Os talibãs informaram às Nações Unidas que estão proibindo o trabalho de todas as afegãs que empregam no país, informou nesta terça-feira a organização, que descreveu a decisão como “inaceitável” e “inconcebível”.
Segundo o porta-voz Stéphane Dujarric, a ONU está buscando ainda mais clareza sobre essa decisão, mas de acordo com as informações obtidas, o veto se estenderia a todo o Afeganistão e não apenas a uma província, como era inicialmente conhecido.
Dujarric explicou que estão marcadas reuniões amanhã em Cabul com as “autoridades de fato” para tentar esclarecer os detalhes enquanto avalia seu possível impacto, mas deixou claro que, sem as mulheres, as Nações Unidas não poderão continuar ajudando a população do país como tem feito.
“As mulheres do nosso quadro são essenciais para que as Nações Unidas prestem uma ajuda vital”, afirmou o porta-voz na sua entrevista coletiva diária, na qual destacou que este veto não apenas viola “os direitos fundamentais das mulheres” como também dificulta a continuação do trabalho da organização no terreno.
Entre outras coisas, recordou que “dada a sociedade e a cultura” no Afeganistão “as mulheres são necessárias para ajudar as mulheres”, que estão entre as mais ameaçadas pela enorme crise humanitária que vive o país, em alusão ao fato de que em muitas regiões ser mal visto que os homens atendem às mulheres, ou vice-versa.
De acordo com Dujarric, a proibição é “inaceitável” e se soma a uma “preocupante tendência de minar a capacidade das organizações de ajuda humanitária de alcançar os mais necessitados”.
As funcionárias da ONU estavam entre as poucas que ainda podiam trabalhar, depois que o Talibã proibiu em dezembro do ano passado as mulheres de trabalhar em ONGs nacionais ou internacionais. Também podiam seguir com seus trabalhos aquelas contratadas por ONGs nas áreas de alimentação e educação.
De acordo com dados da ONU, entre 30% e 40% do pessoal de organizações humanitárias que entregam, gerenciam, controlam ou avaliam a necessidade de assistência são mulheres.
Dujarric disse que a organização tem atualmente cerca de 4 mil pessoas trabalhando no Afeganistão, das quais cerca de 3,3 mil são nativas do país, embora não tenha revelado quantas são mulheres.
Inicialmente, a Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (Unama, na sigla em inglês) havia anunciado que o Talibã havia proibido seus funcionários de trabalhar na província oriental de Nangarhar.
Dujarric explicou em Nova Iorque que em essa região foi recebida uma comunicação “mais oficial” sobre o veto, mas depois, por vários canais, foi repassado à ONU que a decisão se aplicava a todo o país.
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