Sobe para 17 o nº de mortos em protestos reprimidos pela polícia no Zimbábue

O encarecimento dos combustíveis desencadeou uma onda de protestos insólitos no Zimbábue desde a queda do líder Robert Mugabe em novembro de 2017

07/02/2019 15:28 Atualizado: 07/02/2019 15:28

Por Agência EFE

Grupos de defesa dos direitos humanos do Zimbábue elevaram nesta quinta-feira (7) de 12 para 17 o número de mortos nos protestos reprimidos pelas forças de segurança no mês de janeiro no país africano.

“As violações dos direitos humanos que começaram como resposta do Estado aos protestos maciços de 14 de janeiro assumiram imediatamente um caráter sistemático”, afirmou o Fórum de ONGs de Direitos Humanos, uma coalizão de 22 grupos de ativistas de defesa dos direitos fundamentais, em seu último relatório.

No documento, intitulado “Nos dias de escuridão do Zimbábue”, também há denúncias de estupro de 16 mulheres cometido por homens identificados como soldados.

“Os estupradores identificados pelas vítimas são oficiais do Exército Nacional do Zimbábue que atacaram essas mulheres ou instruíram outras pessoas para que o fizessem em sua presença”, afirmaram as ONGs.

O documento foi divulgado no momento em que o país se encontra imerso em uma crise, depois que o aumento no preço do combustível — que dobrou e passou a custar mais de US$ 3 o litro — provocou uma greve geral entre os dias 14 e 16 de janeiro e uma onda de protestos.

O Fórum indicou que os abusos foram tão graves que poderiam ser considerados “crimes de lesa-humanidade”, e fez um pedido à União Africana e à Comunidade para o Desenvolvimento da África Meridional (SADC, na sigla em inglês) para que ajudem a deter essas violações.

O relatório também afirma que houve 81 feridos por disparos de arma de fogo, 26 sequestros cometidos por agentes de segurança e pelo menos 586 agressões a outros cidadãos, entre eles espancamentos e ataques de cachorros.

“Foram testemunhados casos de agressão, tortura, tratamento cruel, desumano e degradante em uma escala impactante, de forma que não é possível determinar o número real”, admitiram as organizações.

O chefe do Estado Maior do exército do Zimbábue, Douglas Nyikayaramba, declarou hoje ao jornal estatal “The Herald” que as forças armadas restabeleceram a paz no país e estão prontas “para retirar-se” e retornar aos quartéis.

Nyikayaramba também afirmou que as denúncias de estupro e agressão por parte de soldados estavam sendo investigadas e que, se houver qualquer evidência de que eles tenham cometido crimes, “serão detidos e disciplinados”.

O presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa, convocou na terça-feira os líderes da oposição para discutir os termos de um “diálogo nacional”, uma proposta que o principal líder opositor, Nelson Chamisa, tachou de “distração” e se negou a aceitar.

O encarecimento dos combustíveis desencadeou uma onda de protestos insólitos no Zimbábue desde a queda do líder Robert Mugabe em novembro de 2017 e levou Mnangagwa, que fazia uma viagem por países da Europa e da Ásia Central prévia ao Fórum Econômico Mundial em Davos (Suíça), a antecipar seu retorno ao país.

Aproximadamente mil pessoas foram detidas depois do início dos protestos e de uma onda de saques nas duas principais cidades do país africano, Harare e Bulawayo.