A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) acusou, nesta terça-feira, o regime da Nicarágua de ter intensificado seus ataques contra a liberdade de imprensa e de expressão, incluindo a expulsão e desnacionalização de jornalistas, o fechamento de empresas de comunicação, e a censura.
“O regime de Daniel Ortega e Rosario Murillo intensificou seus ataques contra a liberdade de imprensa e de expressão neste período”, disse a SIP em um relatório, que abriu hoje sua reunião semestral.
O texto é um relato detalhado da situação política da Nicarágua, que destaca uma série de violações de direitos humanos cometidas pelo regime sandinista, além de ataques à liberdade de imprensa e de expressão, detenção e expulsão de presos políticos, cancelamento de organizações não-governamentais, roubo de propriedades e censura.
A SIP lembrou que em 9 de fevereiro as autoridades nicaraguenses libertaram e expulsaram 222 presos políticos para os Estados Unidos e, um dia depois, retiraram sua nacionalidade.
“Seis dias depois, tirou a nacionalidade de outras 94 pessoas, incluindo 10 jornalistas que permanecem no país”, indicou a SIP.
Jornalistas perseguidos
Entre os jornalistas afetados figuram Carlos Fernando Chamorro, vencedor do 38º Prêmio Ortega y Gasset de Jornalismo e diretor do “Confidencial” e “Esta Semana”; Wilfredo Miranda, colaborador na Nicarágua do jornal espanhol “El País” e vencedor do Prêmio Ibero-Americano de Jornalismo Rei da Espanha 2018.
Também os diretores de mídias digitais Lucía Pineda (100% News), Luis Galeano (Café con Voz), Jennifer Ortíz (Nicarágua Investiga), Patricia Orozco (Onda Local), Álvaro Navarro (Artigo 66), David Quintana (Boletim Ecológico), e Aníbal Toruño (Rádio Darío).
Da mesma forma, os comunicadores Sofía Montenegro, Silvia Nadide Gutiérrez e Camilo de Castro Belli, filho da poetisa Gioconda Belli, cuja nacionalidade também foi retirada.
A lista inclui os libertados da prisão Miguel Mendoza, Miguel Mora, Manuel Antonio Obando, Wilberto Artola, Sergio Cárdenas, Roberto Larios, Cristiana Chamorro e Juan Lorenzo Holmann, este último diretor geral do jornal “La Prensa”.
“As 316 pessoas tiveram seus bens roubados, suas contas bancárias fechadas, o pagamento de pensões negado e seus registros apagados, o que foi chamado de ‘morte civil’ dos afetados”, disse a SIP.
As autoridades nicaraguenses também retiraram a nacionalidade do bispo Rolando Álvarez, condenado a mais de 26 anos de prisão por se recusar a ser exilado em território americano, acrescentou.
“A nível internacional, o Grupo de Peritos em Direitos Humanos sobre a Nicarágua, das Nações Unidas, denunciou essas novas estratégias do regime para violentar os direitos fundamentais e considerou que, pela crueldade e sistematização dos fatos, se enquadram na categoria de crimes contra humanidade”, observou a SIP.
Mais de 85 comunicadores exilados
Essa organização observou que desde abril de 2018, quando eclodiu a crise sociopolítica na Nicarágua, “mais de 185 comunicadores foram forçados ao exílio, 21 durante este semestre”.
Criticou, também, que jornalistas, defensores de direitos humanos e ativistas que buscam refúgio na Costa Rica, tiveram o seu direito à mobilidade afetado por um decreto que limitava sua capacidade de viajar.
Além disso, segundo o relatório, neste período foram registrados 55 ataques; quatro contra meios de comunicação e 51 contra pessoas físicas na Nicarágua.
A SIP também mencionou que “os ataques à Igreja Católica se intensificaram quando o regime anunciou a suspensão de relações com a Santa Sé” em março, e lembrou que a Semana Santa “foi celebrada sem as habituais procissões, devido à proibição do regime e o cerco policial, especialmente em Matagalpa”, diocese dirigida pelo bispo Álvarez.
“As hostilidades contra a Igreja incluíram ataques, mensagens de ódio, profanações e roubos, entre outros, além de obstáculos às ONGs”, disse.
A Nicarágua atravessa uma crise política e social desde então, que se agravou após as polêmicas eleições gerais de 7 de novembro de 2021, nas quais Ortega foi reeleito para um quinto mandato, quarto consecutivo e segundo junto com sua esposa, Rosario Murillo, como vice-presidente, com seus principais adversários na prisão ou no exílio.
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