Até o momento, o Vaticano não confirmou oficialmente a posição do Papa Francisco sobre seu apoio e envolvimento com o evento.
Durante meses, uma prestigiada conferência sobre o combate ao tráfico internacional de órgãos e ao turismo de transplantes foi planejada na Pontifícia Academia das Ciências do Vaticano. Peritos no campo estavam presentes, e o Papa Francisco, ao que parece, havia sido agendado para dizer algumas palavras.
Mas depois de uma tempestade de controvérsias irromper sobre a participação de um polêmico cirurgião chinês de transplantes e seu colega, com dezenas de manchetes inoportunas na imprensa internacional, o Papa parece não ter comparecido ao evento, de acordo com um participante ao Epoch Times.
O Papa Francisco deve ter cancelado sua presença “aparentemente devido à controvérsia sobre a participação chinesa”, escreveu o Dr. Jacob Lavee, presidente da ‘Israel Transplantation Society’ e participante, em um e-mail ao jornal.
Não há um anúncio oficial de que o Papa tenha cancelado sua participação, mas o Rome Reports, uma televisão independente especializada em cobrir o Papa e o Vaticano, indica que ele tinha originalmente se programado para comparecer.
Defensores dos direitos humanos e alguns católicos proeminentes se opuseram à decisão da Pontifícia Academia das Ciências do Vaticano de convidar o Dr. Huang Jiefu, porta-voz oficial do regime chinês para o transplante de órgãos, e escreveram aos organizadores da conferência e à mídia.
No dia em que falaram na conferência, em 7 de fevereiro, o Dr. Huang e seu colega, o Dr. Wang Haibo, fizeram o que alguns participantes consideraram ser uma defesa pouco convincente da reforma do transplante de órgãos na China.
A China tinha se comprometido anteriormente a cessar o uso de órgãos retirados de prisioneiros executados a partir de janeiro de 2015, no entanto esta promessa, entre outras, continuam sem cumprimento.
“Estou plenamente consciente da especulação sobre a minha participação na cúpula”, disse Huang à conferência, citando “preocupações constantes sobre as atividades de transplante” do regime, de acordo com a Associated Press (AP).
Antes da cúpula do Vaticano, pesquisadores de colheita de órgãos na China e defensores de direitos humanos haviam instado os organizadores da cúpula a barrarem Huang Jiefu devido ao seu envolvimento com o que os pesquisadores descreveram como a colheita sistemática de órgãos de prisioneiros de consciência. Eles também pediram que o Vaticano convide pesquisadores contratados para a cúpula para uma discussão equilibrada.
Três principais pesquisadores – o ex-deputado canadense David Kilgour, o advogado canadense David Matas e o jornalista norte-americano Ethan Gutmann – afirmam que o regime chinês vem retirando à força os órgãos de prisioneiros uigures, tibetanos, cristãos e, majoritariamente, de praticantes do Falun Gong. O fato é de conhecimento público desde o início dos anos 2000. A maioria dos órgãos vêm de praticantes do Falun Gong, um grupo alvo de dura perseguição, dizem os pesquisadores.
O bispo Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler da Pontifícia Academia das Ciências do Vaticano, rejeitou os protestos contra Huang Jiefu, dizendo que a cúpula do Vaticano era um “exercício acadêmico e não uma repetição de afirmações políticas contenciosas”, em resposta por e-mail a Wendy Rogers, uma bioética australiana. Os organizadores também impediram a cobertura televisiva da apresentação chinesa.
“Estariam eles realizando transplantes ilegais de órgãos na China? Não podemos dizer “, disse Dom Sorondo. “Mas queremos fortalecer o movimento pela mudança”, disse ele à AP.
A cúpula, acidentalmente ou não, ilustra o fato do Vaticano estar buscando estabelecer melhores laços com Pequim.
Durante as apresentações, Huang Jiefu e Wang Haibo defenderam o regime chinês com provas e explicações que alguns médicos presentes disseram não encontrar convincentes, despertando um tenso intercâmbio de participantes na cúpula.
Huang preparou apenas duas páginas, uma mostrando um aumento em doadores vivos e cadáveres nos últimos anos, e a outra mostrando os esforços do regime para reprimir a atividade ilegal de transplantes. Além disso, Wang argumentou que era simplesmente impossível para o regime policiar todas as atividades de transplante no país, uma vez que há “1 milhão de centros médicos e 3 milhões de médicos licenciados operando no país”, segundo à AP. Eles também propuseram que a Organização Mundial da Saúde (OMS) comece uma força-tarefa global para combater as atividades ilegais de transplante de órgãos.
“O Vaticano estava prestes a iniciar uma aproximação com Pequim – uma marcha que terminaria com a extinção moral total do Vaticano”, escreveu o jornalista americano de investigação Ethan Gutmann, pesquisador da colheita de órgãos, em uma nota.
“Em vez disso, o Vaticano deu um breve passo em falso – ou talvez tenha tido um leve tropeço – graças à cobertura da imprensa que deu voz a valentes políticos e médicos especialistas da ‘End Organ Pillaging’ e DAFOH”, acrescentou, referindo-se a Doutores Contra a Colheita de Órgãos Forçados, uma ONG baseada em Washington DC, EUA.
As observações de Huang e Wang no Vaticano também não resistiram ao escrutínio, diz Torsten Trey, diretor executivo da DAFOH.
“Você não pode refutar uma acusação de dezenas de anos de colheita de órgãos forçados de centenas de milhares praticantes de Falun Gong e outros prisioneiros de consciência com dois slides”, disse ele.
A defesa do sistema chinês realizada pelo médico Wang Haibo, com o argumento de que os funcionários não podem realmente regular toda a atividade de transplante “acaba por justificar as preocupações internacionais: eles não podem garantir que a colheita forçada de órgãos tenha terminado”.
Ele enfatizou a necessidade de “uma inspeção internacional muito profunda e independente”.
Trey descreveu o desafio do Dr. Danovitch e do Dr. Lavee aos médicos chineses como “louváveis”, e que “deveria servir de exemplo para todos os médicos”.
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