Às vésperas do Natal e em meio a um clima de tensão, organizações sociais e sindicais se mobilizaram nesta sexta-feira em diferentes partes da Argentina contra o pacote de reformas do governo de Javier Milei para desregulamentar a economia e o setor público por meio de um Decreto de Necessidade Urgente (DNU) que ainda não foi aprovado pelo Parlamento.
Por meio de assembleias e paralisações de atividades, a Associação de Trabalhadores do Estado (ATE) – sindicato que reúne funcionários do Estado de toda a Argentina – fez uma passeata até a sede da Chefia de Gabinete em Buenos Aires, também se reunindo no Obelisco e no Ministério do Capital Humano (ex-Ministério do Desenvolvimento Social).
“Não cabe a nós avaliar se apenas 12 dias se passaram desde que o governo tomou posse. Somos um sindicato e temos que defender os direitos dos trabalhadores que representamos. Até agora não ouvimos uma única medida em favor dos trabalhadores e aposentados”, disse em comunicado o secretário-geral da ATE, Rodolfo Aguiar.
Na capital, os manifestantes cercaram cada um dos pontos de encontro a partir das calçadas para evitar o bloqueio das ruas e não cumprir o protocolo antipiquete estabelecido pela ministra da Segurança, Patricia Bullrich.
O governo minimizou a capacidade das organizações sociais e sindicais de convocar os protestos e afirmou que apenas 470 pessoas participaram dos protestos em diferentes partes da capital argentina e nos arredores da área metropolitana de Buenos Aires, 635 se manifestaram em cidades da província de Buenos Aires, 150 o fizeram na província de Tucumán (norte) e cerca de 50 em Santiago del Estero (centro).
As reformas do governo para buscar a estabilidade econômica vão desde a rescisão de contratos de trabalho com o Estado até a privatização de empresas estatais e a reforma das leis trabalhistas.
Na tarde de sexta-feira, trabalhadores ferroviários participaram de protestos no saguão da estação de trem Constitución, em Buenos Aires, contra a possível privatização de seus postos de trabalho.
Sem interromper o funcionamento normal do serviço e gritando “os trens e o país não estão à venda”, os funcionários disseram que poderiam voltar à década de 90, com demissões, fechamento de agências e altos custos do transporte público.
Diante dessa situação, o sindicato entrou com uma ação cautelar na justiça pedindo a “inconstitucionalidade e nulidade absoluta do decreto”, pois a ATE alegou que “o presidente Milei atribui a si mesmo poderes extraordinários que violam a divisão de poderes da República Argentina”.