O conto de fadas do multiplicador keynesiano | Opinião

Por Frank Shostak
15/10/2024 20:34 Atualizado: 15/10/2024 20:34
Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.

Muitos assumem incorretamente que o produto total da economia aumenta múltiplas vezes em relação ao aumento nos gastos do governo, consumidores e empresas. Por exemplo, se de cada dólar adicional recebido, as pessoas gastam $0,90 e economizam $0,10, acredita-se que um aumento de $100 milhões nos gastos dos consumidores levaria a um aumento de dez vezes no produto total da economia (ou seja, $1 bilhão). O exemplo a seguir ilustra o raciocínio por trás dessa ideia.

Devido ao aumento de $100 milhões nos gastos dos consumidores, a renda dos varejistas aumenta em $100 milhões. Os varejistas, em resposta a esse aumento de renda, gastam 90% dos $100 milhões (ou seja, aumentam seus gastos em $90 milhões). Os beneficiários desses $90 milhões, por sua vez, gastam 90% desse valor (ou seja, $81 milhões). Em seguida, os receptores desses $81 milhões gastam 90% dessa soma ($72,9 milhões) e assim por diante. A suposição chave aqui é que o gasto de uma pessoa se torna a renda de outra.

Em cada estágio da cadeia de gastos, as pessoas gastam 90% da renda adicional que recebem. Esse processo termina, supostamente, com o produto total sendo $1 bilhão (10 * $100 milhões) maior do que antes do aumento de $100 milhões nos gastos dos consumidores. Quanto mais se gasta de cada dólar, maior o multiplicador; portanto, o impacto dos gastos iniciais no produto total é maior. Por exemplo, se as pessoas mudarem seus hábitos e gastarem 95% de cada dólar, o multiplicador se tornará 20. Se, entretanto, decidirem gastar apenas 80% e economizar 20%, o multiplicador será apenas 5. Isso também conclui que um aumento na poupança de cada dólar adicional enfraquece o multiplicador. Assim, economizar enfraquece o possível efeito de um aumento nos gastos dos consumidores sobre o produto total.

O aumento da poupança impulsiona a economia

Os aumentos na poupança realmente enfraquecem a produção total, como indica o modelo do multiplicador? Como as restrições atuais de consumo, ou retenção de bens ou dinheiro da economia, podem de fato gerar crescimento?

Primeiro, devemos entender que o modelo keynesiano, embora vejamos “estímulo” ocorrer por meio da demanda e do consumo, baseia-se na suposição de que o consumo e os gastos são essenciais para uma maior produção e crescimento. Em essência, o consumo precede e gera a produção. Obviamente, isso seria impossível para Robinson Crusoé, que teve que poupar e investir em bens de capital (por exemplo, ferramentas) para sobreviver além da mera existência fisiológica. Portanto, a poupança necessariamente precede o consumo e o investimento em capital, e é a poupança anterior que possibilita o crescimento econômico.

Os proprietários de bens poderiam decidir, em vez de simplesmente consumir mais, sacrificar para produzir e/ou trocar parte desses bens poupados por ferramentas e máquinas (ou seja, bens de capital) para aumentar a produção de bens de consumo. Ao trocar parte de suas poupanças para investir em capital, eles, na verdade, estão transferindo suas poupanças para indivíduos especializados na fabricação dessas ferramentas e máquinas. A poupança sustenta e permite que esses indivíduos invistam na estrutura de produção (por exemplo, aprimorando a infraestrutura), que, com sorte, será mais produtiva e eficiente. Isso economiza tempo, mão de obra, energia e recursos no futuro, e reduz os preços reais, aumentando assim a riqueza.

Uma vez que a estrutura de capital é mais desenvolvida, isso possibilita o aumento da produção tanto de bens de capital quanto de consumo. Ao contrário do erro popular, o aumento da poupança na verdade expande a produção de bens, em vez de contraí-la. Um simples aumento na demanda por bens de consumo pode realmente resultar no aumento da produção total múltiplas vezes em relação ao aumento da demanda? Para que seja possível acomodar o aumento da demanda por bens, é necessário que poupança e produção ocorram primeiro.

Os indivíduos se envolvem na produção para poder exercer a demanda por outros bens. Segundo David Ricardo: “Ninguém produz sem a intenção de consumir ou vender, e ele nunca vende sem a intenção de comprar algum outro bem, que possa ser imediatamente útil para ele ou que possa contribuir para a produção futura. Ao produzir, ele necessariamente se torna ou o consumidor de seus próprios bens, ou o comprador e consumidor dos bens de outra pessoa.”

O que possibilita a expansão da oferta de bens de consumo é o aumento e o aprimoramento dos bens de capital. O aumento na poupança, por sua vez, possibilita o aumento e o aprimoramento da estrutura de produção. Necessariamente, um aumento no consumo é limitado pelo aumento da produção. A partir disso, podemos inferir que um mero aumento na demanda dos consumidores não causa um aumento na produção total múltiplo ao aumento dessa demanda. O aumento na produção é resultado da poupança, que permite, e não é restringida, pela demanda dos consumidores em si.

Gastos/Investimentos do Governo

Vamos examinar o efeito de um aumento na demanda do governo sobre o produto de uma economia. Esse governo e seus agentes estão artificialmente aumentando a demanda por bens por meio da força, afetando as estruturas de preços e produção. Será que o aumento na demanda desses agentes poderia resultar em um aumento no produto proporcional ao aumento da demanda deles? Pelo contrário, isso empobrecerá a todos. As pessoas serão forçadas a trocar seus bens por nada, contra suas preferências demonstradas. Segundo Mises:

“… é preciso enfatizar o truísmo de que um governo só pode gastar ou investir o que retira de seus cidadãos, e que seu gasto e investimento adicionais reduzem os gastos e investimentos dos cidadãos na mesma medida.”

Conclusão

As ideias de John Maynard Keynes continuam sendo a base intelectual e o manual dos formuladores de políticas econômicas no Federal Reserve e nas instituições governamentais. Essas ideias permeiam o pensamento e os escritos de alguns dos economistas mais influentes em Wall Street e no meio acadêmico. O cerne da filosofia keynesiana é que o que impulsiona a economia é a demanda por bens e o consumo, que podem ser “estimulados” quando necessário. Somos informados de que as recessões econômicas são causadas por subconsumo e demanda insuficiente. No modelo keynesiano, um aumento na demanda e no consumo não apenas eleva o produto total, mas esse produto aumenta por um múltiplo do aumento inicial da demanda.

De Mises.org

 

As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times