A agência de inteligência interna de Israel, o Shin Bet, prendeu nesta segunda-feira (04) um oficial militar como o quinto suspeito no caso de vazamentos de documentos de inteligência das Forças de Defesa de Israel (FDI) para o gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e para a imprensa estrangeira, segundo informou o jornal local The Times of Israel.
O caso ganhou destaque na imprensa israelense por conta do suposto envolvimento do gabinete do primeiro-ministro na divulgação desses documentos, a fim de moldar a opinião pública em Israel sobre o tratamento dos reféns e, com isso, o curso da guerra.
No domingo, a Justiça do país suspendeu a ordem de silêncio sobre a prisão de outro suspeito, Eli Feldstein, que trabalhou como porta-voz do gabinete de Netanyahu. Também revelou que os outros três detidos são membros da segurança israelense.
O tribunal que cuida do caso considerou que a divulgação desses documentos pode ter representado um perigo para os interesses de segurança de Israel, assim como para a libertação dos 97 reféns que continuam na Faixa de Gaza desde que foram sequestrados por membros do grupo terrorista palestino Hamas em 7 de outubro de 2023.
Os vazamentos foram das FDI para o gabinete de Netanyahu e de lá para os jornais internacionais The Jewish Chronicle e Bild, que publicaram artigos se referindo aos documentos no início de setembro, de acordo com o jornal israelense Haaretz.
A publicação coincidiu com uma semana turbulenta na política interna após a descoberta, em 1º de setembro, dos corpos de seis reféns israelenses na Faixa de Gaza, cujas autópsias mostraram que eles haviam sido mortos poucas horas antes de serem encontrados.
As mortes dos reféns também coincidiram com a aprovação pelo gabinete de segurança israelense de novas exigências para negociações com o Hamas sobre um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza.
O evento causou enorme agitação social e levou a uma semana de protestos com a participação de milhares de pessoas.
Em 2 de setembro, Netanyahu deu uma entrevista coletiva na qual mostrou um documento atribuído ao Hamas, segundo o qual o grupo terrorista poderia estar tentando retirar os reféns pelo Corredor Filadélfia (fronteira de Gaza com o Egito) e depois levá-los para o Irã.
Nos dias seguintes, tanto The Jewish Chronicle quanto o Bild publicaram artigos sobre o assunto, citando documentos do grupo terrorista.
O primeiro referiu-se ao plano mencionado por Netanyahu na entrevista, e o segundo se referiu à estratégia do Hamas de pressão psicológica sobre as famílias dos reféns.
Pouco tempo depois, o próprio primeiro-ministro reagiu ao texto do Bild criticando as famílias que estão se manifestando contra seu governo e exigindo que ele chegue a um acordo com o Hamas para conseguiu o retorno dos reféns para casa, acusando-as de cair “na armadilha do Hamas” para “gerar divisão” em Israel.
As FDI foram forçadas a responder aos vazamentos assegurando que o documento citado pelo Bild continha as recomendações escritas de um comandante do Hamas de médio escalão – e não de seu líder, Yahya Sinwar, como o jornal insinuou – e determinou que sua divulgação “constituía uma ofensa grave” que seria investigada.
O tumulto com esses meios de comunicação estrangeiros também levou os rivais políticos de Netanyahu a acusá-lo de ter participado dos vazamentos para se beneficiar deles e atrasar o acordo de cessar-fogo em Gaza.
“Se Netanyahu não sabia que seus colaboradores mais próximos estavam roubando documentos, operando espiões dentro do Exército, falsificando documentos, expondo fontes de inteligência e passando documentos secretos para jornais estrangeiros para impedir o acordo, o que ele sabe?”, escreveu o líder opositor Yair Lapid na rede social X (ex-Twitter).