Por Paul Adams
No último século, as elites dominantes passaram a ver as nações — com suas fronteiras, tradições e governos separados — como fontes de conflito e guerra.
Anteriormente, liberais e progressistas modernos, desde John Stuart Mill até Lênin, incluindo Woodrow Wilson, criticaram as entidades imperiais ou supranacionais (até Wilson defender a Liga das Nações). Eles apoiavam o direito das nações à autodeterminação.
Então, as nações foram condenadas como sendo fontes de conflito, irracionalidade, preconceito e guerra. Era necessário apoiar entidades supranacionais que subjugassem os povos e sua soberania em nome da paz e da prosperidade.
Depois do Iluminismo, criar impérios baseados em valores e leis universais parecia um modo racional de impor a razão e a paz em um mundo caótico de nações com suas inúmeras tradições, superstições, leis e tendências bélicas.
Mas dos três impérios europeus pós-Iluminismo que pretendiam subordinar as nações a um governo comum baseado em valores universais — o Napoleônico, o da Rússia Comunista e o da União Europeia (UE) — somente este último sobreviveu e se expandiu até o final do século XX.
No entanto, no momento atual, a confiança em tais entidades e ambições começou a se deteriorar. O ceticismo cresceu em relação a esse novo tipo de regime imperialista dos burocratas.
Ainda há aqueles, como o presidente francês Emmanuel Macron, que denunciam o nacionalismo (no caso dele, dando uma rude lição sobre o assunto ao presidente dos Estados Unidos e ao presidente do Brasil) e que cantam louvores à UE. No entanto, a confiança de Macron em si mesmo foi questionada, dado que seu próprio regime está enfrentando uma crise de revoltas em massa nas ruas de Paris e seu índice de aprovação pública afundou sob o presidente Donald Trump.
Fracasso e revolta
Ao mesmo tempo em que os britânicos tentam libertar-se das garras tenazes da UE, muitas outras nações lutam para reivindicar seus direitos.
Buscando recuperar o controle de suas vidas, economias e fronteiras, um número crescente de países da UE, especialmente os da Europa Oriental, indicam que não assinarão o Pacto de Migração da ONU em Marrocos. A Áustria, atual presidente da UE, se opôs a esse pacto que a UE apoia.
Enquanto isso, a UE demonstra sua incapacidade de fazer as coisas que lhe deram sua razão de ser. Liderada pela Alemanha, tentou resolver os problemas econômicos e migratórios por meio de um controle estrito e central da moeda, bem como das fronteiras abertas. Mas até mesmo a chanceler alemã, Angela Merkel, renunciou à sua própria política de multiculturalismo por ser um “fracasso total”, depois de ter acolhido orgulhosamente milhões de pessoas de outras culturas e línguas.
O “déficit democrático” da UE — o isolamento de seus burocratas governantes do controle e da responsabilidade democráticos — tornou-se mais mortificante quando seus supervisores impuseram sua vontade às nações. Suas decisões se mostraram desastrosas em diversas áreas e países tão diversos quanto a Grécia e a Finlândia. A substituição da moeda nacional por um euro único (com 9 dos 28 países membros fora da zona do euro) foi uma tentativa política de integrar nações muito diferentes dentro da UE.
Ao aderir a um modelo em que o poder dominante da UE, a Alemanha, insiste contra todas as experiências e conselhos econômicos, a UE causou grandes prejuízos às economias europeias e antagonizou milhões de cidadãos. Por exemplo, o controle das taxas de juros e o valor da moeda compartilhada do Banco Central Europeu (BCE) impediram a Finlândia de administrar sua economia para sair da crise que começou em 2008.
Como explica um artigo do New Yorker de 2016, “graças ao euro, o BCE controla essas coisas [valor da moeda e taxas de juros] e também estabelece metas para evitar qualquer outro tipo de estímulo por meio de gastos deficitários. A Finlândia tem uma força de trabalho diligente e bem-educada, com conhecimento em tecnologia, pouca corrupção, baixos níveis de endividamento estatal e nenhuma oligarquia nacional — em outras palavras, [não concorre com] nenhum dos fatores que às vezes são vistos como fonte de problemas nas economias do sul da Europa. Mesmo assim, a economia finlandesa se contraiu em 8%, mais do que durante a Grande Depressão”.
Seu crescimento tem sido fraco desde então. Assim resume o artigo sobre a situação da UE: “Ao criar uma moeda única sem as instituições para sustentá-la, a UE acabou obtendo baixo crescimento, alto desemprego e insatisfação popular”.
“Massa sem alma”
O pensamento subjacente de desenvolvimentos supranacionais como a UE foi falho desde o início. Ela errou ao culpar uma ordem independente de Estados-nações pelos horrores daquele período sangrento. Enquanto a Primeira Guerra Mundial foi uma luta por impérios e entre impérios, a Segunda Guerra Mundial foi uma luta para estabelecer o Terceiro Reich, ou seja, um império alemão que sucedeu o Sacro Império Romano estabelecido por Carlo Magno e o curto Império Alemão liderado pela Prússia (1871-1918).
Os impérios pós-iluministas de Napoleão e da União Soviética não eram nacionalistas ideológicos, mas universalistas. Eles se esforçaram para estabelecer uma ordem imperial de nações sob um comando unificado com valores e leis universais. A guerra surgiu não da existência de nações independentes, mas da rivalidade entre os impérios e o impulso de subjugar todos sob um comando e visão comuns.
A paz e a prosperidade — não a guerra — eram o objetivo, mas para ser alcançado por meio da submissão, de uma lei uniforme e da subjugação das nações. A UE é um projeto imperial nesse sentido.
Alguns dos líderes do século XX indicaram o fracasso de entidades supranacionais, impérios em desenvolvimento, e apontaram precisamente o que lhes faltava em comparação com as nações. A grande primeira-ministra britânica Margaret Thatcher previu que uma Europa unificada se tornaria “uma massa sem alma, materialista, sem idealismo”.
As entidades transnacionais careciam de “legitimidade”, argumentou o general De Gaulle, o grande líder da França. Elas não tinham a profundidade histórica e cultural das nações. Elas não tinham os laços de lealdade mútua que une as nações. Elas tornaram as pessoas incapazes de se defender contra os tecnocratas que dominam essas instituições.
Como disse Julian Jackson, biógrafo de De Gaulle, “sua intuição de que um projeto europeu construído por tecnocratas teria dificuldade em criar um sentido duradouro de destino comum e identidade coletiva parece mais convincente do que há 30 anos”.
Paul Adams é professor emérito de trabalho social na Universidade do Havaí e foi professor e vice-reitor de assuntos acadêmicos na Case Western Reserve University. É co-autor de “A justiça social não é o que você pensa que é” e escreveu extensamente sobre políticas de assistência social e ética profissional e virtudes
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