Quando Glenn encontrou o progressismo pelado

03/11/2020 21:00 Atualizado: 03/11/2020 21:00

Por Pedro Henrique Alves, Senso Incomum

Glenn Greenwald, o jornalista que tomou um sacode do Augusto Nunes na Jovem Pan, foi censurado pelo jornal de extrema-ultra-mega-power-oxente-esquerda que ajudou a fundar, o The Intercept. Estou rindo ― com respeito, é claro ― enquanto tento entender meus sentimentos paradoxais que me induzem a dizer: “Bem feito!” enquanto, ao mesmo tempo, fazem-me compadecer da situação do referido jornalista. Não muitas vezes vi a expressão “a revolução costuma devorar seus próprios filhos” fazer tanto sentido; no entanto, se me permitem, irei realizar um leve ajuste: “a revolução jornalística devora seus próprios fundadores”. E Glenn Greenwald ― o Verdevaldo, para os íntimos ― prova agora o “o puro creme do progressismo verde”.

Para quem não está sabendo: o Verdevaldo, com um louvável espírito de liberdade ― tenho que dar o braço a torcer aqui ―, denunciou em artigo o escândalo de acobertamento midiático das denúncias contra Hunter Biden e seu pai, Joe Biden. Hunter Biden teve vários e-mails e fotos íntimas vazados após burramente deixar um notebook para conserto e jamais voltar para buscá-lo. De cenas de sexo explícito regado a drogas a e-mails trocados com executivos do ramo de gás e petróleo da Ucrânia e China, parte do conteúdo do laptop foi tornada público pelo jornal New York Post. Foi aí então que iniciou o maior esquema ― ou um dos maiores ― de acobertamento midiático dos tempos modernos. Passou a ser proibido falar sobre os vazamentos e conteúdos encontrados no laptop do filho do candidato democrata, isso em quase toda a grande mídia mundial ― mas principalmente na mídia americana.

Tais grandes mídias, unidas ao Facebook e Twitter, num movimento de censura jamais visto naquelas terras, harmonicamente reprimiram a matéria do New York Post e todos os perfis que compartilhavam trechos, citações e até análises sobre a temática. No Twitter, especificamente falando, isso se tornou tão notório e viral que até expoentes da esquerda moderada vieram a público mostrar grande espanto com a repressão deliberada e desavergonhada da rede.

Os referidos e-mails mostraram ser aquela ponta solta no novelo, a ponta que ninguém deveria puxar, mas puxaram. Cada vez que se puxava mais a linha, mais absurdidades e indícios de corrupção iam se revelando; o que o New York Post revelou foi uma hecatombe de imoralidades possivelmente regadas a corrupções sistêmicas no coração do governo Obama.

Sem demora, a CNN e a CBS tentaram amenizar a situação; jornalistas como Leslie Stahl se limitaram a dizer que as evidências não tinham como ser confirmadas e jogou de ombro para qualquer pesquisa mais aprofundada ― pesquisa que é a função natural de um jornalista, diga-se de passagem. Thomas Rid, em um artigo ao The Washington Post, disse: “Devemos tratar os vazamentos de Hunter Biden como se fossem uma operação de inteligência estrangeira ― ainda que provavelmente não sejam”. Tudo isso após o FBI afirmar que “não foi encontrado nenhum indício de desinformação no laptop” de Hunter Biden; o próprio New York Times admitiu não existir “nenhuma evidência que mostre que as informações reveladas” pelo New York Post “sejam oriundas de desinformação russa”.

O possível tráfico de influência de Hunter e Joe Biden era um escândalo que já fedia antes de a podridão ser visível; mas sabe o que começou a feder mais que as revelações e suas imoralidades? A complacência servil e o espírito de meretriz da mídia global.

Apesar das tentativas quase louváveis de censura e descrédito da matéria, os EUA ainda têm fortes mecanismos que garantem a liberdade daqueles que a querem de fato. Matt Taibbi, jornalista com tendências progressistas, mas sincero o suficiente para não engolir o teatro de censuras, escreveu um artigo brilhante ― com farta documentação ― onde ele mostra as evidências do tráfico de influência de Joe e Hunter na troca de um promotor que estava no calcanhar da Burisma, empresa onde Hunter Biden trabalhava. Nesse sentido, mostrando, também, que a pesquisa jornalística poderia ter avançado muito mais sobre a história, caso a imprensa estivesse fazendo seu trabalho ao invés de torcer por Joe contorcendo a realidade.

Era isso que Glenn pretendia criticar em seu texto, pois até ele conseguia enxergar todo o lamaçal de fezes que jazia sob a censura dos jornais americanos e, agora, dos brasileiros também. Segundo o jornalista americano, os editores do site The Intercept não só pediram para ele retirar do texto toda e qualquer ilação críticas contra Joe Biden, o qual ele considera no mínimo suspeito das silhuetas de tráfico de influência, como orientaram a que não publicasse o artigo em nenhum outro meio.

É surreal o que está acontecendo – e digo isso, não tanto pelos possíveis crimes do ex-vice-presidente, e atual candidato, Joe Biden. O maior e real escândalo, na verdade, está na sinistra orquestra midiática em prol da censura; no coro de gados, mugindo todos a um só tempo, a fim de abafar uma história que pode reeleger o inimigo conservador. O corporativismo midiático progressista chegou a um nível bizarro de enviesamento: tenta esconder e suprimir deliberadamente possíveis evidências de um crime de Estado, tudo isso para não deixar o povo americano escolher quem eles não querem ver na Casa Branca; maquia a realidade e zomba de evidências em prol de uma visão política que adota como religião.

Os jornais estão se negando à sua principal função: informar. Se os jornais não servem para informar, resta somente a elegante e utilíssima função de recolher fezes de cachorro no quintal. Civilizacionalmente dizendo, esconder uma informação relevante e que influencia a livre escolha numa eleição é muito mais escandaloso que o próprio tráfico de influência. Moralmente dizendo, temo que os jornais americanos, que escondem as denúncias e os aprofundamentos das evidências contra Hunter e Joe, sejam mais criminosos que os Biden. Isso realmente assusta, tem toda a razão o Verdevaldo em sua revolta; o The Intercept, seguindo a entoada dos demais jornais esquerdistas da grande mídia, resolveu calar!

Por fim, o Verdevaldo deu de cara com o progressismo pelado – nem deu tempo de tapar as vergonhas e disfarçar as pelancas. Sem maquiagens fofinhas, discursos engajados e paletós de salvação mundial, o que sobra à ideologia que quer salvar a humanidade sacrificando seus fetos é tão somente o fato grotesco de uma visão escravizadora, autoritária e abafada. Nesse lado do trem, caro jornalista, não há espaço para autonomia, sinceridade e jornalismo ― o real, não o combinado. O progressismo centraliza, prostitui as liberdades individuais em prol das causas ideológicas da intelligentsia; naturalmente sacrifica no altar da “humanidade” os humanos que ousam não adotar seus dogmas. Algo tão demoníaco que o ateu George Orwell não conseguia bem investigar os pormenores sem sentir náuseas no espírito; aliás, creio que, quando Orwell se viu diante desse progresso nu, chegou até a cogitar a possibilidade de existirem demônios.

Ficam agora os meus sinceros votos para que Glenn entenda a cosmologia desse progressismo mundialista e deixe de endossar as suas causas de proveta. Que fique claro, caro Glenn, no cenário progressista, a censura não passa de uma “necessidade histórica”, uma “tarja virtuosa” colocada em nome do “bem geral”. Você só foi mais uma vítima!

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, ensaísta do Jornal Gazeta do Povo e editor na LVM Editora.

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As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times