Zoom suspende conta de ativistas chineses nos EUA por homenagear vítimas do massacre da Praça da Paz Celestial

11/06/2020 17:15 Atualizado: 11/06/2020 17:15

Por ISABEL VAN BRUGGEN

O aplicativo de videoconferência Zoom suspendeu temporariamente a conta de um grupo de ativistas chineses com sede nos Estados Unidos, pouco mais de uma semana depois que eles usaram a plataforma para realizar um evento em homenagem às vítimas do massacre na Praça Tiananmen em 1989.

O evento de três horas, organizado em 31 de maio pela China Humanitaria por meio de uma conta paga na plataforma de videoconferência, contou com a participação de mais de 250 pessoas de todo o mundo, relataram os ativistas.

Realizada para marcar o 31º aniversário da repressão de 4 de junho de 1989, a conferência também foi transmitida nas mídias sociais por mais de 4.000 pessoas, muitas das quais eram da China.

A conta foi encerrada na tarde de 7 de junho e várias tentativas de acessá-la novamente não foram bem-sucedidas, informou a China Humanitaria na quarta-feira, observando que o Zoom até agora se recusou a explicar por que a conta foi fechada.

Os protestos pró-democracia de 1989, que foram brutalmente reprimidos pelo regime chinês, são um assunto tabu na China continental. O regime bloqueia ou censura rotineiramente o conteúdo relacionado ao massacre da Praça da Paz Celestial.

O Zoom, que pode ser acessado na China sem uma VPN, confirmou que a conta nos Estados Unidos havia sido suspensa, mas já havia sido reativada. A empresa alegou que a conta foi encerrada porque as pessoas que participaram do evento na China violaram “leis locais”.

“Quando uma reunião é realizada em diferentes países, os participantes desses países são obrigados a cumprir suas respectivas leis locais”, afirmou Zoom por email.

“Nosso objetivo é limitar as medidas que tomamos para aquelas necessárias para cumprir com as leis locais e continuamente rever e melhorar o nosso processo sobre essas questões.”

Não está claro por que o Zoom reativou a conta na quarta-feira.

A China Humanitaria informou em comunicado que a plataforma era essencial para alcançar o público chinês que “lembra e comemora o massacre de Tiananmen durante a pandemia de coronavírus”.

A ação de Zoom levantou preocupações de que a empresa dos EUA, que está por trás do aplicativo de videoconferência, tenha sofrido pressão de Pequim.

“Parece possível que o Zoom tenha agido sob pressão do PCC (Partido Comunista Chinês) para fechar nossa conta. Nesse caso, Zoom é cúmplice em apagar as memórias do massacre de Tiananmen em colaboração com um governo autoritário “, disse o co-fundador da China Humanitaria, Zhou Fengsuo.

A popularidade de Zoom explodiu em meio à pandemia do vírus do PCC, já que milhões de americanos trabalham em casa, mas recentemente ela também é alvo de escrutínio quando se trata de privacidade e segurança.

A empresa americana possui três empresas na China que desenvolvem seu software. Em abril, o grupo de vigilância Citizen Lab descobriu, depois de examinar a criptografia de Zoom, que as chaves para criptografar e descriptografar reuniões são “transmitidas aos servidores em Pequim”.

Por seu lado, o governo de Taiwan proibiu o uso oficial da plataforma em 7 de abril, citando “preocupações com a segurança”, marcando a primeira vez que um governo impunha uma ação formal contra a empresa.

O grupo literário sem fins lucrativos, PEN America, condenou a decisão de Zoom de suspender a conta do grupo.
“O Zoom anuncia a plataforma de escolha para empresas, sistemas escolares e uma grande variedade de organizações que precisam de uma maneira virtual de se comunicar, especialmente em meio ao bloqueio global”, afirmou a CEO do grupo, Suzanne Nossel. “Mas não pode desempenhar esse papel e atuar como o braço direito do governo chinês”.
Frank Fang e Reuters contribuíram para este artigo.