O Exército de Uganda aumentou de 37 para 41 o número de pessoas mortas em um ataque contra uma escola de ensino médio no oeste do país perpetrado ontem à noite por supostos membros das Forças Democráticas Aliadas (ADF), um grupo rebelde com laços difusos com o Estado Islâmico (EI).
O “atentado terrorista” teve como alvo a escola particular Lhubiriha, na cidade de Mpondwe, a cerca de dois quilômetros da fronteira com a República Democrática do Congo (RDC), segundo indicou a polícia ugandense no início da manhã deste sábado na sua conta no Twitter.
O tenente-general Dick Olum, comandante das forças de Uganda que lutam ao lado do Exército da RDC em território congolês contra as ADF, disse posteriormente que os agressores mataram 37 estudantes, um segurança e outras três pessoas da comunidade.
“Perdemos 20 meninas no local. Quanto aos meninos, 17 deles morreram devido ao incêndio” que os terroristas provocaram em seu dormitório, detalhou Olum a repórteres na área do ataque, acrescentando que três meninos conseguiram escapar e salvar suas vidas.
“Suspeitamos que eles sequestraram cerca de seis estudantes e podem ter levado membros da comunidade pelo caminho”, declarou o tenente-general.
Anteriormente, o porta-voz do Exército de Uganda, o general de brigada Felix Kulayigye, afirmou em um comunicado que “infelizmente 37 corpos foram encontrados e levados para o necrotério do hospital da cidade de Bwera”.
Questionado pela EFE se todas estas vítimas são estudantes, o porta-voz respondeu por telefone com um conciso “sim”, sem dar maiores explicações.
“Um dormitório foi incendiado e uma loja de alimentos foi saqueada”, reportaram as autoridades policiais, acrescentando que “também foram resgatadas com vida outras oito vítimas, que permanecem em estado crítico no hospital de Bwera”.
A polícia declarou ainda que, juntamente com o Exército do Uganda, iniciou uma “intensa perseguição” aos agressores em direção ao congolês Parque Nacional de Virunga.
Em seu comunicado, Kulayigye detalhou que o ataque ocorreu às 23h30 de ontem (horário local, 17h30 de Brasília), que três pessoas foram resgatadas com vida (além dos oito hospitalizados em estado grave) e que os agressores sequestraram seis pessoas.
“As informações da inteligência revelaram que este ataque foi cometido por supostos membros dos rebeldes das ADF, que estavam em cerca de cinco”, declarou o general de brigada.
Por sua parte, o jornal estatal ugandense “New Vision” estimou o número de mortos em 42, sem especificar suas fontes, dos quais 39 seriam estudantes, além de dois residentes e um segurança.
“Os rebeldes perguntaram sobre os muçulmanos entre os estudantes, mas não havia nenhum”, relatou ao jornal a estudante Mumbere Bright, que sobreviveu ao ataque no dormitório se escondendo entre os corpos de outros estudantes mortos.
“Os rebeldes disseram que não matam companheiros crentes. Eles mataram todos os estudantes à vista usando facões, machados e objetos pontiagudos”, acrescentou Bright.
Em uma mensagem no Twitter, o governo de Uganda transmitiu suas “mais profundas condolências às famílias e entes queridos dos falecidos que foram brutalmente atacados e mortos por rebeldes das ADF” em um “ato de violência sem sentido”.
As Forças Democráticas Aliadas são um grupo rebelde de origem ugandense, mas atualmente estão concentradas nas províncias congolesas de Kivu do Norte e na vizinha Ituri, perto da fronteira que a RDC compartilha com Uganda.
Seus objetivos são difusos, além de uma possível ligação com o Estado Islâmico (EI), que por vezes reivindica a autoria de seus ataques.
Embora os especialistas do Conselho de Segurança das Nações Unidas não tenham encontrado evidências de apoio direto do EI às ADF, os Estados Unidos as identificam desde março de 2021 como “uma organização terrorista” afiliada ao grupo jihadista.
De acordo com o Barômetro de Segurança do Kivu (KST), as ADF são responsáveis por pelo menos 3.850 mortes em 730 ataques na República Democrática do Congo desde 2017.
Além disso, as autoridades de Uganda acusaram o grupo de organizar ataques dentro de seu território, incluindo dois atentados suicidas em Kampala em novembro de 2021 e assassinatos de funcionários de alto escalão do governo.
Para pôr fim às ADF, os Exércitos da RDC e do Uganda iniciaram uma operação militar conjunta em solo congolês em novembro de 2021, que ainda está em curso, embora os ataques rebeldes não tenham cessado.
Desde 1998, o leste da RDC está imerso em um conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo Exército, apesar da presença de uma missão da ONU (Monusco), com cerca de 16.000 militares no terreno.
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