Por João Cesar de Melo – Instituto Liberal
O golpe comunista que chamam de “revolução russa” teve como justificativa a interrupção da tirania do czarismo num país predominantemente agrário e pobre. O resultado prático foi a implementação de um regime incomparavelmente mais tirânico, que não apenas permitiu que muito mais pessoas morressem de fome, como fez disso uma política de estado.
Até aí, seria uma tragédia apenas russa. Porém, desde o início os bolcheviques visavam a exportar o comunismo como regime político homogêneo controlado por eles. Ou seja: criar um império comunista.
Começaram pelos países vizinhos, não apenas anexando-os, mas exaurindo todos os recursos deles, indiferentes ao sofrimento das populações, como fizeram na Ucrânia, onde milhões de cidadãos morreram de fome em menos de dois anos.
Talvez a Segunda Guerra Mundial não tivesse sido iniciada se Hitler não tivesse firmado um pacto com Stalin, porque foi este acordo de não-agressão (que trazia consigo a invasão e a divisão da Polônia entre eles) que deu tempo para que os nazistas se lançassem contra outros países sem precisar se preocupar com os russos.
Ao final daquela guerra, ficou clara a intenção de Stalin ao combater Hitler: eliminar, com o apoio dos Estados Unidos, da Inglaterra e da França o maior obstáculo que a expansão do seu império teria na Europa.
Beneficiando-se dos esforços dos aliados em destruir a luftwaffe e as fábricas de armas à oeste, da ajuda financeira e material dos Estados Unidos, dos erros estratégicos de Hitler e do rigoroso inverno russo, Stalin só realmente confrontou as forças nazistas quando elas já estavam bastante exauridas.
Foi assim que os comunistas russos participaram da vitória Aliada, aproveitando-se disso para expandir, quase imediatamente, o império iniciado em 1918.
Logo após o final da guerra, todo o leste europeu foi anexado à União Soviética, trancafiando vários países numa cortina literalmente de ferro. Mas os russos queriam mais.
Enquanto a Europa Ocidental trabalhava para acabar com a fome e reconstruir as cidades devastadas pela guerra, a União Soviética investia a maior parte de seus recursos na produção de armas – à custa da escravidão e da fome de dezenas de milhões de cidadãos – e no projeto de exportação do comunismo para outras partes do mundo.
A partir daí, a desgraça comunista chegou à China, à Coreia do Norte, a Cuba, ao Afeganistão, ao Vietnan, ao Camboja e a diversos países da África.
Como registra o romeno Stefan Baciu em seu livro Cortina de Ferro sobre Cuba, a União Soviética não apenas influenciava e patrocinava golpes comunistas, mas se aproveitava deles para tomar para si os países. Moscou transformou o regime cubano num apêndice soviético, utilizando-o para provocar os Estados Unidos e penetrar na América Latina e na África.
Mesmo nos países que Moscou não conseguiu controlar completamente, sua influência causou grandes problemas a governos e cidadãos. Foram centenas de guerrilhas espalhadas na Ásia, na África e na América Latina. Como registra o livro O Elo Perdido – O Brasil nos arquivos do serviço secreto comunista, de Mauro Kraenski e Vladimir Petrilak, dez anos antes do golpe de 1964 já estavam infiltrados em nosso país centenas de agentes comunistas subordinados à KGB. A grande maioria dos golpes militares ocorridos na América Latina foram reações preventivas aos golpes comunistas que estavam sendo preparados. Praticamente todas as intervenções norte-americanas (Vietnam, como maior exemplo) foram nesse sentido.
A conhecida “revolução iraniana” mostrou claramente o nível de perversidade dos russos: enquanto reprimiam violentamente a religião islâmica no Afeganistão, financiavam os Aiatolás na tomada de poder no Irã.
Em 1989, o bloco soviético começou a ruir, sem que nenhum Tribunal de Nurenberg fosse realizado para punir os criminosos comunistas.
A abertura econômica que veio logo em seguida colocou as maiores empresas russas nas mãos dos antigos membros graúdos do regime soviético. Foram eles que venderam centenas de milhares de armas a preço de banana para diversos grupos terroristas e ditaduras. São esses ex-membros do regime soviético que, financiados pelo governo russo, vêm comprando grandes empresas, áreas de terra e jazidas minerais em países pobres ou em desenvolvimento.
O esforço dos comunistas russos em expandir seu império pode ser identificado numa única sigla: KGB, o serviço secreto soviético. E uma das provas de que os comunistas nunca pagaram por seus crimes é a apavorante realidade de vermos um ex-chefe da KGB na presidência da Rússia, Vladimir Putin, que vem controlando o país há vinte anos.
A Rússia de Putin é um regime fascista mal disfarçado de democracia, sem liberdade política e de imprensa, onde o racismo e a homofobia são praticamente oficiais. Como há um século, isso seria um problema apenas dos russos, se não fosse a compulsão de seu governante em infernizar o resto do mundo.
Desde o ano 2000, a prioridade de Putin é reerguer a Rússia como potência político-militar. Em 2008, influenciou a guerra civil na Geórgia, na qual logo entrou de forma ativa, enviando tropas e capturando território. Ignorando o acordo de paz intermediado pela União Europeia, a Rússia ainda mantém tropas naquele país.
Ainda nos tempos de Hugo Chávez, a Rússia começou a influenciar, financiar e armar o regime socialista na Venezuela.
Em 2011, Putin se posiciona do lado do ditador da Síria contra o levante popular (apoiado pela União Europeia e Estados Unidos) que pedia a democratização do país, em sequência ao que havia acontecido em vários países do Oriente Médio, sob o nome de Primavera Árabe.
Desde então, a Síria vem sendo devastada por uma guerra civil, com o ditador Bashar al-Assad tendo utilizado até armas químicas contra a população. Milhões de sírios encontram-se noutros países na condição de refugiados.
Em 2013, Vladimir Putin influenciou o governo ucraniano a não assinar um acordo de associação com a União Europeia. Em reação a isso, a população foi às ruas protestar. Aproveitando-se da instabilidade política criada por ele mesmo, Putin ordenou que tropas russas invadissem a região ucraniana da Crimeia, onde se encontram até hoje.
Em 2015, Putin começou a influenciar a Turquia a se distanciar da União Europeia e dos Estados Unidos, aliados desde o final da Segunda Guerra Mundial. Conseguiu. Logo o presidente turco Tayyip Erdogan começou a desfazer os laços de amizade com o ocidente e a perseguir os críticos internos, resultando em manifestações populares e numa tentativa de golpe em 2016. O golpe fracassou e Erdogan encontrou a justificativa para se fortalecer como ditador e se aliar à Rússia.
Incorporando perfeitamente o personagem do mensageiro da discórdia, Putin começou a influenciar bilateralmente um conflito entre Turquia e Síria, com a Síria empurrando os curdos para a Turquia e a Turquia reagindo militarmente, recentemente, invadindo parte do território sírio.
Tendo atingido o objetivo de criar um conflito entre os dois países, nas últimas semanas a Rússia decidiu abandonar o apoio ao ditador turco para se concentrar no apoio ao ditador sírio, porque, dessa forma, ele impede que o petróleo do Oriente Médio chegue à Europa por oleodutos, tornando os países europeus ainda mais dependentes do petróleo russo.
Com isso, a Turquia precisará se reaproximar dos Estados Unidos e da Europa num cenário em que ela, Turquia, já se encontra praticamente em guerra contra a Síria, o que teoricamente pode obrigar a OTAN (aliança militar da qual faz parte) a participar. Caso isso aconteça, a Rússia enfim terá a justificativa para fazer o que vem tentando desde o final da Segunda Guerra Mundial: avançar sobre a Europa.
Diante disso, nos lembramos de que a Rússia também influencia, financia e arma o Irã, que redistribui esse apoio entre diversos grupos terroristas noutros países do Oriente Médio e ainda tem bem à sua frente o Estreito de Ormuz, região onde há dois anos provoca grande tensão, com sequestros e ataques a navios de outros países – no ano passado, bombardeou sem qualquer justificativa a maior refinaria de petróleo da Arábia Saudita.
O plano B da megalomania diabólica de Vladimir Putin é promover uma Terceira Guerra Mundial a partir da América do Sul.
Nicolás Maduro está preparando a concessão aos russos da exploração e do refino do petróleo venezuelano. Considerando que o petróleo representa mais de 90% da economia da Venezuela, pode-se considerar que nosso vizinho se tornará propriedade de Moscou, a exemplo do que Cuba e tantos outros foram um dia.
Onde eu quero chegar: a Rússia é um dos principais apoiadores da esquerda brasileira.
A esquerda liderada pelo PT vem plantando a instabilidade política interna enquanto a Rússia prepara o terreno para plantar uma instabilidade política regional. Uma vez dentro da Venezuela, Putin vai provocar um conflito com a Colômbia ou com o Brasil (ou com os dois), forçando a intervenção americana.
Se os Estados Unidos se meterem, haverá guerra, mortes, comoção pública, crise econômica e o ambiente perfeito para a subida ao poder de uma esquerda travestida de pacifista, que assinará acordos de paz com o agressor, transformando-o em amigo e, logo em seguida, em tutor do Brasil.
Se os Estados Unidos não se meterem, Putin vai avançando e avançando sobre outros territórios, tomando países, controlando diretamente populações inteiras até um confronto direto e definitivo com os Estados Unidos ser inevitável.
Ou seja: o governo russo atualmente liderado por um ex-chefe da KGB continua fazendo as mesmas coisas que fazia há cem, setenta, cinquenta anos. A propaganda antiamericana é apenas um artifício para que as pessoas não percebam isso.
Enquanto muitos liberais estão se descabelando porque o atual governo brasileiro não representa o ideal liberal, é isso que acontece no mundo, é isso que ameaça o Brasil.
João Cesar de Melo é arquiteto e artista plástico.
As opiniões expressas neste artigo são de opinião do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times.
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