Venezuela interrompe conferência de secretário da OEA com oposição

21/03/2017 19:18 Atualizado: 21/03/2017 19:18

A representante do governo da Venezuela interrompeu nesta segunda-feira (20) uma coletiva de imprensa do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, com esposas de opositores detidos, acusando-as de proselitismo político no organismo regional.

“Viemos para protestar energicamente contra esta conferência de imprensa. Sr. Almagro sabe que esta é uma violação de todo o regimento da organização, não pode fazer atos de proselitismo”, disse a embaixadora interina Carmen Velásquez pouco antes da conferência.

Velásquez leu uma carta que a Venezuela apresentou ao Conselho Permanente da OEA que acusa o secretário-geral de realizar uma “provocativa campanha político midiática contra o governo legítimo e constitucional da Venezuela”.

“Ao denunciar estes fatos, solicitamos ao presidente do Conselho Permanente que se iniciem as consultas com os Estados membros a fim de zelar pela observância das normas que regem o funcionamento da Secretaria-Geral”, acrescentou a diplomata venezuelana.

“Caminho certo”

Após a interrupção, o secretário Almagro afirmou que atitudes como a da embaixadora venezuelana confirmam que “estamos no caminho certo”.

Ele explicou que sua conduta não possui nada pessoal, mas “institucional e profissional” e se guia pelos princípios jurídicos interamericanos da Carta Democrática da OEA e da Convenção Interamericana. “Temos a responsabilidade de resgatar a democracia no continente”, sublinhou.

Almagro ressaltou que o relatório apresentado “não foi refutado por ninguém” e disse que a intervenção da diplomata venezuelana o tem “convalescido ainda mais profundamente que esse esquema de perseguição que sofrem os venezuelanos e venezuelanas: os seguem em todas as partes, inclusive aqui nos escritórios da OEA”.

Ele acrescentou que o relatório ao Conselho Permanente da organização sobre a Venezuela não é persecutório ou pejorativo nem objetiva criar problemas, pelo contrário, disse, é um relatório construtivo que visa a encontrar soluções específicas a problemas específicos do país latino-americano.

“É um procedimento absolutamente construtivo, com base nas responsabilidades institucionais que tem a Venezuela com o sistema interamericano e com a aplicação de sua própria Constituição”, destacou Almagro.

“Se alguém vai se irritar por ter de aplicar a sua própria Constituição, respeitar a Assembleia Nacional, libertar os presos políticos, garantir condições para eleições livres e transparentes; então esse mundo, ao contrário, possui outros problemas… que essa ditadura tentará resolver da melhor maneira… De uma ditadura se sai por eleições… (Assim) foi no Uruguai, no Chile, na Argentina, no Brasil, na Espanha, de ditaduras se sai por eleições, com novas eleições abrindo possibilidade de direitos para todas as pessoas”, frisou o secretário-geral da OEA.

De una dictadura se sale con elecciones libres #Venezuela https://t.co/0YGxLzLAwK pic.twitter.com/kZ12mN930S — Luis Almagro (@Almagro_OEA2015) March 20, 2017

Patricia de Ceballos

Patricia de Ceballos, prefeita do município de San Cristóbal, Táchira, e esposa do prefeito deposto e preso da mesma cidade, Daniel Ceballos, disse que veio à OEA como a esposa de um homem que, no domingo (19), completou três anos encarcerado injustamente: “sem razão, sem julgamento e que, depois de três anos, está no mesmo lugar, em zero”, sem uma sentença, sem provas.

Lilian Tintori

Lilian Tintori, esposa do político opositor preso Leopoldo López, também da Vontade Popular, e ativista de direitos humanos que recentemente foi expulsa do Equador, disse que sua presença e a de seus colegas ativistas na OEA visou a ratificar o relatório da OEA, porque cada um dos fatos compilados é exatamente o que está acontecendo em seu país.

“Apoiamos o relatório e apoiamos a implementação da Carta Democrática à Venezuela. É urgente… Temos tentado todas as formas”, declarou, destacando as recomendações do relatório de Almagro, por eleições este ano e liberdade para os presos políticos e, claro, abertura humanitária e que se permita as eleições, “porque todos nós queremos votar e queremos ter direitos na Venezuela”.

Tintori disse aos países da OEA que o diálogo fracassou, que tudo o que fez “foi legitimar a ditadura de Nicolás Maduro”, declaração reiterada à Voz da América após a celetiva.

Hoje nós dizer com responsabilidade de países membros da @OEA_oficial que o diálogo na Venezuela falhou. pic.twitter.com/lOhCeqdLRw — Lilian Tintori (@liliantintori) 20 de março de 2017

A coletiva de imprensa se segue à publicação na terça-feira passada (14) do relatório de Luis Almagro instando pela aplicação da Carta Democrática Interamericana e pela suspensão da Venezuela da OEA caso o país não realize eleições gerais em breve.