Veterano de guerra americano diz que Trump foi enganado sobre Síria

07/04/2017 03:45 Atualizado: 12/04/2017 04:36

Pouco antes do ataque dos Estados Unidos à Síria, um veterano de guerra da Marinha americana usou sua conta no Twitter para dizer que Donald Trump foi enganado por uma ‘falsa bandeira’ sobre a Síria levantada pelo mainstream e pelo chamado “deep State”. Angelo John Gage, que serviu duas vezes no Iraque, postou um vídeo — que chegou a ser recompartilhado pelo WikiLeaks — questionando por que Trump decidiu confiar imediatamente nas mesmas fontes de inteligência que no passado teriam mentiram sobre armas de destruição em massa.

“Eles mentiram sobre seus impostos, mentiram sobre o conluio russo, mentiram sobre o equipamento DNC, mentiram sobre tudo e (…) agora eles estão dizendo a verdade sobre a Síria magicamente só para você”, ironizou. “Você está sendo distraído e enganado — é tão óbvio — quão evidentemente óbvia e ridícula esta narrativa é e quão falsa é”, disse Gage, que acredita que os jihadistas opositores são os prováveis ​​culpados por trás do ataque com gás químico.

“Muitos de nós votaram a favor de você porque você deveria ser o candidato da ‘não guerra’ — Hillary teria nos levado à guerra, você sabe disso — contudo, você tem quatro meses de mandato e quer considerar ação militar?”, acrescentou Gage, que atualmente se dedica a estudos de filosofia, consultorias em programação neurolinguística e ao ativismo político.

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“Você deve conhecer melhor, supõe-se que você seja o mentor estratégico, mas você está caindo na armadilha mais patética que eu já vi. Seja inteligente, faça a coisa certa e coloque a América em primeiro lugar”, concluiu.

O discurso de Angelo Gage está em sintonia com alguns militares reformados e da ativa americanos pré-ameaça de Barack Obama de invasão da Síria em 2013, quando os Estados Unidos estiveram muito próximos de um envolvimento militar. Naquela época, alguns membros publicaram imagens nas mídias sociais prometendo que não agiriam como “força aérea da Al-Qaeda” para ajudar os jihadistas a dominar o país.

“Os mesmos jornalistas que alardearam que Trump seria uma ameaça existencial e hitleriana estão agora exortando-o a atacar unilateralmente a Síria e a Coreia do Norte”, escreveu ontem o media watch Media Lens. Outros perfis alegam que a razão do conflito seria os interesses saudita versus americano num oleoduto que ligaria o Catar à Europa, através da Síria, passando por Arábia Saudita e Turquia; ao passo que os russos estariam interessados num oleoduto Irã-Europa cruzando Iraque e Síria.

Rússia

Num pronunciamento ontem à noite, Donald Trump afirmou não haver dúvidas “de que a Síria usou armas químicas proibidas” e que o ataque foi de “vital interesse de segurança nacional”. O presidente americano disse que os Estados Unidos devem “prevenir e impedir a disseminação e o uso de armas químicas mortais”.

Algumas horas antes do ataque desta quinta-feira, após reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre o caso do ataque com armas químicas, a Rússia fez uma advertência aos EUA declarando que uma ação militar contra a Síria poderia ter “consequências negativas”. “Se houver uma ação militar [contra a Síria], toda a responsabilidade recairá sobre os que tiverem iniciado uma empreitada tão trágica e duvidosa”, proclamou o embaixador russo na ONU, Vladimir Safronkov, na saída da reunião.

Moscou sustenta que o ataque tenha sido causado por um vazamento num depósito de armas químicas de jihadistas anti-Assad, na cidade de Khan Sheikhoun, na provincía de Idlib, bombardeado pelo regime sírio. Damasco nega a utilização deste tipo de arma. Uma investigação da ONU atribuiu ao regime três ataques com gás cloro em 2014 e 2015. A Síria é signatária da Convenção sobre a Proibição de Armas Químicas desde 2013.