Por Anastasia Gubin, Epoch Times
O ex-ministro da Saúde venezuelano José Félix Oletta informou na tarde de segunda-feira (8), no Dia Mundial da Saúde, que a Venezuela se tornou “um grande exportador” de doenças, especialmente a malária, que aumentou em 2.000% , embora também haja HIV e tuberculose, todas elas doenças que requerem assistência médica prolongada.
O médico revelou que houve mais de 5.600 casos de malária exportados recentemente para países vizinhos e o Ministério da Saúde do Chile afirmou ter recebido mais de 1.000 casos de HIV de venezuelanos em 2018, aumentando a taxa de ocorrência no país.
Por sua vez, a epidemia de malária está aumentando. Em relação ao ano 2000, “o aumento da malária é de 1.965%, um número muito difícil de entender, estamos passando de cerca de 23 mil casos para cerca de 630 mil”, disse o Dr. Oletta, que é membro da Rede Defendamos a Epidemiologia, em entrevista realizada pelo programa “Por Donde Vamos” na Union Radio.
Na Colômbia, Oletta explicou que chegaram 1.600 casos de malária e para o Brasil, 4.000 pacientes. Também foram exportados 4 casos para o Equador, 10 para o Peru, 10 para a Argentina e 20 para as ilhas do Caribe, Trinidad e Tobago, acrescentou o especialista.
Em seu relatório de junho de 2018, a Organização Pan-Americana de Saúde, OPAS, também manifestou preocupação com o aumento do número de casos de malária: em 2015 (136 mil), 2016 (240 mil) e 2017 (406.289).
“Este aumento está principalmente ligado à migração de pessoas infectadas das áreas de mineração do estado de Bolívar para outras áreas do país com ecossistemas propensos à malária, escassez ou acessibilidade dos medicamentos antimaláricos”, disse a OPAS.
Em 2018, a OPAS falou de uma “exportação de casos esporádicos para países sem malária, o que lançava um desafio” para a “detecção e prevenção de complicações associadas à doença”. Este ano, o Dr. Oletta fala sobre milhares de casos de malária exportados.
HIV para o Chile
O ministro da Saúde do Chile, Emilio Santelices, em fevereiro de 2019, apresentou os números de novos casos de HIV confirmados no Chile e disse que esse aumento se deveu à chegada de estrangeiros infectados no país.
Entre janeiro e dezembro de 2018, foram registrados 6.948 novos casos de HIV no Chile, confirmados pelo Instituto de Saúde Pública, o que representa 1.132 casos a mais que em 2017, disse Santelices, conforme divulgado por La Tercera.
“Ao desagregar esse número, descobrimos que a maior parte desse aumento é deve-se a estrangeiros, o que mostra uma mudança em nosso perfil epidemiológico, com os chilenos mantendo sua taxa de prevalência nos últimos anos”, explicou o médico.
“Têm chegado estrangeiros com HIV e, portanto, o número de pacientes aumentou. O que nos corresponde como Ministério é focar estratégias complementares e identificar essas populações para pesquisá-las e tratá-las, gerando educação e adesão ao nosso sistema público de saúde, que conta com tratamentos gratuitos e de última geração que não estão disponíveis em outros lugares”, concluiu Santelices.
Tuberculose, aumento inimaginável
De acordo com a OPAS, os casos de tuberculose também aumentaram muito: 2014 (6.063), 2016 (7.816) e 2017 indicam 10.185 casos, uma taxa de incidência de 32,4 por 100 mil habitantes, metade deles no Distrito Capital e outros quatro estados. Os mais afetados são os prisioneiros e os indígenas.
Desde 2017, a prestação de assistência médica gratuita e acesso gratuito aos medicamentos estão afetados.
Em 2018 os casos continuaram aumentando.
Em Monagas, o Hospital Universitário Dr. Manuel Núñez Tovar diagnostica diariamente 18 pessoas com esta doença e apenas 5 delas participam do programa de combate à tuberculose que dura seis meses, disse Mariela Velásquez, chefe do programa ao jornal El Pitazo este mês.
O aumento, diz o especialista, está associado à má alimentação e desnutrição que minam a imunidade natural. “Se não há um sistema imunológico fortalecido, pode-se facilmente contrair a doença ao ter contato direto com alguém que está doente”, disse a representante de saúde.
Alerta de difteria
O número de casos confirmados de difteria em 2018 no continente foi de 1.167; (252 nas 8 semanas anteriores a 24 de março de 2019) e destes, 1.060 casos, (90,83%) são venezuelanos.
Além disso, 150 pacientes com difteria morreram na Venezuela e outros 3 na Colômbia, segundo Alianza Salud.
Migração de médicos
A Federação Médica estimou que aproximadamente 22 mil médicos emigraram do país. “Esse número representa aproximadamente 33% dos 66.138 médicos do país”, diz o documento da OPAS.
Após essa data, a migração em massa de venezuelanos aumentou.
Uma crise que começou anos atrás
Dr. Oletta em sua entrevista alertou que a crise epidemiológica no país se intensificou em diferentes estados e setores, dadas as graves condições em que se encontram os centros de saúde pública.
“Neste momento, o sistema de saúde não fornece os materiais e pessoal necessários para cuidar da população, especialmente contra a malária”, disse ele.
Além da malária, a mortalidade materna, infantil, a difteria e o sarampo também fazem parte da lista de retrocessos no sistema de saúde, segundo Oletta.
Embora a crise do ano passado seja mais notável e especialmente nestes dias com hospitais sem remédios e casas sem água e comida, o relatório da OPAS revela uma deterioração do sistema de saúde venezuelano iniciada anos atrás.
As infecções por HIV aumentaram 24% entre 2010 e 2016.
“O programa nacional de HIV/AIDS relatou que 69.308 dos 79.467 pacientes com HIV registrados (em 2017) para o tratamento anti-retroviral não o estão recebendo. Quinze dos 25 medicamentos anti-retrovirais (ARVs) comprados pelo governo estão fora de estoque há mais de nove meses”, diz o documento.
Um novo relatório de pesquisadores da Human Rights Watch e da Escola de Saúde Pública Bloomberg de Johns Hopkins pede ao chefe da ONU, o secretário-geral Antonio Guterres, para declarar oficialmente que a Venezuela enfrenta uma “complexa crise humanitária”, segundo a Reuters.
Cerca de 2,8 milhões de venezuelanos precisam de assistência médica e não a recebem, de acordo com um relatório interno dos Estados Unidos que foi visto pela Reuters na semana passada.
“Isso inclui cerca de 300 mil pessoas cujas vidas correm risco, porque elas não têm acesso a medicamentos ou tratamentos para doenças como câncer, diabetes e HIV há mais de um ano”, acrescentou o documento.
No entanto, Maduro até recentemente disse que não há crise ou necessidade de ajuda humanitária, culpando as sanções dos Estados Unidos pelos problemas econômicos do país, para fugir às responsabilidades pela corrupção, que desviou o dinheiro dos Ministérios para outros fins.
Em 2016, por exemplo, a mortalidade materna aumentou 65% e a mortalidade infantil aumentou 30% em apenas um ano, segundo um relatório do Ministério da Saúde venezuelano, segundo a Reuters, o que mostra que o copo está transbordando por um problema que surgiu na última década, governada por Chávez e Maduro.
Moraima Hernández, médica que trabalha em Concepción Palacios, uma maternidade da capital venezuelana, disse à Reuters que “a crise que estamos enfrentando é muito profunda”.
“Não podemos aceitar que os pacientes continuem a morrer”. Ela disse que as mulheres grávidas estavam sendo rejeitadas por causa da falta de medicamentos, incluindo antibióticos, esterilizadores e equipamentos.