Por Reuters
CARACAS – Autoridades venezuelanas disseram no domingo que prenderam seis suspeitos de envolvimento nas explosões de drones ontem em uma manifestação liderada pelo presidente Nicolas Maduro, enquanto seus críticos alertavam que o líder socialista usaria o incidente para reprimir os adversários.
Os suspeitos lançaram dois drones carregados de explosivos em uma manifestação ao ar livre realizada por Maduro no centro de Caracas para comemorar a Guarda Nacional, disse o ministro do Interior, Nestor Reverol. Um foi “desviado” pelas forças de segurança, enquanto o segundo caiu sozinho e atingiu um prédio de apartamentos, disse Reverol.
O ataque destaca os desafios de Maduro em manter o controle sobre a nação da OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo -, onde a escassez generalizada de alimentos e remédios tem alimentado a indignação e o desespero em todos os lugares, desde favelas em encostas até quartéis militares.
Imagens da televisão estatal mostraram que Maduro se assustou com o que parecia ser uma explosão durante as filmagens de soldados alinhados em uma avenida quando de repente houve uma dispersão caótica dos participantes, no que parecia ser uma reação a uma segunda explosão.
O presidente disse mais tarde que o ataque, que feriu sete soldados, foi uma tentativa de assassinato.
Um dos suspeitos tinha um mandado de prisão por envolvimento em um ataque de 2017 contra uma base militar que matou duas pessoas, disse Reverol, um incidente que ocorreu após quatro meses de protestos contra o governo.
Um segundo suspeito foi detido durante uma onda de protestos contra Maduro em 2014, mas foi liberado por meio de “benefícios processuais”, disse o ministro, sem oferecer detalhes.
Ele não revelou o nome dos suspeitos.
As detenções sugerem que o ataque não foi uma revolta militar mas pareceu ser um ataque liderado por grupos ligados aos manifestantes anti-Maduro, apelidados de “A Resistência”, que lideraram duas ondas de manifestações violentas que deixaram centenas de mortos.
Essa informação é consistente com a reivindicação da responsabilidade pelo ataque feita pelo sombrio grupo entitulado Movimento Nacional de Soldados de Camiseta, cujo site diz que foi criado em 2014 para reunir diferentes grupos de manifestantes.
A Reuters não confirmou o envolvimento do grupo, que não respondeu aos pedidos de comentários sobre os anúncios de prisão, nem identificou nenhum de seus membros.
“Eu vi o pequeno avião”
A Avenida Bolívar, no centro de Caracas, onde ocorreu o incidente, estava calma no domingo.
Corredores e ciclistas ocupavam duas das pistas tradicionalmente usadas para recreação nos fins de semana. O palco em que Maduro estava foi removido.
Testemunhas disseram que ouviram e sentiram uma explosão no final da tarde, então viram um drone cair do céu e atingir um prédio próximo.
“Ouvi a primeira explosão, foi tão forte que os prédios estremeceram”, disse Mairum Gonzalez, 45 anos, professora de pré-escola. “Eu fui para a varanda e vi o pequeno avião… ele atingiu o prédio e a fumaça começou a sair”.
Duas testemunhas disseram que depois do ocorrido as forças de segurança pararam um Chevrolet preto e prenderam três homens dentro dele.
Soldados da Guarda Nacional venezuelana correm durante um evento em 4 de agosto de 2018 em Caracas, na Venezuela (Reuters)
Mais tarde, as forças de segurança desmontaram o carro e encontraram o que pareciam ser controles remotos, tablets e computadores, disseram os dois, que se identificaram como Andres e Karina, sem dar seus sobrenomes.
Os críticos da oposição acusam Maduro de fabricar ou exagerar os incidentes de segurança para desviar a atenção da hiperinflação e da escassez de produtos ao estilo soviético.
Leopoldo Lopez, ex-prefeito do distrito de Chacao, em Caracas, por exemplo, está em prisão domiciliar por seu papel em protestos de rua em 2014, que Maduro descreveu como uma tentativa de golpe, mas seus adversários insistiram que era uma forma de liberdade de expressão.
“Nós alertamos que o governo está aproveitando este incidente … para criminalizar aqueles que legitimamente e democraticamente se opõem a ele e aprofundar a repressão e as violações sistemáticas dos direitos humanos”, escreveu a coalizão de oposição da Frente Ampla em um comunicado publicado no Twitter.
Os aliados de Maduro afirmam que a oposição tem uma história de envolvimento em conspirações militares, principalmente no golpe de 2002 que derrubou brevemente o líder socialista Hugo Chávez.
“Não tenho dúvidas de que tudo aponta para a direita, a ultra-direita venezuelana”, disse Maduro no sábado à noite. “Máxima punição! E não haverá perdão”.
Maduro, que coloca a culpa dos problemas do país sobre a “guerra econômica” liderada por adversários durante o período de seu governo de cinco anos, muitas vezes anunciou ter frustrado conspirações militares contra ele que, segundo ele, são apoiadas por Washington.
O conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, John Bolton, disse à Fox News em uma entrevista no domingo que os Estados Unidos não estavam envolvidos na explosão.
Por Brian Ellsworth e Vivian Sequera