Matéria traduzida e adaptada do inglês, publicada pela matriz americana do Epoch Times.
Muitos economistas assumem erroneamente que a atividade econômica é representada com precisão como um fluxo circular de dinheiro. Nesse modelo, o gasto de um indivíduo torna-se parte da renda de outro, e o gasto deste último, por sua vez, integra a renda do primeiro. Partindo dessa premissa, recessões ocorreriam porque indivíduos, por razões psicológicas, decidem reduzir seus gastos e aumentar suas poupanças.
Por exemplo, se algumas pessoas estão menos confiantes em relação ao futuro, elas provavelmente reduzirão seus gastos e “acumularão” (economizarão) mais dinheiro. Assim, ao gastarem menos, agravam a situação financeira de outras pessoas, que também diminuem seus gastos, iniciando um ciclo vicioso. O declínio na confiança de uma pessoa a leva a gastar menos e a “acumular” mais, reduzindo ainda mais a atividade econômica e perpetuando o ciclo.
Com base nesses pressupostos falhos, acredita-se que, para evitar que uma recessão saia do controle, o banco central deve expandir a oferta de dinheiro e reduzir agressivamente as taxas de juros. A ideia é que, com mais dinheiro no bolso, os indivíduos recuperarão a confiança e voltarão a gastar, restabelecendo o “fluxo circular” de dinheiro.
Por outro lado, pode surgir uma situação em que a redução agressiva das taxas de juros pelo banco central chegue a um limite onde não seja mais possível cortá-las. Nesse caso, o banco central não conseguiria reviver a economia, o que é denominado “armadilha da liquidez“. Supostamente, a armadilha da liquidez ocorre quando os indivíduos acreditam que as taxas de juros atingiram o mínimo e que, futuramente, elas subirão, levando a perdas de capital em títulos. Isso faria com que a demanda por dinheiro aumentasse drasticamente, com as pessoas preferindo “acumular” dinheiro em vez de gastá-lo, independentemente do esforço do banco central para expandir a oferta monetária.
A maioria dos especialistas acredita que, quando a política de taxas de juros baixas se torna ineficaz, as autoridades monetárias devem intervir e gastar diretamente. Esse gasto pode ser direcionado a qualquer tipo de projeto. O importante é que grandes quantias de dinheiro sejam injetadas por meio de inflação monetária e expansão de crédito. Espera-se que isso aumente a confiança do consumidor. Com níveis mais altos de confiança, os consumidores provavelmente reduzirão suas poupanças e aumentarão seus gastos, restabelecendo, assim, o “fluxo circular” de dinheiro.
A armadilha da “liquidez” surge devido à falta de gastos do consumidor?
De acordo com algumas ideias populares, o fluxo monetário em constante expansão é fundamental para a prosperidade econômica — o que impulsiona o crescimento econômico seria o gasto. Quando as pessoas gastam mais, isso significa que economizam menos. Por outro lado, quando reduzem seus gastos monetários, acabam economizando mais. Assim, a poupança é vista como algo negativo para a economia — quanto mais as pessoas poupam, pior seria a situação. A “armadilha da liquidez”, segundo essa teoria, surge devido ao excesso de poupança e à falta de gastos.
Contudo, vale notar que as pessoas não pagam, em última análise, com dinheiro, mas com os bens que produzem. O papel principal do dinheiro é servir como meio de troca. Portanto, a demanda por bens é limitada pela produção de bens e não pela quantidade de dinheiro em si. (O dinheiro facilita a troca de bens, mas não os cria).
Sugerir que as pessoas poderiam ter uma demanda ilimitada por dinheiro — levando a uma poupança ilimitada e a uma “armadilha da liquidez” — implicaria que ninguém estaria trocando bens. Isso, obviamente, não é uma proposição realista, especialmente considerando o fato de que as pessoas precisam de bens para sustentar sua existência contínua.
Como meio de troca, o dinheiro apenas auxilia na troca dos bens de um produtor pelos bens de outro. O serviço que o dinheiro presta como meio de troca não está relacionado à produção de bens de consumo como tal. O que permite o aumento desses bens é a produção, a poupança e a acumulação de bens de capital. Com mais bens de capital (isto é, ferramentas e máquinas), aumenta-se a capacidade dos indivíduos de produzir bens em maior quantidade e qualidade de forma mais eficiente.
A chamada “armadilha da liquidez” não surge devido a um grande aumento na demanda por dinheiro por parte dos consumidores, mas como resultado de políticas monetárias expansionistas, que causam danos e distorcem a produção, a poupança e a estrutura de capital.
A “armadilha da liquidez” e a redução da poupança
Enquanto a taxa de crescimento da poupança permanecer positiva, ela pode continuar sustentando as atividades produtivas e de consumo. No entanto, problemas surgem quando, devido a políticas monetárias expansionistas, emerge uma estrutura de produção que consome muito mais bens de produção e de consumo do que é capaz de criar e manter. O consumo excessivo em relação à produção de bens de capital e de consumo leva a uma queda na poupança e no capital. Isso, por sua vez, enfraquece o suporte para os indivíduos empregados nos vários estágios da estrutura de produção, resultando em um declínio econômico.
Quando a economia entra em recessão devido à queda da poupança e do investimento em capital, qualquer tentativa do banco central de reviver a economia por meio de mais inflação falhará. Além de não revitalizar a economia, essas tentativas esgotarão ainda mais a poupança e distorcerão a estrutura de capital, prolongando o declínio econômico.
A redução da poupança genuína e do investimento em capital expõe a natureza equivocada da visão amplamente aceita de que políticas monetárias expansionistas podem impulsionar o crescimento econômico. O fato de que as políticas dos bancos centrais se tornam ineficazes para reativar a economia não está relacionado à “armadilha da liquidez”. Em vez disso, esse declínio ocorre devido às políticas monetárias expansionistas anteriores.
A ineficácia das políticas monetárias inflacionárias em criar a ilusão de que os bancos centrais podem impulsionar o crescimento econômico não tem nada a ver com a “armadilha da liquidez”. Essa ineficácia está sempre presente sempre que as autoridades centrais tentam “crescer a economia”. A única razão pela qual parece que essas políticas “funcionam” é porque, nesse período, a poupança ainda está em expansão.
Liquidez monetária e mercado de ações
Quando a oferta de dinheiro aumenta, ela entra em vários mercados, incluindo o mercado de ações. Sempre que novo dinheiro entra em um mercado específico, isso significa que há uma quantidade maior de dinheiro por unidade de bens nesse mercado. O preço de um bem é a quantidade de dinheiro por bem ou por ativo. Assim, todas as outras condições permanecendo iguais, um aumento na oferta de dinheiro resulta em um aumento nos preços dos bens.
Para uma quantidade fixa de dinheiro, o valor das ações será determinado pela riqueza real produzida e esperada pelas diversas atividades que as ações representam. Com a expansão e melhoria da infraestrutura (isto é, bens de capital), mais riqueza é gerada, resultando em maior crescimento econômico.
No entanto, quando o banco central manipula a oferta de dinheiro, isso pode enganar os investidores. Eles percebem o aumento na oferta de dinheiro como um aumento na riqueza. Isso, por sua vez, os leva a elevar os preços das ações.
Enquanto a poupança continuar se expandindo, as políticas monetárias expansionistas do banco central impulsionam o mercado de ações. Porém, quando a poupança começa a diminuir e/ou o banco central contrai a política monetária, o mercado de ações segue o mesmo caminho. Nesse sentido, a tentativa do banco central de combater a “armadilha da liquidez” prolonga a recessão econômica e o mercado em baixa (bear market) nas ações.
Conclusão
Contrariando o pensamento popular, se a economia dos EUA entrasse em uma suposta “armadilha da liquidez”, a causa não seria um forte aumento na demanda por dinheiro, mas sim as políticas monetárias expansionistas anteriores, que esgotaram a poupança e distorceram a estrutura de produção.
De Mises.org
As opiniões expressas neste artigo são as opiniões do autor e não refletem necessariamente as opiniões do Epoch Times