Tillerson: EUA estreitarão laços econômicos e militares com Índia face China

25/10/2017 17:16 Atualizado: 25/10/2017 17:25

WASHINGTON — O secretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson, disse antes de uma visita à Índia agendada para a próxima semana que a gestão Trump quer “aprofundar dramaticamente” a cooperação com Nova Déli, enxergando-a como um parceiro chave perante décadas de influência negativa do regime comunista chinês na Ásia.

Falando na quarta-feira, menos de um mês antes da primeira visita de Estado do presidente Donald Trump à China, Tillerson disse que os Estados Unidos começaram a discutir a criação de alternativas ao financiamento chinês de infra-estrutura na Ásia.

Em outro comentário susceptível de magoar Pequim, ele disse que Washington enxergou espaço para convidar outros, incluindo a Austrália, a se juntar à cooperação de segurança entre os EUA e Índia-Japão, algo a que Pequim se opôs como uma conspiração das democracias.

As observações coincidem com o início de um congresso de uma semana do Partido Comunista Chinês em que o líder Xi Jinping buscou consolidar ainda mais seu poder.

“Os Estados Unidos procuram relações construtivas com a China, mas não renunciaremos aos desafios da China de uma ordem baseada em regras e em que a China subverte a soberania dos países vizinhos e trapaceiam os EUA e nossos amigos”, disse Tillerson ao think thank Center for Strategic and International Studies.

“A Índia e os Estados Unidos devem estar em negociação de modo a equipar outros países para que defendem sua soberania, construam maior conectividade e tenham uma voz mais alta numa arquitetura regional que promova seus interesses e desenvolva suas economias”, acrescentou Tillerson.

A decisão dos Estados Unidos de expandir as relações com a Índia quase certamente vai magoar o rival da Índia, o Paquistão, que Tillerson também visitará na próxima semana, disse um alto funcionário do Departamento de Estado que não quis se identificar.

O Paquistão tem sido o principal aliado dos EUA no sul da Ásia há décadas, mas as autoridades americanas estão frustradas com o que eles acusaram de ter sido o fracasso do Paquistão em reduzir o apoio à insurgência talibã no Afeganistão, onde Trump quer que a Índia desempenhe um papel maior no desenvolvimento econômico.

Como parte de uma estratégia para o sul da Ásia revelada por Trump em agosto, espera-se que Tillerson pressione Islamabad, que nega estar ajudando o Talibã, a tomar medidas mais fortes contra extremistas e grupos aliados e intensificar esforços para pressioná-los a aceitar o diálogo de paz com Cabul.

“Esperamos que o Paquistão tome medidas decisivas contra grupos terroristas estabelecidos lá que ameaçam seus próprios habitantes e a região em geral”, disse Tillerson. Trump ameaçou novos cortes no auxílio americano ao Paquistão, caso não coopere.

A China, um rival estratégico para os Estados Unidos e a Índia, também é vital para os esforços de Trump para reverter os avanços da Coreia do Norte na criação de mísseis com armas nucleares acopladas capazes de alcançar os Estados Unidos, uma questão esperada para nortear a agenda da visita de Trump a Pequim em 8-10 de novembro.

Um alto funcionário do Departamento de Estado defendeu o teor do discurso, dizendo que Tillerson também disse que quer uma relação construtiva com a China.

“Por muitas décadas, os Estados Unidos apoiaram o crescimento da China”, afirmou o funcionário. “Também apoiamos o crescimento da Índia. Mas estes dois países cresceram de forma diferente.”

Tillerson não disse o que queria dizer ao criar uma alternativa ao financiamento chinês de infra-estrutura, mas afirmou que o Governo Trump iniciou uma “conversa silenciosa” com algumas democracias emergentes do leste asiático durante uma cúpula em agosto.

Ele disse que o financiamento chinês estava subordinando países com “enormes” dívidas e falhando em criar empregos. “Pensamos que é importante que comecemos a desenvolver alguns meios para combater isso com medidas de financiamento alternativas.”

“Não seremos capazes de competir no tipo de termos que a China oferece, mas os países devem decidir o que eles estão dispostos a pagar para garantir sua soberania e seu futuro controle de suas economias e nós tivemos estas discussões com eles também”, disse ele.

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