Mais de mil cidadãos da União Europeia (UE) entraram com uma ação coletiva contra a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Eles questionam tanto possíveis irregularidades no processo de compra das vacinas contra a COVID-19 quanto a falta de avaliação adequada da sua eficácia antes da distribuição obrigatória à população.
A informação foi divulgada no sábado (7) pelo ativista belga Frederic Baldan, especializado em relações UE-China, que lidera a ação.
Segundo Baldan, embora Bruxelas tenha adotado medidas rigorosas contra as pessoas que se recusaram a se vacinar, há evidências de que os imunizantes aprovados pela UE “não foram suficientemente testados” no combate à pandemia.
“Isso prova que a Comissão Europeia violou os direitos dos cidadãos desde o começo”, afirmou Baldan.
Entre os autores da ação estão membros de organizações não governamentais e organizações profissionais, como sindicatos de pilotos de avião, além de autoridades húngaras e polonesas.
Audiências suspensas
Baldan explicou que um tribunal em Liège, na Bélgica, não conseguiu analisar as acusações contra von der Leyen e, na sexta-feira (6), adiou as audiências de forma indefinida.
O Ministério Público Europeu contestou a competência da justiça belga para decidir sobre o caso, argumentando que von der Leyen tem imunidade por seu cargo e que as acusações contra ela estão relacionadas às suas funções profissionais.
Em julho, o Tribunal de Justiça da União Europeia apontou falhas na aquisição das vacinas contra a COVID-19 pela Comissão Europeia, liderada por von der Leyen. O tribunal determinou que a presidente impediu o Parlamento Europeu de acessar documentos sobre contratos de compra que totalizaram € 2,7 bilhões (aproximadamente R$ 17,28 bilhões).
As suspeitas de conflito de interesse e influência na aquisição dos imunizantes vieram à tona em 2021, quando o The New York Times revelou que von der Leyen trocou mensagens de texto e ligações com o CEO da Pfizer, Albert Bourla, para discutir o maior acordo de compra de vacinas da história.
Conforme a matéria, o valor da negociação com a Pfizer teria sido de € 35 bilhões (aproximadamente R$ 225,1 bilhões) para a compra de 1,8 bilhão de doses da vacina.
Von der Leyen foi convocada a divulgar o conteúdo de suas mensagens com Bourla, mas a Comissão Europeia se recusou a atender ao pedido. O escândalo ficou conhecido como “Pfizergate”.
Os imunizantes e os bilhões de euros
A Comissão Europeia assumiu a responsabilidade pela compra e distribuição das vacinas contra a COVID-19 para os 27 países do bloco, por meio de um esquema de aquisição conjunta.
O investimento total ultrapassou € 20 bilhões em doses de vacinas. No entanto, muitas dessas doses ficaram sem uso, principalmente devido à diminuição da demanda. O jornal Politico revelou que centenas de milhões de doses não foram aplicadas, gerando um custo estimado de € 4 bilhões (equivalente a R$ 25,6 bilhões) para os contribuintes da UE.