da China afirmou que o navio dos EUA “entrou ilegalmente” na área antes de ser “advertido”. O coronel Tian Junli continuou declarando que as ações dos EUA “ameaçavam seriamente a soberania e a segurança da China” e que tal comportamento levaria Washington a “suportar as graves consequências pelos eventos imprevistos”.
Autoridades dos EUA reafirmaram seu compromisso de manter os ditames da lei internacional ao conduzir esse tipo de operação.
As preocupações navais não se limitam apenas às áreas marítimas ao redor do continente asiático. Uma frota de navios anfíbios russos supostamente deixou recentemente o Mar Báltico em trânsito pelo Canal da Mancha. Analistas militares esperam que o destino final desses navios seja o Mar Negro, a fim de reforçar as atuais capacidades navais de Moscou na região.
Isso coincide com o recente movimento de tropas russas em direção à seu vizinho ocidental, Bielorrússia, para realizar grandes exercícios de guerra. Além disso, Moscou acumulou uma força armada considerável em sua fronteira com a Ucrânia. O movimento de uma frota no Mar Negro poderia garantir ostensivamente que o Kremlin cerque a Ucrânia por três lados. Muitos observadores ocidentais se lembram de movimentos semelhantes antes de Moscou anexar a Crimeia em 2014 e o subsequente movimento separatista no oeste de Kiev. Embora a Rússia tenha negado repetidamente tal movimento, muitos temem que Putin possa estar preparando uma repetição de 2014 na tentativa de tomar mais território ucraniano no leste do país.
Se a situação piorar em qualquer uma dessas áreas, é improvável que a Rússia ou a China venham para a outra em busca de assistência militar, pelo menos não abertamente. É difícil imaginar a Rússia arriscando uma guerra em grande escala com os Estados Unidos sobre as reivindicações territoriais da China no Mar do Sul da China; Da mesma forma, é improvável que Pequim envie forças navais para o Mar Negro se a guerra estourar no leste da Ucrânia.
No entanto, a escalada da coordenação naval entre os países demonstra a maior capacidade dos regimes considerados “autoritários” pelo Ocidente de efetivamente coordenar suas atividades e estabelecer relações independentes da hegemonia mundial dos Estados Unidos. Isso lhes permite aumentar a pressão sobre a ordem internacional em seu estado atual, como no caso da ameaça da Rússia à segurança energética europeia e da pressão econômica da China sobre países que relacionam-se com Taiwan.
As reaproximações benéficas da Rússia e da China com outras nações ostracizadas como o Irã não são apenas vantajosas para cada uma delas, mas também ajudam a trazer o mundo multipolar imaginado por Moscou e Pequim um passo mais perto de tornar-se realidade.
As opiniões expressas neste artigo são do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times.
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