A China divulgou um número de deflação para julho, mas insistiu oficialmente que não houve deflação e proibiu qualquer analista de dizer isso. O engraçado é ver um número negativo, e ninguém se atreve a dizer “deflação” e sim “crescimento negativo da inflação”, confirmando cabalmente uma perda total da liberdade de expressão sob a ditadura. Alguns comentaristas mais engraçados até inventam a definição de deflação como dois trimestres consecutivos de números negativos. Ao contrário da recessão, não há consenso na literatura de que a deflação seja definida dessa forma.
Ao forçar todos a falar preto no branco, o efeito mais significativo observado é criar uma ilusão de que os números oficiais não são falsos. Um pouco errado não significa verdadeiro. Como os descontos são dados em quase todos os lugares, uma deflação de 0,3% pode não corresponder bem ao verdadeiro sentimento de realidade.
A verdadeira extensão da deflação diz respeito aos estatísticos, mas não aos economistas; o mais importante são suas causas e consequências. Outra questão fundamental é se a deflação é meramente técnica (apenas alguns meses), cíclica (alguns trimestres), secular (alguns anos) ou estrutural (algumas décadas).
Pela experiência dos grandes países (em termos de PIB), a deflação geralmente dura de meses a trimestres devido principalmente à escala maciça de desalavancagem que ocorre, muitas vezes, nos mercados imobiliários ou de dívida. Isso geralmente acaba com a reflação monetária, mas as pré-condições são que os preços dos ativos não sejam mais supervalorizados e os níveis de dívida privada muito reduzidos. Tal processo de normalização de preços e nível de dívida leva tempo, independentemente da força do impulso monetário.
Se o processo não for concluído, o crescimento do investimento e do crédito não retornará e a deflação persistirá.
O Japão experimentou isso desde o início dos anos 1990 até o início dos anos 2010. A flexibilização atrasada e a moeda forte desaceleraram muito os preços dos ativos do Japão e o processo de normalização. O mesmo está acontecendo na China por não permitir cortes profundos de preços, cortes agressivos de juros e forte depreciação.
O gráfico a seguir compara a inflação do Japão e da China, com uma mudança de tempo de duas décadas – mostra uma semelhança incrível. A consequência óbvia dessa deflação secular (longos anos) ou mesmo estrutural (quase para sempre) é o atraso no consumo e no investimento, pois os preços futuros serão mais baratos. Pode-se dizer que se trata de um fenômeno de expectativa, mas não sem fundamentos. Se os preços ainda estiverem supervalorizados ou as dívidas ainda super alavancadas, essa expectativa é racional. E a única saída é deixar os preços e os níveis de dívida caírem. Isso também significa deflação.
Argumentando dessa forma, a deflação parece inevitável; é apenas uma questão de “nítido e curto” ou “leve, mas longo”. O Japão escolheu o último, assim como a China. A contração populacional é outro fator crucial que torna a deflação mais estrutural do que secular. Ainda é cedo para afirmar que o Japão venceu a deflação sem saber o que acontecerá depois da recessão que se avizinha. A situação atual da China pode não ter alcançado a do Japão no início dos anos 2000, já que a maioria dos preços não caiu muito.
Ou seja, somente quando a deflação durar algum tempo haverá a possibilidade de reversão da inflação.
KC Law, Ka Chung
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