Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
No início de novembro, o Ministério das Finanças da China lançou uma emissão de títulos de US$2 bilhões em Riad, na Arábia Saudita. A escolha do local, em vez de um mercado financeiro mais conhecido, diz muito sobre o desejo de Pequim de cortejar a Arábia Saudita e talvez um dia suplantar os Estados Unidos como parceiro estratégico do reino rico em petróleo.
A decisão de denominar a emissão em dólares dos EUA em vez de yuans anuncia que Pequim, apesar de suas grandes ambições para o yuan como uma moeda global, reconhece as vantagens globais ainda esmagadoras do dólar.
Pequim sabe muito bem que pode concluir uma transação desse tipo a um custo menor e com maior conveniência em Xangai ou Hong Kong — em dólares ou yuan — do que em Riad. Nesse contexto, a mudança traz importantes considerações econômicas e diplomáticas para a China. Isso aconteceu em Riad inteiramente como um favor à Arábia Saudita, que está tentando construir seus mercados de capital e se tornar um alvo de finanças e investimentos internacionais.
No lado econômico dessa decisão está o petróleo. Apesar de todas as conversas da China sobre energia verde, o petróleo continua sendo essencial para a economia do país e precisa ser importado. A Arábia Saudita é especialmente atraente nesse aspecto porque oferece uma fonte de petróleo mais confiável e mais abundante do que o Irã, por exemplo, e outros lugares também.
Ao mesmo tempo, Pequim quer tirar proveito das tensões entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita, que cresceram durante o governo Biden. Essas tensões estão relacionadas à guerra que os sauditas estavam travando contra os Houthis no Iêmen e, entre outras coisas, às duras acusações americanas sobre a morte de um jornalista saudita.
O Partido Comunista Chinês (PCCh) vê essa tensão como uma forma de afastar o reino da órbita diplomática de Washington e aproximá-lo da órbita de Pequim. De acordo com as outras ambições do PCCh, também parece provável que Pequim tenha o objetivo de longo prazo de substituir Washington como o principal parceiro estratégico de Riad.
Mais revelador ainda nessa questão é o fato de que ele é denominado em dólares americanos. A decisão contrasta fortemente com a insistência anterior de Pequim para que seus acordos comerciais, inclusive com a Arábia Saudita, fossem redigidos em yuan. Essa insistência chinesa reflete os esforços de Pequim para promover o yuan como moeda global e, eventualmente, como substituto do dólar como moeda internacional proeminente e “ativo de reserva” global, como dizem os banqueiros. A emissão de um título denominado em dólares admite que, apesar dessas grandes ambições, a China também precisa de dólares, não para fins comerciais diretos, pois o superávit comercial da China com os Estados Unidos gera um influxo líquido de dólares para a China, mas por causa de sua qualidade incomparável como fonte global de liquidez global.
Por mais que isso deva incomodar o PCCh, esta é a terceira vez nos últimos anos que a China teve que emitir títulos em outras moedas que não o yuan. Não faz muito tempo, Pequim lançou uma emissão de títulos denominados em dólares em Hong Kong. Em setembro, lançou uma emissão de 2 bilhões denominada em euros em Paris, admitindo efetivamente que o euro, além do dólar, oferecia mais liquidez global do que o yuan. Especula-se que todos esses esforços para aumentar a liquidez global decorram do compromisso renovado de Pequim com sua Iniciativa Cinturão e Rota. Seja qual for o objetivo, essas ações são uma admissão implícita de que o yuan ainda tem um longo caminho a percorrer antes de chegar ao ponto desejado por Pequim.
Esse último episódio na Arábia Saudita dificilmente constitui um ponto de apoio sobre o qual as finanças globais ou chinesas se apoiarão. Mas ele revela — ao contrário da retórica de Pequim — que o PCCh sabe como suas ambições de dominação global, que pareciam tão próximas quando a economia e as finanças chinesas estavam melhorando rapidamente, se desvaneceram diante dos problemas econômicos e financeiros do país.
As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times