Por Paul Huang, Epoch Times
O assessor comercial do presidente Donald Trump, Peter Navarro, conhecido por apoiar uma visão linha dura das relações dos Estados Unidos com a China quanto ao comércio e outras questões, irá exercer maior influência sobre a administração após a saída de outro assessor econômico de alto nível que favorecia uma abordagem conciliadora com a China.
A renúncia de Gary Cohn, ocorrida em 6 de março, que foi diretor do Conselho Econômico Nacional desde o início da Presidência de Trump, foi causada pelo confronto de Cohn com o presidente no Salão Oval devido à decisão de Trump de impor tarifas elevadas sobre o aço e alumínio.
Gary Cohn, ex-banqueiro da Goldman Sachs e defensor do sistema de comércio existente, há mais de um ano está em disputa com Navarro, uma das figuras mais proeminentes da administração que impulsiona a promessa de campanha de Trump de reformular as relações comerciais dos Estados com a China.
A saída de Gary Cohn pode ser sinal de um dramático retorno para Navarro, que durante alguns meses no ano passado, quase desapareceu da cena pública, quando o Conselho Nacional de Comércio que ele administrava foi dissolvido e absorvido pelo escritório de Gary Cohn em abril. A medida foi interpretada por muitos como um sinal de que a facção de Gary Cohn havia vencido a luta interna da Casa Branca.
Pelo menos duas fontes que mantiveram contato próximo com Navarro no ano passado contaram ao Epoch Times que ele estava sob muito estresse, mas que persistia em neutralizar aqueles na administração que “lucraram fazendo negócios com a China”. Com Gary Cohn fora de cena, analistas apontam agora que Peter Navarro terá um papel mais importante na configuração das políticas da administração.
Opiniões sobre a China
O que mudou o equilíbrio de poder dentro do Salão Oval foi provavelmente não só a disputa sobre as tarifas sobre o aço e o alumínio, mas também o fato de que a nova Estratégia de Segurança Nacional da Casa Branca, que especificamente identificou a China como um Rival estratégico, ecoou com a visão de longa data de Peter Navarro de que a China estava se expandindo não só militarmente, mas também economicamente para desafiar os Estados Unidos.
Peter Navarro, economista formado em Harvard e ex-professor da Universidade da Califórnia-Irvine, foi apelidado por alguns como “o economista mais impopular” devido às suas opiniões pouco ortodoxas sobre a China. Antes de ingressar na campanha de Trump em 2016, Navarro era reconhecido por seus livros “Death by China” (coautor Greg Autry) e “Crouching Tiger” (coautor Gordon G. Chang) — ambos se tornaram documentários amplamente vistos. Ambos os livros alertam para a necessidade de neutralizar uma China agressiva.
Em “Morte pela China”, Navarro argumentou que a ascensão econômica da China através do sistema de comércio internacional não transformou aquele país em uma sociedade mais livre e aberta como muitos ocidentais esperavam. Pelo contrário, permitiu ao regime comunista chinês aproveitar e explorar os benefícios do sistema comercial liderado pelos Estados Unidos e, ao mesmo tempo, criar um Estado autoritário melhor financiado e melhor equipado, que agora está empenhado com a expansão e a agressão militar em todo o mundo.
Economistas rejeitaram as publicações de Navarro que criticavam as relações comerciais entre os Estados Unidos e os chineses por considerá-las meramente controvérsias ao invés de um trabalho acadêmico, enquanto outros disseram que, em certos pontos, Navarro havia exagerado os fatos para adaptá-los à sua história, como por exemplo a acusação de que a China continua desvalorizando sua moeda.
No entanto, parece que as opiniões de Peter Navarro influenciaram o presidente norte-americano ao longo dos anos e agora encontraram eco entre os membros da administração Trump.
“Não toleramos mais”
“A Organização Mundial do Comércio criou a China”, declarou Trump a milhares de participantes da Conferência de Ação Política Conservadora em 23 de fevereiro, endossando claramente a opinião cautelosa de Navarro sobre a OMC. “Desde então, a China tem sido um foguete. E agora, no ano passado, tivemos um déficit comercial de quase 500 bilhões de dólares com a China.”
Navarro declarou à CNN em 4 de março: “o que eu acho que o presidente quer fazer em termos da Organização Mundial do Comércio é enviar um sinal muito claro de que não vamos tolerar mais.”
“Grande parte do problema foi causado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), que tem mais de 160 países e muitos deles simplesmente não nos querem.”
Depois de conseguir impor tarifas punitivas sobre o aço e alumínio da China, Navarro agora quer punir a China por roubar propriedade intelectual dos Estados Unidos. Um membro do alto escalão da Casa Branca revelou que o próximo passo para nivelar o jogo no comércio com China será impedir que o país continue corroendo pela força a vantagem técnica dos Estados Unidos, publicou o Washington Free Beacon.
“A China é um péssimo ator quando se trata de práticas comerciais, mas nada é mais importante no curto prazo do que abordar o roubo da nossa propriedade intelectual e a transferência forçada da nossa tecnologia”, disse Navarro para a Fox Business Network.
Embora a visão de Navarro permaneça heterodoxa para a maioria dos economistas, um número crescente de especialistas em segurança nacional também começou a questionar a natureza e a intenção das relações econômicas da China com os Estados Unidos e o mundo.
“Apesar da sua retórica, os líderes chineses acreditam que o comércio e o investimento são áreas de concorrência estratégica, ao invés de uma simples ‘cooperação em que todos ganham’, disse Aaron Friedberg, professor da Faculdade Woodrow Wilson, pertencente à Universidade de Princeton, em um testemunho ao Comitê de Serviços Armados da Câmara dos Deputados, em 15 de fevereiro passado. “Há pouca evidência de que eles abandonarão sua abordagem atual.”
Por sua vez, Navarro não limita seu contra-ataque à China apenas à esfera econômica. Ele conseguiu convencer Trump a baixar um decreto que contempla uma ampla revisão da base industrial de defesa da nação, medida que encontrou respaldo na preocupação de muitos, de que a indústria de defesa norte-americana não é suficientemente robusta para lidar com o crescimento militar chinês.