Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
O teste de disparo de mísseis proibidos da Coreia do Norte e o envio de tropas para a Ucrânia estão atraindo atenção indesejada para Pequim e arriscando sanções secundárias — um resultado que o Partido Comunista Chinês (PCCh) e Xi Jinping esperam evitar, dada a economia em dificuldades da China.
A recente Cúpula do BRICS em Kazan, na Rússia, destacou as tensões emergentes dentro da aliança antiocidental da China, Rússia, Coreia do Norte e Irã. Durante o evento, Xi notavelmente deixou o líder russo Vladimir Putin esperando sozinho antes de uma sessão de fotos, em frente às bandeiras da Rússia e da China. Esse incidente ocorreu quando Putin pretendia demonstrar resistência às sanções ocidentais ao sediar a cúpula. As ações de Xi pareceram ressaltar a posição dominante da China em seu relacionamento bilateral. Essa demonstração de hierarquia pode estar ligada às preocupações de Pequim com o fortalecimento dos laços entre Pyongyang e Moscou, o que poderia minar a influência do PCCh sobre a Coreia do Norte.
Nos últimos acontecimentos, a Coreia do Norte enviou cerca de 11.000 soldados para a Rússia, sendo que alguns já estão sendo atacados pelas forças ucranianas. O Departamento de Estado dos EUA prevê que essas tropas poderão em breve participar diretamente do conflito na Ucrânia. No início deste ano, a Rússia e a Coreia do Norte aprimoraram suas relações bilaterais, com Pyongyang fornecendo munições para Moscou em acordos que violam um embargo de armas da ONU. Presume-se que a China, por ser a principal apoiadora econômica da Coreia do Norte e da Rússia, seja consultada antes que qualquer uma das nações tome medidas significativas de política externa. No entanto, ainda não se sabe se o PCCh aprovou as vendas de munições da Coreia do Norte para a Rússia ou o subsequente fortalecimento da cooperação militar entre os dois países.
O aprofundamento dos laços da Coreia do Norte com a Rússia parece ser um movimento estratégico para diminuir a dependência da Coreia do Norte em relação à China, reduzindo assim a influência de Pequim sobre Pyongyang. Essa parceria crescente poderia melhorar o programa de armas nucleares da Coreia do Norte, possivelmente por meio do apoio russo ao desenvolvimento de mísseis. Além disso, a Coreia do Norte pode estar buscando compromissos militares russos no caso de um conflito na Península Coreana. O acordo de 2024 Rússia–Coreia do Norte de 2024 sugere que, independentemente da posição da China em relação a esse conflito, a Coreia do Norte pode esperar a assistência militar russa. A Coreia do Norte está obviamente protegendo sua aliança com a China.
Desde a Segunda Guerra Mundial e, principalmente, desde o colapso da União Soviética, a Coreia do Norte não teve outra opção a não ser manter fortes laços com a China. Esse relacionamento permitiu que o PCCh exercesse algum controle sobre o programa de mísseis de Kim Jong Un, embora Pequim não tenha conseguido impedir que a Coreia do Norte adquirisse armas nucleares — um desenvolvimento que até mesmo o PCCh provavelmente via como contrário aos seus interesses. Agora, no entanto, Moscou parece estar oferecendo a Pyongyang um parceiro alternativo, e o crescente alinhamento da Coreia do Norte com a Rússia pode estar criando dores de cabeça para Xi e o PCCh em um momento inconveniente.
Enquanto Xi trabalha para reconstruir os laços com a Europa e os Estados Unidos, as ações da Coreia do Norte estão atraindo uma atenção negativa indesejada, incluindo lembranças da guerra da Ucrânia — um conflito que envolve a Rússia, aliada próxima da China. Com a estagnação da economia chinesa, Xi implementou um estímulo recorde que, segundo a maioria dos especialistas, provavelmente não conseguirá resgatar o crescimento e apenas aumentará a dívida do país. Em meio a esses desafios, Xi está concentrado em atrair mais comércio e investimentos estrangeiros, e não em provocar mais sanções.
Xi está empenhado em promover mais comércio e investimentos estrangeiros, e não em desencadear sanções. Como resultado, a China recentemente adotou uma postura mais cautelosa em seu apoio à Rússia, ao contrário da Coreia do Norte, que parece indiferente às sanções. No final de outubro, a Coreia do Norte testou um míssil de longo alcance, desafiando o Conselho de Segurança da ONU. A Coreia do Norte já está sob extensas sanções e tem pouco a perder, mas Xi e o PCCh têm muito mais em jogo. Embora a Rússia e a Coreia do Norte estejam, em grande parte, dissociadas das economias ocidentais, a China ainda depende muito do comércio e dos investimentos dos Estados Unidos e da União Europeia. Essa dependência foi ressaltada em outubro, quando os Estados Unidos impuseram sanções à China por seu apoio indireto à guerra da Rússia na Ucrânia.
A crescente autonomia da Coreia do Norte está se mostrando uma dor de cabeça estratégica para Pequim, prejudicando os esforços de Xi para estabilizar a economia e a posição global da China. O envolvimento das tropas norte-coreanas na Ucrânia é um momento histórico — seria a primeira vez em mais de 70 anos que norte-coreanos matariam europeus. Embora a Ucrânia não faça parte da OTAN, ela faz parte da Europa, e a perspectiva é preocupante: Dois dos aliados mais próximos da China, a Coreia do Norte e a Rússia, estão agora envolvidos na morte de europeus.
Esse desenvolvimento poderia acelerar as discussões sobre uma “OTAN asiática”, já que as ações da Coreia do Norte podem ser vistas como justificativa para essa coalizão. Historicamente, as nações europeias — com exceção da França e da Grã-Bretanha — têm hesitado em apoiar a militarização liderada pelos EUA no Indo-Pacífico, considerando que sua participação na região é limitada. Entretanto, com uma nação do Indo-Pacífico agora diretamente envolvida no conflito em solo europeu, esse cálculo pode mudar. Para Xi, uma maior militarização europeia no Indo-Pacífico seria profundamente indesejável, especialmente em um momento em que o PCCh está ansioso para evitar sanções adicionais e incentivar o investimento estrangeiro na China.
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