O chefe de gabinete do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky solicitou nesta terça-feira (14) que o Brasil atue como mediador em negociações com a Rússia para repatriar cerca de 20 mil crianças e adolescentes ucranianos. O apelo de Andrii Yermak foi feito durante uma coletiva de imprensa em Kiev.
Segundo Yermak, essas crianças foram sequestradas de territórios invadidos pela Rússia desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, e submetidas a adoções forçadas em famílias russas.
Yermak destacou que o Brasil pode desempenhar um papel fundamental para pressionar a Rússia a devolver as crianças e aumentar a conscientização internacional sobre o tema.
O pedido ocorre em um momento em que as relações entre Brasil e Ucrânia estão fragilizadas, uma vez que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem evitado encontros com Zelensky e priorizado o diálogo com autoridades russas.
Traga as Crianças de Volta
A iniciativa de repatriar os menores é parte do projeto Bring Kids Back (Traga as Crianças de Volta, em tradução livre), liderado pelo governo ucraniano. O objetivo é localizar e resgatar as crianças, além de documentar os crimes de guerra cometidos pelo regime de Vladimir Putin.
Yermak explicou que o processo de localização das crianças é complexo, pois “suas identidades são trocadas no ato de adoção por famílias russas”.
Segundo ele, o apoio de países como o Brasil é crucial para o sucesso da iniciativa. “As pessoas do Brasil não foram à Ucrânia, mas sabem da nossa tragédia e estamos muito gratos por isso”, afirmou Yermak durante a coletiva.
Denúncias de russificação e adoções forçadas
As crianças deportadas fazem parte de uma política russa conhecida como “russificação”, que busca consolidar a ocupação de territórios invadidos por meio da substituição da população local por cidadãos russos.
O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu mandados de prisão contra Vladimir Putin e Maria Lvova-Belova, comissária russa para os direitos das crianças, acusando-os de envolvimento direto no sequestro e adoção forçada de menores ucranianos.
Yermak destacou que o plano de Zelensky busca não apenas o resgate das crianças, mas também a conscientização internacional sobre esses crimes de guerra. Ele afirmou que o processo de localização e resgate conta com o apoio de países parceiros e organizações internacionais.
Relação distante entre Brasil e Ucrânia
Durante a coletiva, Yermak lamentou a falta de aproximação entre Lula e Zelensky. “Entendemos que seja uma escolha de seu país. Agora, se não temos uma relação de alto nível que gostaríamos e que queremos, é necessário investir em uma relação alternativa, seja com o parlamento, a mídia brasileira e sociedade civil”, disse Yermak.
O ucraniano também criticou a ausência de Zelensky na Cúpula do G20 realizada no Brasil em 2023, enquanto outros países não membros do grupo foram convidados. Além disso, alertou que um eventual convite ao presidente russo para a próxima reunião do Brics, sob presidência brasileira, seria um “péssimo recado” à comunidade internacional.
