Jesus: ‘Será que eles agora sabem o que fazem?’

É mais fácil mudar o critério entre o bem e o mal do que esperar que um comunista não fuzile inocentes

15/10/2020 23:40 Atualizado: 16/10/2020 09:18

Por Marcos Schotgues

É com requintes de crueldade: o homem ousa subverter a palavra divina para legitimar ações como as do diabo.

Um livro didático de escolas profissionalizantes na China ensina ética e direito com, veja só, uma versão reescrita da história bíblica em que Jesus mata a mulher adúltera e se confessa pecador em João 8:3-11. O livro é revisado e distribuído pelo Ministério da Educação da China. A notícia começou a circular dia 22 do mês passado e foi publicada pela UCA News de Hong Kong, tendo sido viralizada e validada por todo o mundo.

Nem Xi Jinping, nem Mao Tsé-Tung, nem qualquer um da miríade de ditadores sanguinários entre seus governos pôde jamais ser chamado de presidente, por jamais ter vencido qualquer eleição válida. Afirmando-se representantes do povo de forma tão convicta, é de se esperar que estivessem dispostos a concorrer transparentemente com quem quer que fosse e aguardar seu pronto retorno ao Zhongnanhai após uma esmagadora surra nas urnas. Jamais farão isso pois entendem a ilegitimidade de sua autoridade

Então, como validar o mais torpe?

Faz me rir: é mais fácil mudar o critério entre o bem e o mal do que esperar que um comunista não fuzile inocentes.

A passagem reescrita declara: “Quando a multidão recuou, Jesus apedrejou a mulher até a morte, dizendo: “Eu também sou um pecador. Mas se a lei só pudesse ser executada por homens sem manchas, a lei estaria morta”. (tradução livre)

A implicação retórica faria um demônio sorrir de chifre a chifre. “Se até Jesus era um pecador e fazia valer a lei… Então não são as falhas morais de nosso Partido Comunista Chinês que servirão de empecilho”. A internet censurada, e um campo de concentração pronto a receber dissidentes se encarregam do resto. Só que Xi Jinping se esqueceu de algo. Ele entende de cadáver, paredão e papelada, mas não entende do Céu e da Terra, que pensa serem seus.

Daí ocorre o seguinte. Como uma Santa Ceia perdendo um concurso de arte, não é a obra que fica queimada. É a cerimônia.

Não é a palavra divina que se profana. São seus detratores e os coniventes. Falando em coniventes, vêm o impensável: o Vaticano está enterrado até a Mitra no episódio aberrante. As luvas episcopais estão manchadas de vinho e a dignidade moral que o PCC joga no lixo desde sua incepção parece ser agora um exemplo a seguir para o Sumo Pontífice, Papa Francisco.

A Civitas Vaticana prepara-se no momento para renovar o acordo que, desde 2018, confere ao regime comunista da China legitimidade na designação de bispos em solo mandarim. A quem recorrer como esperança quando o cúmplice do crime é juri, juiz e fiscal?

Até agora quem apresenta-se no horizonte, voando como um canário azul, é o Secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo em um artigo (e um tweet), estabelecendo no cenário político internacional o mesmo argumento que aqui, mais humildemente, apresento: “O Vaticano põe em risco sua autoridade moral, caso renove o acordo”. Mas a pressão internacional, por hora, não mostra surtir efeito quanto aos direitos humanos no sick man of asia. O Papa, alegando não envolvimento com a disputa eleitoral ianque, recusou um encontro com Pompeo que estava agendado para 1º de outubro. Ao invés, o americano se reuniu com o Cardeal Piero Parolin. Quem sabe se, como em Pequim, não houvessem eleições o problema não ocorreria…

Em tempo, para quem não tem esperança, resta ter fé: acreditar no divino na China não é uma tarefa simples. Os tibetanos e os budistas foram massacrados por isso. Os muçulmanos estão em campos de trabalho escravo, à beira da morte. Os praticantes de Falun Gong têm seus órgãos arrancados e vendidos por fortunas após tortura. Os cristãos, além de participar de um pouquinho de cada modalidade sobrescrita, tem sua liturgia sacra, a fundação que pulsa as veias da civilização ocidental, transformada em carta branca da corrupção moral sino-comunista.

Mas Joseph Zen sumariza de forma irretocável em seu magnum opus “I Will Not Keep Silent”: “Não estão os senhores no Vaticano afirmando que o propósito do acordo é favorecer a evangelização da grande pátria? Permita-os recordarem-se que o poder comunista não é eterno! Se agora prostram-se ao regime, amanhã nossa Igreja não será bem vinda no reerguer de uma nova China”.

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As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times