Por Instituto Liberal
O ator Bruno Gagliasso declarou no Twitter que não existe racismo contra brancos, tendo enfatizado que os negros sofreram perdas irreparáveis no passado por conta da escravidão e do preconceito e ainda sofrem males dos quais os brancos hoje não padecem, sendo exclusividade daqueles que se apresentam com pele escura. Segundo a sua inteligência, não existe racismo ao reverso.
O texto circulou de forma viralizada nas redes sociais, chegando à mídia jornalística, que replicou a informação. Segundo se extrai do texto escrito pelo ator, captado da internet: “Caros amigos brancos, repitam comigo: RACISMO REVERSO NÃO EXISTE. Em nenhuma hipótese, em nenhuma condição, em nenhuma situação”.
O referido ator, ao que tudo indica, manifestou-se favoravelmente ao sistema de contratação de pessoas negras para treinamento pelas Lojas Magazine Luiza. Sua afirmação representou uma réplica a manifestações contrárias à dita atitude da loja ou manifestações que entendem estar induzindo a um certo racismo contra brancos.
Não achei que houve racismo contra brancos, ou que hoje existe racismo contra brancos. Só acredito que ele um dia poderá vir a existir – e é nisso que se baseia este texto, considerando ocorrências passadas com a mesma hybris ideológica e também atuais manifestações de apartidários das luzes.
Existem atitudes comerciais que se repetem, digamos, com a mesma tonalidade evolutiva e iluminada demonstrada pela loja, como aconteceu com o Grupo Boticário, que desistiu de participar da Black Friday por mera desconfiança da origem do termo. Outro achado é o edital de concurso para a magistratura catarinense, o último que ocorreu a partir de 2019, que expressa textualmente que a negativa da comissão do concurso em aceitar a autoafirmação negra do candidato jamais pode ser tida como discriminatória e preconceituosa.
Existem boas intenções que mascaram um certo receio de estar-se praticando alguma ilegalidade ou até mesmo um crime contra os vulneráveis, como se nossas ações não fossem mais balizadas pela razão que temos. Ora, é lógico que a conclusão negativa de exame em candidato negro jamais pode ser interpretada como preconceito e intolerância. No entanto, parece existir a necessidade de deixar isso expresso, a mesma necessidade de se colocarem avisos em vasos sanitários de banheiros masculinos implorando para acertarem o alvo. A lógica já não é mais suficiente, tem que ser avisado.
A intelligentsia, hoje facilmente identificada, principalmente na mídia, por uma classe intelectual que fala em nome de um bem instrumentalizado por uma democracia inclusiva, é aquela mesma que participa de jantares inteligentes, falando coisas que dizem respeito à humanidade e para um bem comum. Um clube, na verdade. Apesar de seu esforço, sua incultura é patente, escancarada. Sua inabilidade para lidar com questões para além do superficial é notável. Estou sendo bonzinho aqui.
O iluminismo nasceu pela necessidade de se buscar fundamentação do conhecimento na razão humana, quando as pessoas passaram a ver a necessidade de pensarem e não mais esperarem ou buscarem tudo em algo divino. Apesar desta marca, por uma felicidade ou infelicidade, dependendo de qual iluminismo se adote (britânico, francês ou americano), é possível traçar um iluminismo à moda brasileira. Deste parece estar contagiado o ator Bruno Gagliasso, que parece querer, aqui no Brasil, como o quiseram na França, enforcar o último rei com as tripas do último padre.
A hybris da esquerda é repetitiva. Ela se repete de tempos em tempos e não poderia ser diferente por aqui, já que natureza humana é natureza humana, tanto que o branco e o cristão, apenas para ficar nestes, já sentem desprezo social por uma certa tentativa de eliminação. Por mais que queiram tocar na natureza humana, ela sempre se revela intocável e apaixonada. Como disse Blaise Pascal, o coração tem razões que a razão desconhece.
É praticamente possível ver que a hybris de quem no passado recente atentou contra direitos humanos de raças tidas como inferiores é a mesma de quem hoje sente a necessidade de compartilhar sentimentos e emoções humanas, nem que se seja para dar uma de bonzinho; mas o que define a hybris não é exatamente essa necessidade de alteridade. É a desmedida invocação do bem, um sentimento de desequilíbrio que culmina com afetação de direitos alheios. É a eliminação, o cancelamento do outro apontado como culpado.
Abro espaço apartado para dizer que, como se costuma culpar os outros e entes abstratos, o iluminismo jamais poderá ser responsabilizado pelo atual estado de coisas da modernidade, já que a paixão, a ira, a arrogância, são inerentes ao humano. Talvez o francês e de uma forma mais que indireta, bem de longe, mas a decisão de sair de um estado de menoridade, última ratio da própria razão, é culpa do próprio homem, como dizia Kant. Ou seja, a mesma coisa quando a tirania tomou conta das mentes passadas e fez do nazismo o que ele foi, do comunismo e do socialismo o que eles ainda são.
Logo, essa eliminação de sujeitos tidos como maus sociais vai de encontro à prudência, o zelo, um cuidado especial quando se deixa ao talante dos próprios seres humanos resolverem as suas pendengas sociais. Não era para ser diferente, já que o Brasil foi influenciado fortemente pelo iluminismo francês, tendo os jacobinos como irmãos de guerra.
Essa razão sempre e sempre invocada pelos sujeitos do bem para fazer um bem coletivo não poderia redundar em coisa diferente da mesma intolerância. Ou seja, os mesmos ingredientes utilizados outrora e ainda hoje, só que sempre para vitimar o próprio sujeito que a invoca. Nunca se referem ao alheio. Essa razão equivale ao pensamento, à concepção de mundo que troca o altiplano das coisas divinas pela autonomia humana. Puro orgulho, confirmado mais uma vez, e o desejo de se tornar um deus substitutivo.
Na França foi diferente dos Estados Unidos e da Inglaterra porque, como se disse, os jacobinos invocaram a razão pura, ela e somente ela, para justificar as mudanças de conquista de felicidade humana. Ou seja, e esse é o cerne do texto, deixar que humanos resolvam seus problemas de convivência foi o mesmo que dar um cheque assinado em branco para a violência e mortes, um título pronto e acabado ao diabo para ser executado. Não deu outra.
Hoje, não é diferente. A mesma natureza humana racional e desmedida, intolerante, é sempre lembrada nestes momentos. Uma hora é Cristo, outra o homem, o rico, a maternidade, a família, o a.C e d.C, enfim. Sempre foi assim, uma relação por assim dizer recíproca entre anjos e demônios, só alterando a lógica dos polos passivo e ativo de vez em quando.
Hoje, como se afirma, o débito histórico é para ser pago aos negros, amanhã nada impedindo que seja para os brancos, e assim sucessivamente, numa inversão de credores e devedores ao infinito.
*Sergio Renato de Mello atua na Defensoria Pública do Estado de Santa Catarina.
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