O regime do ditador Daniel Ortega deu um prazo de 15 dias para que o embaixador brasileiro na Nicarágua, Breno de Souza Brasil Dias da Costa, deixe o país. A decisão foi tomada na quarta-feira (07) e segundo a imprensa local, ocorreu devido à ausência do diplomata na celebração dos 45 anos da Revolução Sandinista, em 19 de julho.
Este episódio eleva a tensão diplomática entre os dois países. “Falei com o papa, e ele me pediu para falar com Ortega sobre um bispo que estava na prisão”, disse Lula em uma entrevista a correspondentes estrangeiros, referindo-se ao religioso Rolando Álvarez, preso por sua oposição ao regime nicaraguense.
“Ortega não atendeu o telefone e não queria falar comigo. Então, nunca mais falei com ele”, acrescentou.
Ainda de acordo com a imprensa local, o embaixador brasileiro não foi o único a evitar as comemorações pela Revolução Sandinista, um movimento de orientação socialista inspirado na Revolução Cubana. O evento oficial contou com a presença de poucas delegações diplomáticas importantes, exceto a dos regimes aliados de Cuba, Venezuela e Rússia.
O comunicado formal ao governo brasileiro deve ocorrer nesta quinta-feira (08), quando o chanceler brasileiro Mauro Vieira se reunirá com Lula para tratar a questão.
Apenas um encarregado brasileiro de negócios diplomáticos deverá permanecer em Manágua, a capital da Nicarágua. Brasília não divulgou a expulsão “para evitar um escândalo”, conforme o portal Poder 360.
O Itamaraty explicou que o embaixador não compareceu ao evento devido à suspensão das relações diplomáticas entre Brasil e Nicarágua. O governo Lula congelou as relações por um ano em retaliação à prisão de padres e bispos ocorrida em 2022 no país e tenta, a pedido do Papa Francisco, interceder sobre as perseguições aos católicos.
Declarações do ex-embaixador da Nicarágua na OEA, Arturo McFields Yescas
McFields Yescas, que se rebelou contra o regime de Ortega durante uma sessão virtual da OEA em março de 2022, disse na rede social X (ex-Twitter) que “a ditadura” deu um “ultimato ao embaixador brasileiro para deixar” a Nicarágua.
O diplomata e jornalista, que fez parte do regime sandinista de 2011 a março de 2022, afirmou que, com essa decisão, Ortega e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “têm outro forte choque”.
Ele lembrou que Lula e Ortega são amigos há mais de 40 anos e que, precisamente no primeiro aniversário da revolução sandinista, em 1980, durante uma de suas visitas à Nicarágua, Lula conheceu o falecido ditador cubano Fidel Castro.
“Anos mais tarde, Lula e Castro formariam o infame Foro de São Paulo. Hoje, Ortega expulsa o embaixador brasileiro com ultimatos e insultos”, acrescentou.
De acordo com McFields Yescas, “por muitos anos Lula e Ortega mantiveram uma estreita amizade”, tanto em nível pessoal quanto político.
“Hoje a lua de mel foi interrompida. Ortega expulsa o embaixador de Lula de maneira vulgar e ordinária. Lula havia pedido a seu embaixador que não participasse de atos públicos com o ditador da Nicarágua”, disse.
O governo nicaraguense não confirmou ou negou essa informação.