Por Vanessa Vallejo
“Quando o governo da Colômbia assinou o acordo de paz em 2016 com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), um grupo guerrilheiro de inspiração marxista, pareceu um milagre poder acabar com o conflito de meio século que matou pelo menos 220 mil pessoas e devastou áreas rurais.”
Assim começa o editorial de 24 de maio do New York Times intitulado: “A paz colombiana é valiosa demais para ser abandonada”. Somente nessas três linhas do primeiro parágrafo já está completamente claro o nível de desconhecimento dos jornalistas do periódico americano sobre a situação na Colômbia.
Na Colômbia não houve “conflito de meio século”, o que aconteceu foi que por mais de 50 anos alguns “guerrilheiros”, que mais do que isso são traficantes de drogas, estupradores, sequestradores e assassinos, torturaram a população colombiana. Essa tortura terminou quando o ex-presidente Álvaro Uribe Vélez implementou o que o NYT critica: a segurança democrática.
A palavra “conflito” é amplamente usada na mídia para se referir às ações violentas das FARC, mas o termo é incorreto e leva a erros de análise da situação. Eu pergunto aos senhores do NYT: se um infrator chega em uma casa, rouba e mata o dono, vocês diriam que há um conflito entre o criminoso e o dono da casa?
O que nós temos é um vitimizador e uma vítima. Usando a palavra “conflito”, coloca-se o assassino e o inocente no mesmo nível. E se a ideia de que eles são iguais é transferida para os fatos, que é o que está acontecendo na Colômbia, quando os líderes guerrilheiros recebem cadeiras no Congresso, o que temos é a garantia de mais violência. Onde não há justiça, é impossível haver paz real.
Dizer que “o conflito” matou pelo menos 220 mil pessoas, em vez de falar das pessoas assassinadas pelas FARC, é uma vergonha.
O NYT também disse que, graças ao acordo, haveria paz na Colômbia. Para a maioria dos colombianos, era tão evidente que não seria assim, que apesar de toda a propaganda feita com todo o poder do Estado, no plebiscito de 2016 rejeitamos os acordos de Havana que tanto elogiava o jornal americano.
Graças a esses acordos, líderes das FARC que cometeram todo tipo de crimes atrozes estão no Congresso, guerrilheiros que recrutaram e violaram crianças não pagarão um dia de prisão e a extradição de traficantes de drogas será praticamente impossível. Por causa dos acordos de Havana, ser um guerrilheiro é algo desejável, há bandidos que pagam para as FARC incluí-los em suas fileiras e, portanto, não precisam pagar um único dia na prisão… esse é o acordo aplaudido pelo NYT.
Quem escreveu o editorial em 24 de maio acredita que a paz foi alcançada? Ele seria capaz de garantir uma cadeira no Congresso dos Estados Unidos para estupradores? Não acredito. Felizmente, nos Estados Unidos, os criminosos são combatidos frontalmente, como deve ser.
Agora, se de fato o NYT acredita que tudo isso é um sacrifício válido para que os criminosos não continuem cometendo crimes, também está errado. Desde a assinatura do acordo, segundo a ONU, mais de 57.800 pessoas engrossam os registros de deslocados na Colômbia. As pessoas são obrigadas a deixar suas casas por serem ameaçadas, porque tiram suas terras e porque os combates entre grupos de traficantes de drogas — incluindo as FARC — colocam em risco suas vidas.
Líderes sociais que estão sendo perseguidos e mortos, quase todos estão em perigo porque lideram processos de restituição de terras. As FARC, o ELN, “paramilitares” — o nome é mal utilizado porque não falamos de bandidos a serviço do governo — e outros grupos dedicados ao narcotráfico não querem devolver essas terras e deixam isso bem claro matando aqueles que insistem em buscar reparação e justiça.
Um fato que deixa claro que o acordo foi inútil, é que neste momento, quase três anos depois, existem mais de 200 mil hectares de coca plantados no país.
Quem ainda está cometendo esses crimes? Quem são os donos de toda essa coca? Existem apenas duas opções:
A primeira é que firmamos a “paz” com as pessoas erradas, as FARC não eram os bandidos e é por isso que as plantações de drogas não diminuíram, nem o deslocamento e os assassinatos, que continuam acontecendo nos mesmos lugares.
A segunda é que as FARC alcançaram a impunidade e sentaram-se no Congresso sem abandonar nenhum de seus negócios.
Os Estados Unidos pediram a extradição de Jesús Santrich, um dos chefes das FARC, porque agentes secretos da DEA o grampearam quando fazia um acordo de enviar drogas para o país do norte. No vídeo que todos os colombianos puderam ver, ficou completamente claro: após os acordos, os líderes das FARC continuaram com suas ações criminosas.
Outros líderes das FARC, como “El Paisa” e Iván Márquez, estão escondidos, o primeiro porque, aparentemente, não se dá ao trabalho nem sequer de fingir a respeito dessa “paz” e é muito dedicado a seus negócios ilícitos. O segundo porque tem medo de que apareçam provas contra ele — como as de Santrich — e acabe sendo extraditado ou preso na Colômbia. Até mesmo jornais colombianos já dizem que os Estados Unidos já teriam pronto o pedido formal de extradição de Márquez.
As coisas estão muito claras, as FARC continuam na mesma. O NYT propõe que os piores criminosos da história do país recebam o “Senado em lugar da prisão” e que também lhes permita continuar cometendo crimes?
O jornal americano também afirma que o presidente Iván Duque não cumpriu o que foi acordado em Havana em termos de dar à guerrilha educação universal, meios de comunicação e empregos, entre outras coisas.
Com certeza o NYT não sabe que nós colombianos que trabalhamos e que nunca matamos ninguém pagamos as “zonas de reincorporação”, onde os guerrilheiros têm comida e abrigo. E muito provavelmente eles também não sabem que esses lugares estão cheios de mulheres e crianças porque os guerrilheiros retornaram a atividades ilícitas que lhes proporciona muito dinheiro.
É possível que o que nós colombianos pagamos até agora pelo acordo de Havana não seja nem metade do que foi acordado, mas ser pobre dá permissão para matar e fazer o que os membros das FARC fazem?
Não se pode justificar um assassino dizendo que ele é pobre e que Duque não lhe deu um emprego. Também não podemos pedir aos colombianos, que em sua maioria têm salários muito baixos, que mantenham os guerrilheiros e suas famílias por anos.
Neste país, é preciso desenvolver um plano para que os ex-guerrilheiros possam se sustentar, para que possam ser produtivos e seguir em frente. A chave para que eles possam se sustentar é mais mercado e mais liberdade econômica. Criar, por exemplo, áreas nas quais as empresas possam se estabelecer e sejam isentas de impostos em troca da contratação de ex-guerrilheiros.
No entanto, deve-se ressaltar que muitos guerrilheiros, embora tenham casa e comida, decidiram continuar cometendo crimes porque esse era o plano desde o início. No dia em que as guerrilhas supostamente entregaram suas armas, ninguém estava presente para comprovar a rendição. O plano das FARC sempre foi entrar no Congresso, mantendo seu braço armado e seus negócios de narcotráfico.
Mas o jornal americano parece tratá-los como vítimas. O NYT sugere que os guerrilheiros das FARC querem paz, mas voltaram às armas porque não têm um prato de comida.
Finalmente, o jornal diz que o presidente Donald Trump deveria “garantir” que Duque “adira” aos acordos e não modifique a justiça transicional para que mais investimentos internacionais cheguem à Colômbia e que haja uma paz duradoura. É tudo ao contrário!
Que investidor internacional verá com bons olhos um país em que os criminosos — inclusive com pedidos de extradição dos Estados Unidos — fazem parte do Congresso e legislam!
Como investir em um país com 200 mil hectares de coca administrados por criminosos de estatura internacional, e como colocar uma empresa em um lugar onde a justiça não funciona e é comprada pela esquerda e pelos guerrilheiros que parecem ter carta branca para fazer o que querem.
O NYT não sabe nada sobre a Colômbia. Se alguma coisa pode arruinar este país, é precisamente o acordo de Havana que o jornal americano defende tanto. No entanto, não se pode esperar muito de um jornal que, entre outras coisas, escondeu por anos o genocídio cometido por Stálin na União Soviética.
Este artigo foi originalmente publicado no jornal PanAm Post
Vanessa Vallejo é editora-chefe e colunista do PanAm Post. Economista, Paleolibertária, influenciadora em redes sociais e jornalista de opinião na Rádio RCN. Siga no Twitter: @VanesaVallejo3
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