“Todos estamos em perigo”, dizem jornalistas do venezuelano “El Nacional”

22/05/2021 21:31 Atualizado: 22/05/2021 21:31

Por Agência EFE

Dois jornalistas de um dos principais jornais da Venezuela, o “El Nacional”, cuja sede foi alvo de um embargo na semana passada, disseram na sexta-feira(21) que o caso mostra que toda a imprensa do país está “em perigo” e pediram um forte apoio internacional.

“El Nacional não é um caso isolado. Este perigo é muito próximo em outros países como a Nicarágua ou a Argentina. Estamos todos em perigo”, disse Alba Sánchez, gerente editorial da publicação, durante um webinar do qual também participou o editor-chefe do jornal, José Gregorio Meza.

Sánchez falou sobre a impossibilidade, na Venezuela, de denunciar o que se acredita ser errado, de investigar e dizer a verdade e informar diante de uma “ditadura de 23 anos” cujo “processo foi feito pouco a pouco”.

O embargo das instalações da “El Nacional” foi recentemente descrito pela Associação Interamericana de Imprensa (IAPA) como “um dos maiores ultrajes contra a liberdade de imprensa nas Américas neste século”.

A medida fez parte da indenização por “danos morais” de mais de US$ 13 milhões ordenada pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) por uma ação por difamação movida por Diosdado Cabello, o homem forte do regime de Nicolás Maduro.

Sánchez e Meza denunciaram a grave situação de indefensabilidade e abuso que o jornal, fundado em 1943, sofreu após a decisão judicial e a apreensão do prédio de sua sede por membros da Guarda Nacional Bolivariana (GNB).

Os dois jornalistas falaram das implicações deste golpe contra o jornalismo livre na Venezuela e no resto do continente.

“Queremos que a situação seja divulgada. Nenhum país merece este tipo de situação. Isso não é uma democracia, é um país destruído”, afirmou Meza.

O argentino Carlos Jornet, presidente do Comitê de Liberdade de Imprensa e Informação da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e moderador do webinar, descreveu este “embargo política” das instalações do jornal venezuelano como um ato de “vingança e espoliação”.

JORNALISMO LIVRE SILENCIADO

O que está por trás da ação é uma “intenção autoritária não apenas de silenciar o El Nacional, mas também de enviar uma mensagem forte àqueles que ainda ousam oferecer jornalismo livre e crítico na Venezuela”, disse Jornet.

Um vídeo do embargo da sede foi então exibido no webinar, com comentários de Jorge Makriniotis, gerente geral do “El Nacional”, que definiu a apreensão como uma “invasão”.

O processo judicial data de 2015, quando “El Nacional”, assim como outros 80 jornais do continente, publicou uma reportagem produzida pelo jornal espanhol “ABC” que denunciou supostas ligações de Cabello com o tráfico de drogas.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos oferece desde 2020 uma recompensa de US$ 10 milhões por informações que levem à prisão de Cabello, que foi indiciado em março daquele ano no Distrito Sul de Nova York por conspiração para cometer narcoterrorismo e importação de cocaína para o país, entre outras acusações.

Os dois jornalistas do jornal venezuelano afirmaram que o embargo é uma ameaça que se estende a toda a imprensa independente e denunciaram “ataques de grupos chavistas e ligados ao chavismo” aos profissionais da publicação, que agora é apenas disponibilizada na internet.

Embora haja um “entendimento internacional” do abuso sofrido pelo “El Nacional”, Sánchez ressaltou que o problema é que “nenhuma solução foi encontrada (…) com um governo que se manteve ilegitimamente no poder por meio de eleições fraudulentas”.

“Acho que há muitos anos de regime pela frente”, lamentou ela.

A impressão de Meza não foi diferente.

“Também não estou otimista. Há ainda um longo caminho a percorrer. Tenho esperança no povo, e é isso que nos leva a ficar e não emigrar para outros países como milhões de compatriotas já fizeram”, declarou.

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