A Coreia do Norte é um regime sustentado em grande parte por meio de empreendimentos criminosos, desde escravidão até negócios ilegais de armas, com uma economia carnívora agora reduzida a roer ossos devido às sanções internacionais.
Um vislumbre do tamanho do problema vem dos recentes discursos de Ano Novo do ditador norte-coreano Kim Jong-un, quando ele mencionou seus recentes avanços nucleares apenas 42 vezes em sete discursos em comparação com 120 menções sobre a economia.
Claramente, seu público se preocupa mais com arroz e sapatos do que com mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) que carregam ogivas nucleares.
Kim Jong-un está enfrentando uma nova geração de norte-coreanos que foram amplamente expostos à mídia sul-coreana, familiarizados com os estilos de vida que são negados a todos exceto a elite na Coreia do Norte. Eles exigem padrões de vida mais elevados, mais liberdade de mercado e maior acesso a produtos comuns como telefones celulares e programas de televisão que ainda são considerados um luxo no isolado reino.
Os discursos de Kim Jong-un enfatizaram a necessidade de desenvolvimento econômico em todos os setores. Mas esse crescimento enfrenta um impedimento importante, o estrangulamento das sanções.
A suposta sinalização de um ramo de oliveira de Kim Jong-un em direção à Coreia do Sul, uma rodada de negociações destinadas a considerar a participação da Coreia do Norte nos próximos Jogos Olímpicos de Inverno na Coreia do Sul, é quase certamente uma nova oportunidade para fazer pedidos de redução das sanções ou de ajuda bilateral direta.
A Coreia do Sul sempre forneceu dinheiro e comida à Coreia do Norte, um esforço para amenizar as relações que alguns analistas culparam por ajudar a sustentar o regime comunista do Norte.
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Mas com o Norte agora brandindo um cartão de negociação nuclear, é mais importante do que nunca que os Estados Unidos e a Coreia do Sul deixem algo claro, de acordo com um acadêmico. Qualquer esforço para negociar com Kim Jong-un precisa reconhecer que a Coreia do Norte é um empreendimento criminoso.
Para lidar com Kim Jong-un efetivamente, as nações devem lembrar que Kim é descrito com precisão como um gângster. Sua fraqueza mais crítica é o dinheiro e como ele o obtém, escreve Robert Huish, um professor-associado em estudos de desenvolvimento internacional na Universidade Dalhousie, no Canadá.
“Veja-o como um bandido. E, como qualquer gângster, entenda como ele ganha dinheiro e o que realmente o assusta.”
Kim Jong-un está desesperado por dinheiro, escreve Huish num artigo recém-publicado pelo The Conversation.
O regime de Kim é isolado e precisa de recursos para seus programas nucleares e de mísseis. E, ao contrário dos governos autênticos, o regime norte-coreano recorrerá a qualquer meio para obter o que quer.
“Kim adquire armas por via marítima, e ele paga por elas com narcóticos, ciberataques e criptomoeda. Mestres contrabandistas, os navios da Coreia do Norte usam bandeiras de conveniência, empresas-fantasma processam os fundos e outros navios que entram em águas norte-coreanas desativam enganosamente seus identificadores de transmissão”, escreve Huish.
O regime de Kim Jong-un usa contrabando, contrafação/falsificação, fraudes de seguros e vendas de armas. Ele produz narcóticos, tem um comércio prolífico de trabalho forçado e conduz ciberataques regularmente, todos esses esforços para conseguir fundos líquidos que possam ser usados para itens essenciais importados, como componentes de ponta para mísseis e itens de luxo utilizados para manter a elite dominante no lado do regime.
Mas os esforços para cortar os fundos da Coreia do Norte evoluíram sob a gestão Trump e agora estão alcançando às entidades que coordenam as atividades ilícitas de Kim Jong-un, nomeadamente, seus bancos e operadores marítimos dos quais ele depende.
Esse desenvolvimento, diz Huish, deixa Kim Jong-un com menos opções, embora seja necessário mais trabalho.
Em breve, o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, e a ministra canadense das relações exteriores, Chrystia Freeland, farão uma reunião dos antigos aliados que lutaram contra a Coreia do Norte há 65 anos.
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Em 16 de janeiro, os Estados Unidos e o Canadá convidarão as nações que enviaram tropas para a Guerra da Coreia sob o Comando das Nações Unidas (CONU) para se reunirem em Vancouver, no Canadá. Essa combinação de nações inclui a Nova Zelândia, França, Grécia e várias outras. O Japão e a Coreia do Sul, embora não sejam parte do CONU, serão os principais participantes nas próximas negociações.
As sanções estratégicas colocaram Kim Jong-un numa posição difícil, mas, se elas devem cumprir seu objetivo, elas devem se estender a todos aqueles que fazem negócios com e financiam o regime.
Com reportagens de que inclusive os soldados comuns do regime estão tendo dificuldade para obter comida, Kim Jong-un pode estar mais perto do ponto de ruptura do que muitos acreditam.