Por João Luiz Mauad – Instituto Liberal
Os poucos liberais desse país passam anos tentando livrar o liberalismo dessa pecha elitista e vem o ministro liberal e fala que a desvalorização do câmbio pode ser boa para o país, entre outras coisas, porque uma moeda valorizada provoca distorções, como a possibilidade de empregadas domésticas viajarem para a Disney. Até a famigerada política cepalina de Raul Prebisch, da substituição de importações, aplicada no Brasil desde priscas eras e até hoje defendida por inúmeros economistas (ditos) desenvolvimentistas, foi evocada pelo ministro em sua fala ‘heterodoxa’.
Menos mal que o ministro estava, em sua fala, defendendo as virtudes do câmbio flutuante e sinalizando ao mercado que ele continuará assim. Mas havia formas bem mais eficientes e menos problemáticas de fazer isso. Bastava dizer que a taxa de câmbio não é assunto seu, mas do mercado, e que o país precisa aprender a conviver com as flutuações cíclicas do valor da moeda, sem clamar por intervenções do governo toda vez que a taxa flutua de forma mais aguda.
Mas Guedes preferiu o caminho do auto-engano. A tese defendida por ele ontem – e rechaçada por qualquer manual de economia liberal – se baseia na noção ilusória de que um dólar valorizado pode conferir uma vantagem sustentável na promoção das exportações – e que exportar mais e importar menos (e viajar menos) seria a chave para o sucesso econômico. Nada poderia ser mais falso, como demonstram vários exemplos mundo afora.
E Paulo Guedes sabe muito bem disso. Em setembro do ano passado, ao assinar um acordo automotivo com a Argentina, Paulo Guedes disse exatamente o seguinte: “Damos mais um passo na direção das promessas de campanha do governo Bolsonaro. Após décadas de substituição de importações, finalmente decidimos abrir a economia”.
Para milhões de trabalhadores brasileiros, desde pelo menos os anos 70 do século passado, uma moeda eternamente desvalorizada tornou a vida muito mais difícil. Uma moeda mais fraca não apenas impossibilita os mais pobres de viajar para fora, mas também leva a preços mais altos para uma variedade de bens que se destacam nos orçamentos familiares – como roupas, pão, frutas e legumes frescos. Isso afeta especialmente os menos favorecidos. Preços mais altos para os consumidores significam salários reais mais baixos.
Mas não é só. Uma moeda fraca também significa custos de produção mais altos para os produtores. Mais da metade dos bens importados no Brasil não são para consumo, mas para produção e investimento: matérias-primas, insumos intermediários, máquinas e equipamentos. Um real desvalorizado geralmente significa um preço mais alto para insumos cruciais, inclusive os combustíveis, cujos preços são ditados também pela variação do câmbio. Quem paga o preço no final? Os consumidores, claro. Na realidade, a desvalorização do Real reduz o poder de compra de todos, indistintamente.
Tudo isso sem mencionar o estrago financeiro que isso acarreta para as empresas que têm dívidas atreladas à moeda estrangeira, como é o caso da Petrobras, por exemplo.
Até mesmo o incentivo temporário às exportações acarreta problemas para o consumidor. Quando as exportações se tornam muito atrativas, os produtores dão prioridade às vendas externas, tornando seus produtos escassos no mercado interno e, consequentemente, mais caros. Um exemplo disso ocorreu recentemente com a carne.
A depreciação da moeda afeta negativamente os “termos de troca” do país com o resto do mundo. Isso determina, por exemplo, quanto podemos importar da China ou dos EUA para cada dólar que exportamos para eles. Os defensores de uma moeda mais fraca querem que as pessoas acreditem que nos tornamos de alguma forma mais ricos – e o comércio “mais justo” -, se pudermos comprar apenas 100 pares de sapatos da China, em vez de 150, por cada tonelada de carne que nós os vendemos.
De fato, as depreciações cambiais podem proporcionar um impulso de curto prazo para a produção interna, mas esse efeito é rapidamente dissipado pelo aumento dos preços e pelo declínio do consumo, sem impacto a longo prazo nos índices de crescimento do PIB.
As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times
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