Wall Street: água deve começar a ser comercializada no mercado financeiro

11/12/2020 19:07 Atualizado: 11/12/2020 19:07

Por Brehnno Galgane, Terça Livre

Após ser anunciado em setembro deste ano, na última segunda-feira (7) o Wall Street começou a comercializar água como commodity, como ouro ou petróleo, tendo como base o índice Nasdaq Veles California Water.

Considerada um bem comum de domínio público, alguns especialistas dizem que tratar a água como uma commodity negociável coloca um direito humano básico nas mãos de instituições financeiras e investidores, tornando-se, assim, uma medida perigosa.

Ainda assim, é possível outorgar direitos de uso dessa água através de concessões e licenças administrativas (seja para utilizar e para despejar resíduos nela). O que começou a ser cotizado em Wall Street não é a água em si mesma, e sim os direitos de uso.

“Isso sempre funcionou informalmente em todos os lugares do mundo com sistema de irrigação, assim como na Espanha”, diz Gonzalo Delacámara, diretor de Economia da Água no Instituto Imdea e economista que assessora as Nações Unidas, a Comissão Europeia e o Banco Mundial, “uma pessoa A diz a B, neste mês não vou irrigar, te cedo meus direitos em troca de uma compensação”, completou.

Mesmo ocorrendo isso na prática, é incomum a existência de um mercado formal para tratar desse tipo de negociação, que se faz presente principalmente em boa parte do oeste dos EUA.

“Quando se gera um direito de uso e aproveitamento de água, por um lado está o que poderíamos chamar a via do recurso natural, a mais importante, a água que permite manter caudais ecológicos, recarregar aquíferos, abastecer cidades como Las Vegas, irrigar plantações… E, por outro, há uma via que é estritamente financeira: é gerado um título, que se transforma em um ativo financeiro”, diz Delacámara.

Assim, podem existir, por exemplo, agricultores que queiram trocar direitos de uso para ter água para regar suas colheitas, mas também outros atores que queiram ganhar dinheiro com esses ativos financeiros.

Ao contrário dos mercados spot, onde podem ser feitas transações de direitos de água imediatamente, como quem vai a um supermercado e compra maçãs, nos mercados de derivados (opções ou de futuros) estas trocas são a longo prazo.

 

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