Por ISABEL VAN BRUGGEN
O aplicativo de videoconferência Zoom suspendeu temporariamente a conta de um grupo de ativistas chineses com sede nos Estados Unidos, pouco mais de uma semana depois que eles usaram a plataforma para realizar um evento em homenagem às vítimas do massacre na Praça Tiananmen em 1989.
O evento de três horas, organizado em 31 de maio pela China Humanitaria por meio de uma conta paga na plataforma de videoconferência, contou com a participação de mais de 250 pessoas de todo o mundo, relataram os ativistas.
Realizada para marcar o 31º aniversário da repressão de 4 de junho de 1989, a conferência também foi transmitida nas mídias sociais por mais de 4.000 pessoas, muitas das quais eram da China.
A conta foi encerrada na tarde de 7 de junho e várias tentativas de acessá-la novamente não foram bem-sucedidas, informou a China Humanitaria na quarta-feira, observando que o Zoom até agora se recusou a explicar por que a conta foi fechada.
Os protestos pró-democracia de 1989, que foram brutalmente reprimidos pelo regime chinês, são um assunto tabu na China continental. O regime bloqueia ou censura rotineiramente o conteúdo relacionado ao massacre da Praça da Paz Celestial.
O Zoom, que pode ser acessado na China sem uma VPN, confirmou que a conta nos Estados Unidos havia sido suspensa, mas já havia sido reativada. A empresa alegou que a conta foi encerrada porque as pessoas que participaram do evento na China violaram “leis locais”.
“Quando uma reunião é realizada em diferentes países, os participantes desses países são obrigados a cumprir suas respectivas leis locais”, afirmou Zoom por email.
“Nosso objetivo é limitar as medidas que tomamos para aquelas necessárias para cumprir com as leis locais e continuamente rever e melhorar o nosso processo sobre essas questões.”
Não está claro por que o Zoom reativou a conta na quarta-feira.
Full statement of Humanitarian China on #ZOOM account closing after Tiananmen commemoration conference.
Invited speakers were detained or put under house arrests to stop them from this conference, now it seems ZOOM is doing what CCP want to silence us.https://t.co/oU9UAiMSyD— 周锋锁 Fengsuo Zhou (@ZhouFengSuo) June 10, 2020
A China Humanitaria informou em comunicado que a plataforma era essencial para alcançar o público chinês que “lembra e comemora o massacre de Tiananmen durante a pandemia de coronavírus”.
A ação de Zoom levantou preocupações de que a empresa dos EUA, que está por trás do aplicativo de videoconferência, tenha sofrido pressão de Pequim.
“Parece possível que o Zoom tenha agido sob pressão do PCC (Partido Comunista Chinês) para fechar nossa conta. Nesse caso, Zoom é cúmplice em apagar as memórias do massacre de Tiananmen em colaboração com um governo autoritário “, disse o co-fundador da China Humanitaria, Zhou Fengsuo.
A popularidade de Zoom explodiu em meio à pandemia do vírus do PCC, já que milhões de americanos trabalham em casa, mas recentemente ela também é alvo de escrutínio quando se trata de privacidade e segurança.
A empresa americana possui três empresas na China que desenvolvem seu software. Em abril, o grupo de vigilância Citizen Lab descobriu, depois de examinar a criptografia de Zoom, que as chaves para criptografar e descriptografar reuniões são “transmitidas aos servidores em Pequim”.
Por seu lado, o governo de Taiwan proibiu o uso oficial da plataforma em 7 de abril, citando “preocupações com a segurança”, marcando a primeira vez que um governo impunha uma ação formal contra a empresa.
Reports that @zoom_us shuttered the account of a Chinese activist group requires an immediate explanation. Zoom cannot act as "the long arm of the Chinese government," says our CEO @SuzanneNossel. https://t.co/z095jWAOxg
— PEN America (@PENamerica) June 10, 2020