Por EFE
Nova Iorque (EUA), 2 mai – Quando o artista Scott LoBaido instalou a obra “Thank You” em frente à porta principal do hospital Elmhurst, em um dos bairros mais afetados pela Covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus, em Nova Iorque, ele só queria agradecer à equipe médica pela dedicação.
O que ele não podia imaginar que seu trabalho também se tornaria um altar improvisado para as vítimas da pandemia.
Fotos de vítimas, como as de Nicolás Abreu ou Nora Mera, velas artificiais em mesas removíveis, a imagem de um Cristo, fitas azuis, um Pai Nosso escrito em espanhol e um pequeno obituário (“Ela era a melhor mãe do mundo inteiro”) acompanham as mensagens escritas espontaneamente no epicentro da Covid-19 nos Estados Unidos.
As oito grandes letras maiúsculas – THANK YOU – estão amarradas à cerca de um pequeno parquinho, que permanece fechado para evitar a propagação do novo coronavírus, que somente no estado Nova Iorque tirou a vida de cerca de 24 mil pessoas.
Uma ambulância passa e, ao virar da esquina, a barraca erguida ao lado do centro do hospital para realizar os testes para a Covid-19 continua a receber pessoas, que esperam sua vez mantendo uma distância muito maior que os dois metros recomendados pelas autoridades.
As poucas pessoas que perambulam pelas ruas do bairro do Queens usam máscaras para proteger boca e nariz.
A tragédia afetou principalmente bairros operários, de imigrantes e densamente povoados.
“Somos um”, “Eu amo todos vocês”, “Vocês são heróis e anjos”, “Obrigado por nos salvar”, são algumas das mensagens improvisadas, pintadas à mão, sobre as cartas de agradecimento, escritas principalmente em inglês, mas também em espanhol e até em tibetano.
DUAS PALAVRAS
LoBaido contou à Agência Efe que sempre gostou de “dar às pessoas um lugar para ir, um lugar para ver algo, para refletir”; como as 24 cadeiras vazias que instalou após o furacão Sandy em 2012 em homenagem aos 24 moradores do distrito em que vive – Staten Island – que morreram na tempestade. Agora queria homenagear os funcionários do hospital.
Primeiro, ele pensou em fazer uma escultura de uma enfermeira e colocá-la em frente o local, mas depois refletiu e teve uma nova ideia.
“Não precisa ser uma escultura, não precisa ser uma pintura. As duas palavras mais importantes do mundo, neste momento, são estas duas, e disse a mim mesmo: vou fazer um gigante ‘obrigado’, bem, nada, nenhuma arte, pinturas, esculturas. Isso se tornou algo tão forte, porque é muito grande”, relatou.
“É simplesmente isso, é uma das obras mais fortes de toda a minha carreira artística. É bom porque eu coloquei o motivo, o palco para as pessoas dizerem: ‘Deixe-me dizer obrigado, deixe-me colocar uma foto. Obrigado por salvar nossas vidas'”, completou.
“ARTISTA PATRIOTA”
“Thank You” é a quarta instalação que o artista de Nova Iorque criou desde o início da crise provocada pelo novo coronavírus, e ele espera instalar mais nas próximas semanas em outros hospitais da cidade.
As três primeiras obras foram colocadas em centros de saúde perto de sua casa, mas quando soube que o hospital de Elmhurst estava sendo o mais afetado pela doença, ele não hesitou em plantar seu trabalho de agradecimento diante de sua porta para que todos os ali pudessem vê-lo. Sem sequer pedir permissão.
Ele se descreve como um “artista patriota” e seu carro, pintado como se estivesse envolto por uma bandeira dos Estados Unidos, serve como carta de apresentação.
“Tornou-se um altar e estou orgulhoso”, diz um animado Lobaido, ao visitar pela primeira vez a instalação, montada no início de abril para ver de perto as imagens enviadas.