Zelensky se reúne com Biden e Harris para apresentar “plano da vitória”

Um dos pedidos de Zelensky a Biden é autorizar o uso de mísseis americanos de longo alcance

Por Ryan Morgan
26/09/2024 17:57 Atualizado: 26/09/2024 17:57

Os presidentes de Estados Unidos e Ucrânia, Joe Biden e Volodymyr Zelensky, se reuniram na quinta-feira (26) na Casa Branca para coordenar um plano para acelerar a entrega de armas ao país europeu antes que o mandatário americano deixe o cargo, o que ocorrerá em janeiro de 2025.

Os dois governantes fizeram breves comentários a jornalistas no Salão Oval antes da reunião, que ocorreu poucas horas depois que a Casa Branca anunciou um novo pacote de ajuda militar de US$ 8 bilhões para a Ucrânia, incluindo bombas capazes de atingir alvos russos a 130 quilômetros de distância.

“A Rússia não vencerá. A Ucrânia vencerá e continuaremos a apoiá-la em todas as etapas do caminho”, prometeu Biden a Zelensky, que usava seu habitual uniforme militar verde-oliva.

Biden citou detalhes do pacote de ajuda, que contém assistência militar previamente aprovada pelo Congresso americano e será entregue à Ucrânia antes que um novo presidente assuma o cargo, após a eleição de 5 de novembro entre a vice-presidente e candidata pelo Partido Democrata, Kamala Harris, e o ex-presidente e candidato pelo Partido Republicano, Donald Trump.

“Até o final do meu mandato, que será em 20 de janeiro, teremos fortalecido a posição da Ucrânia em futuras negociações”, disse Biden.

A estratégia dos EUA tem sido fortalecer a Ucrânia na guerra contra a Rússia para a possibilidade de negociações futuras, com o objetivo de dar a Kiev uma posição forte e permitir que ela faça o mínimo de concessões possível.

Um dos pedidos de Zelensky a Biden é autorizar o uso de mísseis americanos de longo alcance ou mísseis feitos com componentes americanos para que Kiev possa atacar alvos dentro da Rússia, o que Washington está restringindo por medo de provocar uma escalada com Moscou.

O presidente ucraniano já fez repetidos pedidos para realizar esses ataques de longo alcance, mas o governo Biden permitiu apenas ataques limitados em território russo, visando forças que apoiam diretamente os ataques russos na Ucrânia.

“Hoje discutiremos os detalhes desse plano e como coordenar nossas posições, seu uso e abordagem. Nossas equipes trabalharão juntas para garantir a implementação de nossas futuras medidas”, disse Zelensky.

Em uma entrevista antes da reunião, a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, afirmou que não se espera que Biden faça nenhum anúncio hoje sobre a autorização para a Ucrânia usar mísseis.

Esta é a 11ª reunião entre Biden e Zelensky, e a quinta visita do presidente ucraniano a Washington desde o início da invasão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022.

Após, Zelensky se reuniu com Kamala Harris, com quem fez declarações à imprensa.

“Para estar a salvo, seguro, e próspero, os Estados Unidos precisam continuar a cumprir nosso papel de longa data de liderança global. Precisamos estar ao lado de nossos aliados e parceiros e enfrentar agressores, e precisamos defender ordem, regras e normas internacionais, todas as quais foram violadas na Ucrânia”, disse Harris.

“E é por isso que a luta da Ucrânia importa para o povo da América”, acrescentou.

A vice-presidente disse que um êxito de Putin colocaria os países bálticos e a Polônia, entre outros, em risco, dando impunidade à agressão de outras nações — tanto por Putin, quanto por outros líderes observando os eventos na Ucrânia.

Zelensky disse a repórteres junto a Harris que “é crucial para nós que sejamos plenamente compreensíveis e que trabalhemos em plena coordenação com os Estados Unidos”.

“Essa guerra só pode ser ganha, e paz justa só pode estar mais próxima com os Estados Unidos”, acrescentou.

Nas reuniões, muito antecipadas, esperava-se a apresentação por Zelensky de seu chamado “plano da vitória”—uma proposta sobre como ele espera que a guerra entre Rússia e Ucrânia termine. Zelensky gerou expectativas sobre o plano há semanas.

Detalhes não foram disponibilizados ao público, mas, segundo as falas do presidente ucraniano à imprensa, foram discutidos com Biden e Harris.

Ele disse durante uma coletiva de imprensa em 20 de setembro que partes do plano dependem do apoio de Washington e envolvem uma necessidade de “decisões rápidas” por parte dos Estados Unidos e de outras nações ocidentais que apoiaram a Ucrânia ao longo da guerra.

O chefe de gabinete de Zelensky confirmou que, além das armas de longa distância e a permissão de seu uso, o plano inclui a garantia de segurança com a adesão à OTAN, o que tem sido uma demanda principal de Kiev e um ponto de discórdia para Moscou—além de gerar ceticismo entre alguns aliados ocidentais, incluindo os Estados Unidos.

A reunião planejada de Zelensky com Biden e Harris faz parte de uma visita maior aos Estados Unidos para obter apoio internacional.

Ele falou no Conselho de Segurança das Nações Unidas em 24 de setembro e novamente diante da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, no dia 25, onde denunciou a invasão russa de 2022 e pediu à comunidade internacional que apoie os termos de paz defendidos por Kiev.

Ao se dirigir à Assembleia Geral, Zelensky pediu aos membros da ONU que não pressionem a Ucrânia a aceitar uma “trégua congelada em vez de uma paz real”.

Ele também afirmou que a paz deve incluir garantias de que as forças russas não ameaçarão a indústria nuclear da Ucrânia ou outras partes da rede de energia do país como forma de forçar a capitulação ucraniana.

Além disso, Zelensky disse que a paz deve exigir que a Rússia devolva qualquer ucraniano capturado e retire suas forças das fronteiras internacionalmente reconhecidas da Ucrânia.

Antes da reunião para discutir o plano, Biden recebeu Zelensky e outros líderes mundiais em um evento em 25 de setembro, onde anunciou novos esforços para apoiar a reconstrução da Ucrânia.

Biden disse que esse esforço de reconstrução usaria ativos russos confiscados pelos Estados Unidos e outros atores internacionais desde 2022.

O presidente afirmou que os Estados Unidos e outras nações manterão o controle sobre os bens russos congelados “até que a Rússia encerre sua agressão e pague pelos danos causados”.

Zelensky indicou que pretende apresentar seu plano ao ex-presidente Donald Trump, que, juntamente com Harris, disputa a presidência dos Estados Unidos.

Em seus comentários sobre a guerra na Ucrânia, Trump deu menos ênfase ao fluxo contínuo de armas e financiamento para a Ucrânia, focando mais em negociar um fim rápido para o conflito.

O candidato a vice-presidente de Trump, o senador JD Vance (R-Ohio), disse em um podcast de 12 de setembro que o plano de paz de Trump poderia incluir a criação de uma zona desmilitarizada dentro da Ucrânia, possivelmente ao longo da atual “linha de demarcação” do conflito em andamento.

Vance afirmou que Trump também poderia aceitar um acordo que permitisse à Ucrânia manter sua independência em troca do compromisso de que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) não aceitará o país da Europa Oriental como membro.

O candidato republicano a vice-presidente, senador JD Vance, discursa na Van Andel Arena em Grand Rapids, Michigan, em 20 de julho de 2024. (Madalina Vasiliu/The Epoch Times)

Zelensky respondeu aos comentários de Vance em uma entrevista ao New Yorker, publicada em 22 de setembro.

O presidente ucraniano afirmou que a proposta de Vance era “radical demais” e faria com que a Ucrânia “suportasse os custos de parar a guerra ao ceder seus territórios”.

Alguns republicanos também expressaram preocupação de que a viagem de Zelensky aos Estados Unidos esta semana tenha cruzado uma linha política, especialmente depois que ele apareceu ao lado do governador democrata da Pensilvânia, Josh Shapiro, e outros democratas durante uma visita a uma fábrica de munições na Pensilvânia.

O presidente da Câmara dos Deputados, Mike Johnson (R-La.), enviou uma carta a Zelensky em 25 de setembro, exigindo que ele removesse a embaixadora ucraniana nos Estados Unidos, Oksana Markarova, por politizar a visita à fábrica de munições da Pensilvânia.

“A instalação estava em um estado eleitoralmente disputado, foi liderada por um importante aliado político de Kamala Harris e não incluiu nenhum republicano porque—de propósito—nenhum foi convidado.

“A visita foi claramente um evento de campanha partidária destinado a ajudar os democratas e é claramente uma interferência eleitoral”, escreveu Johnson.

Em 25 de setembro, o presidente do Comitê de Supervisão da Câmara, James Comer (R-Ky.), anunciou que seu comitê também investigaria se o governo Biden-Harris facilitou a visita de Zelensky à Pensilvânia, inclusive transportando-o em uma aeronave militar, para beneficiar a campanha política de Harris.

 

Marcos Schotgues e Agência EFE contribuíram para essa reportagem