O chamado da OTAN para tempos de guerra | Opinião

Por Pacelli Luckwü
30/11/2024 22:21 Atualizado: 30/11/2024 22:22

Análise de notícias

Mudança de paradigma na condução das grandes empresas: uma reflexão estratégica

Nas últimas décadas, o Ocidente, em especial a Europa, viveu sob a premissa de que a paz e a estabilidade eram garantidas. Essa visão moldou políticas econômicas e empresariais centradas na eficiência e na busca incessante por insumos mais baratos e mercados mais lucrativos. No entanto, eventos recentes, como a pandemia de COVID-19 e a invasão russa à Ucrânia, expuseram as vulnerabilidades desse modelo.

Rob Bauer, presidente do Comitê Militar da OTAN, trouxe essa realidade à tona ao exortar líderes empresariais a prepararem suas organizações para um mundo cada vez mais instável e, potencialmente, marcado por conflitos. Em seu alerta, Bauer destacou a necessidade de uma reorientação estratégica, abandonando a ingenuidade que marcou a globalização nas últimas décadas.

A fragilidade revelada pela pandemia

A pandemia de COVID-19 foi o primeiro grande choque a testar a resiliência das cadeias de produção globais. A Alemanha, reconhecida como a locomotiva econômica da Europa, enfrentou enormes dificuldades ao depender de insumos importados de países como a China. Dados do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica mostram que, em 2020, 46% das empresas industriais alemãs relataram interrupções severas em suas cadeias de suprimento. Produtos fundamentais para indústrias automobilística e farmacêutica foram especialmente afetados.

A dependência de um único parceiro comercial expôs a fragilidade de um sistema que priorizava o menor custo em detrimento da segurança. Empresas alemãs tiveram dificuldade em acessar semicondutores, por exemplo, o que retardou a produção de veículos em até 18 meses em alguns casos.

A invasão da Ucrânia e o choque energético

O segundo golpe veio em fevereiro de 2022, quando a invasão russa à Ucrânia gerou uma crise energética sem precedentes na Europa. Países como Alemanha, Itália e Hungria, que dependiam fortemente do gás russo, viram-se em situações críticas. A Alemanha, cuja dependência alcançava 55% do total de gás importado da Rússia antes da guerra, precisou investir bilhões em terminais de GNL (gás natural liquefeito) para diversificar suas fontes de energia.

O impacto dessas escolhas foi profundo. Entre 2021 e 2022, o preço da energia elétrica na Alemanha chegou a triplicar em alguns casos, afetando severamente a indústria pesada e o custo de vida dos cidadãos. Em paralelo, países como a Itália tiveram que racionar gás em indústrias durante os meses de inverno.

A ilusão da globalização sem riscos

Os modelos econômicos que priorizavam eficiência ao extremo agora demonstram suas limitações. Rob Bauer foi enfático em sua mensagem: “Negociar com a Gazprom significa, na prática, negociar com Vladimir Putin. ” Ele também alertou para a dependência das empresas ocidentais de conglomerados chineses, como a Huawei, observando que essas relações estratégicas acabam vulneráveis às agendas políticas de Pequim.

Essa realidade, até então ignorada, trouxe consequências visíveis no cotidiano das populações. Durante a pandemia, países da União Europeia enfrentaram escassez de medicamentos básicos, como antibióticos e analgésicos, em função de interrupções na cadeia de produção vinda da China e da Índia. Em 2023, a Alemanha sofreu com a falta de seringas e insulina, enquanto a França enfrentou uma crise de fornecimento de amoxicilina, um antibiótico amplamente utilizado.

Uma nova lógica para os negócios

O alerta de Bauer reflete uma mudança mais ampla que já está em curso. Grandes empresas começam a repensar suas estratégias, buscando maior resiliência e diversificação. Exemplos incluem a Apple, que tem investido em fábricas na Índia para reduzir sua dependência da China. A Volkswagen, passou a priorizar fornecedores europeus para componentes críticos e, recentemente, fechou uma fábrica sua operada por uma Joint Venture na China, na província de Xinjiang, por violações dos direitos humanos

A transição para um modelo mais estratégico, no entanto, exige custos elevados e desafios logísticos. Países como a Alemanha, que por décadas se beneficiaram de exportações volumosas para a China e energia acessível da Rússia, agora precisam encontrar um novo equilíbrio entre competitividade e segurança.

O novo paradigma global: economia e geopolítica interligadas

Desde a pandemia, ficou claro que o mundo não opera mais sob a lógica de uma globalização sem riscos. Cada decisão empresarial agora carrega implicações geopolíticas profundas. Bauer enfatizou que líderes empresariais devem considerar a segurança de longo prazo como um componente essencial de suas decisões.

O paradigma econômico atual exige estratégias que combinem eficiência com robustez, minimizando vulnerabilidades e priorizando parcerias que garantam estabilidade em tempos de crise.

Reflexão final: o papel das empresas em um mundo volátil

O alerta de Rob Bauer é mais do que um aviso: é um chamado à ação. Governos e empresas precisam abandonar a ingenuidade que dominou os últimos 30 anos e adotar uma abordagem mais estratégica, conectando economia e segurança de forma inteligente.

Em um cenário onde crises globais se tornam cada vez mais frequentes, a resiliência não é apenas uma vantagem competitiva, mas uma questão de sobrevivência.

 

As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times