Alemanha se prepara para o combate

Por Pacelli Luckwü
22/11/2024 10:38 Atualizado: 22/11/2024 10:38

Análise

Desde 1955, a Alemanha possui forças armadas, conhecidas como Bundeswehr, criadas dez anos após o fim da Segunda Guerra Mundial e a rendição incondicional do país aos Aliados. Desde a sua fundação, a Bundeswehr integrou-se à OTAN, tornando-se parte essencial da arquitetura de defesa do Ocidente em plena Guerra Fria.

Com a divisão da Alemanha em 1949, surgiram dois Estados: a Alemanha Ocidental, sob influência dos Estados Unidos, e a Alemanha Oriental, controlada pela União Soviética. No contexto de tensões ideológicas e militares, a Alemanha Ocidental foi autorizada a reconstituir seu exército. Apesar de não retomar a posição de potência militar do início do século XX, o país construiu uma força moderna e profissional, dada a constante ameaça representada por sua contraparte oriental. O território alemão era, afinal, o ponto de maior atrito entre os blocos capitalista e comunista.

Mudança de postura com a reunificação

A queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, marcou o início de uma nova era. As hostilidades entre as duas Alemanhas arrefeceram, e o colapso da União Soviética, em 1991, fortaleceu a sensação de paz duradoura. A Alemanha reunificada redirecionou suas prioridades para reduzir as desigualdades entre o Leste e o Oeste, investindo pesadamente em políticas sociais. Consequentemente, as forças armadas foram relegadas a um papel secundário.

Nos anos 2000, críticas sobre a prontidão da Bundeswehr começaram a surgir. Apesar de equipamentos modernos, as tropas eram consideradas pouco preparadas. Em 2011, o serviço militar obrigatório, que durava nove meses e podia ser substituído por serviços civis em hospitais ou asilos, foi suspenso, refletindo a crença generalizada de que conflitos armados haviam se tornado coisa do passado.

O impacto da invasão da Ucrânia

Essa perspectiva mudou radicalmente com a invasão da Crimeia pela Rússia em 2014 e, ainda mais, com a invasão em larga escala da Ucrânia em 2022. A nova realidade geopolítica despertou a Europa para um mundo mais inseguro, com a Alemanha sendo criticada por sua falta de preparo militar. O período foi marcado por uma sucessão de ministras da Defesa envolvidas em escândalos e pela percepção de que o tema não era tratado com a devida seriedade.

Boris Pistorius e a retomada da prontidão militar

Em 2023, depois de um desses escândalos, o chanceler Olaf Scholz nomeou Boris Pistorius como ministro da Defesa. De perfil pragmático, Pistorius rapidamente conquistou popularidade ao adotar uma abordagem direta e firme. Ele defendeu a necessidade de a Alemanha tornar-se novamente “kriegtüchtig” (preparada para o combate) e defendeu essa posição mesmo depois de uma chuva de críticas. Uma de suas propostas mais marcantes é a introdução de um formulário obrigatório para jovens de 18 anos, onde estes declarariam sua condição física e interesse em servir às forças armadas.

Embora ainda tímidas, as medidas de Pistorius indicam uma mudança de postura significativa. Sua liderança sólida em tempos de incerteza tem alimentado especulações sobre uma possível candidatura à chancelaria, com membros do SPD já o considerando como uma alternativa mais forte que Scholz para as próximas eleições.

Uma figura forte em tempos de crise

A Alemanha atravessa um de seus períodos mais desafiadores desde o pós-guerra. Historicamente marcada pela aversão a líderes carismáticos, reflexo dos traumas do passado recente, o país observa com cautela a ascensão de figuras políticas de perfil forte. Contudo, a popularidade de Pistorius sugere que os alemães estão dispostos a abraçar uma liderança mais assertiva, desde que se mostre capaz de fazer o país atravessar os desafios que enfrentará nos próximos anos.

As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times