Trump quer criar força espacial. Especialistas militares concordam

Rússia e China descobriram o potencial inovador dos satélites como ferramentas de guerra durante a Guerra do Golfo

15/03/2018 22:12 Atualizado: 15/03/2018 22:12

Por Ivan Pentchoukov, Epoch Times

O presidente Donald Trump sugeriu a criação de um novo ramo militar dedicado à guerra espacial, durante um discurso em 14 de março na Califórnia diante de membros do serviço militar.

Embora a ideia do presidente seja uma novidade em um discurso de alto nível da política norte-americana, os principais especialistas das forças armadas têm alertado há muito tempo que o espaço é uma fronteira militar. Relatórios de inteligência sobre a Rússia e a China revelam que esses países estão desenvolvendo lasers que poderiam atingir satélites espaciais; a revelação causou a preocupação entre os altos postos militares, e também no Congresso, de que os adversários de outros países estejam perseguindo a tecnologia espacial para ameaçar os Estados Unidos.

“Eles têm fabricado armas, testado armas, produzido armas para funcionar no espaço a partir da terra, armas laser, e não fizeram questão de manter segredo”, disse o General John Hyten, chefe do Comando Estratégico dos Estados Unidos em dezembro do ano passado, de acordo com a CNN.

“Eles estão desenvolvendo essas capacidades para desafiar os Estados Unidos, desafiar nossos aliados e alterar o equilíbrio de poder no mundo”, acrescentou Hyten. “Não podemos deixar isso acontecer.”

“Minha nova estratégia nacional para o espaço reconhece que o espaço é um domínio de guerra, assim como a terra, o ar e o mar”, disse o presidente. “Podemos ter até mesmo uma força espacial.”

“Eu falei: talvez precisemos de uma nova força. Vamos chamá-la de Força Espacial”, acrescentou ele, mas não estava falando sério. Mas então ele disse: “que ótima ideia! Talvez tenhamos que fazer isso. Pode acontecer. Essa poderia ser a notícia do momento”.

Presidente Donald Trump se dirige às tropas na Estação Aérea do Corpo de Fuzileiros Navais de Miramar em 13 de março de 2018, em San Diego, Califórnia (Sandy Huffaker/Getty Images)
Presidente Donald Trump se dirige às tropas na Estação Aérea do Corpo de Fuzileiros Navais de Miramar em 13 de março de 2018, em San Diego, Califórnia (Sandy Huffaker/Getty Images)

Rússia e China descobriram o potencial inovador de usar satélites como ferramentas de guerra durante a Guerra do Golfo em 1991, quando os Estados Unidos desferiram um golpe esmagador usando a vigilância feita através de satélites. Desde então, de acordo com Hyten, eles têm procurado maneiras de passar os Estados Unidos através da vantagem espacial em um possível conflito.

Mas a missão crucial dos satélites é a defesa contra mísseis.

“Cada míssil que sai do planeta é visto primeiro por uma das unidades de alerta de mísseis aéreos”, disse Hyten, explicando que os satélites “não são fáceis de defender.”

O deputado Mike Rogers (Republicano do Alabama) aprofundou as preocupações de Hyten.

“A maioria das pessoas não pensa no fato de que: o ponto de partida para detectar um lançamento da Coreia do Norte, contra o qual possamos ativar nossos radares para começar a rastreá-lo, apontar para eles os nossos interceptadores e chegar lá a tempo, é um satélite”, disse Rogers para a CNN. “Não podemos deixar que o satélite fique cego por 10 ou 15 minutos, depois disso seria tarde demais.”

Há uma certa complexidade quando se trata de conflitos no espaço, principalmente porque não há regras de comprometimento estabelecidas.

“Provavelmente agora é o momento em que, como país, nós comecemos a falar sobre isso”, disse Heather Wilson, porta-voz da Força Aérea, acrescentando que, no caso de um ataque a um satélite norte-americano, o exército precisa de uma política que “considere o ato hostil.”

Chefe do Comando do Pacífico norte-americano, Almirante Harry Harris (à frente) responde a perguntas de um jornalista durante uma entrevista com a imprensa, junto com o chefe do Comando dos 94 Exércitos dos Estados Unidos e o comandante da Brigada de Defesa do Exército, General Sean Gainey (esq.), o Tenente-General Samuel A. Greaves, o diretor da Agência de Defesa de Mísseis dos EUA (2º à esq.), o General John Hyten, chefe do Comando Estratégico dos EUA (3º à esq.), as forças dos Estados Unidos na Coreia, Comandante Geral Vincent Brooks (2º à dir.) e o vice-comandante da força combinada da Coreia do Sul-EUA, comandante Kim Byeong-Joo (der), em frente a duas estações de lançamento PAC-3 na base aérea de Osan em Pyeongtaek, na Coreia do Sul, em 22 de agosto de 2017 (crédito de Lee Jin-Man-pool/Getty Images)
Chefe do Comando do Pacífico norte-americano, Almirante Harry Harris (à frente) responde a perguntas de um jornalista durante uma entrevista com a imprensa, junto com o chefe do Comando dos 94 Exércitos dos Estados Unidos e o comandante da Brigada de Defesa do Exército, General Sean Gainey (esq.), o Tenente-General Samuel A. Greaves, o diretor da Agência de Defesa de Mísseis dos EUA (2º à esq.), o General John Hyten, chefe do Comando Estratégico dos EUA (3º à esq.), as forças dos Estados Unidos na Coreia, Comandante Geral Vincent Brooks (2º à dir.) e o vice-comandante da força combinada da Coreia do Sul-EUA, comandante Kim Byeong-Joo (der), em frente a duas estações de lançamento PAC-3 na base aérea de Osan em Pyeongtaek, na Coreia do Sul, em 22 de agosto de 2017 (crédito de Lee Jin-Man-pool/Getty Images)

A Força Aérea já tem um Comando Espacial, mas os operadores de satélites têm sido considerados por muito tempo como pessoal de apoio técnico para os comandantes de guerra. No futuro, os operadores vão assumir um papel cada vez mais central, disse o General de Divisão Joseph Guastella Jr., diretor de operações integradas do ar, espaço, ciberespaço e inteligência, vigilância e operações de reconhecimento, no Comando Espacial da Força Aérea.

Em comparação com os pilotos de combate que treinam em simuladores com ambientes de batalha, os sistemas de treinamento para operadores de satélites foram projetados para emular um ambiente benigno. Para contornar esta brecha, a Força Aérea solicitou fundos nos orçamentos de 2018 e 2019 para sistemas que simulam um controvertido ambiente espacial, segundo a Space.com.

“Estamos no campo de batalha”, disse Guastella em uma reunião durante café da manhã no Instituto Mitchell em Capitol Hill na semana passada. “Estamos no meio de uma mudança cultural rumo a uma mentalidade de guerra.”

Possuir uma tecnologia espacial que domine os adversários pode servir como elemento de disuasão semelhante à postura nuclear dos Estados Unidos, de acordo com o vice almirante da Marinha, Charles A. Richard.

“A melhor maneira de evitar uma guerra é estar preparado para ela, e vamos nos assegurar de que todos saibam que estaremos preparados para lutar e vencer guerras em todos os domínios, incluindo o espaço”, disse Richard em março do ano passado, de acordo com a revista National Defense.