Pela primeira vez desde que assumiu o controle do Afeganistão em 2021, o regime Talibã participa de uma conferência internacional de relevância global. A Organização das Nações Unidas (ONU) convidou o grupo para participar da COP-29, que começou nesta segunda-feira (11). O evento é focado no combate às mudanças climáticas e acontece em Baku, Azerbaijão.
O convite marca um momento de exceção, já que a comunidade internacional, em grande parte, não reconhece o Talibã como governo legítimo do Afeganistão.
A participação ocorreu após o convite do governo do Azerbaijão, que demonstrou um esforço de inclusão para envolver todas as nações mais vulneráveis às mudanças climáticas.
A participação do Talibã no evento gerou uma mistura de surpresa e preocupação.
Embora a ONU tenha buscado incluir o grupo no debate internacional como parte dos esforços para combater as consequências das mudanças climáticas, muitos representantes presentes na COP-29 se mostraram cautelosos quanto ao reconhecimento implícito que este convite pode trazer ao grupo.
A delegação do Talibã utilizou o espaço oferecido pela ONU para enfatizar a importância de investimentos e de assistência financeira e tecnológica ao Afeganistão.
No discurso, os delegados destacaram que, embora não sejam amplamente reconhecidos pela comunidade internacional, o Talibã busca trabalhar na direção de um Afeganistão mais preparado para enfrentar os desafios ambientais.
“O Afeganistão é um dos países que realmente ficou para trás nas suas necessidades essenciais”, destacou Habib Mayar, representante do g7+, organização que reúne países afetados por guerras e conflitos. Para ele, o isolamento internacional imposto ao Talibã tem um impacto direto sobre o povo afegão, agravando ainda mais as dificuldades no país.
“É um preço duplo que eles estão pagando”, afirmou Mayar. Ele ressaltou que, além da falta de atenção e conexão com a comunidade internacional, o país enfrenta um aumento significativo nas demandas humanitárias, o que torna a situação ainda mais crítica para os afegãos.
A fala foi acompanhada por apelos para que o Afeganistão seja considerado em planos globais de ajuda humanitária e financiamentos climáticos.
Eles afirmaram que a população afegã não deve ser penalizada por questões políticas e deve ter acesso aos recursos necessários para enfrentar o impacto das mudanças climáticas.
Embora a participação tenha sido um marco, há incertezas sobre quais serão os desdobramentos dessa inserção do Talibã no cenário internacional.
Na ótica de países e organizações que criticam a presença dos delegados do Talibã, o risco está na legitimação indireta de um governo acusado de violações graves aos direitos humanos e falta de inclusão social, principalmente no que diz respeito aos direitos das mulheres e das minorias.
Enquanto a ONU e o Azerbaijão justificam o convite como um gesto pragmático, críticos argumentam que a participação pode abrir precedentes para que regimes não reconhecidos internacionalmente sejam incluídos em futuras negociações multilaterais.
O Epoch Times Brasil entrou em contato com a ONU para comentários, mas não obteve resposta até o momento da publicação.