Santiago Peña chega ao poder no Paraguai como aliado de Taiwan e com Brasil na agenda

Por Laura Barros, Efe
12/08/2023 18:02 Atualizado: 12/08/2023 18:02

O economista Santiago Peña se tornará na terça-feira o 51º presidente do Paraguai, com a promessa de que o seu país continuará sendo o único da América do Sul a manter relações diplomáticas com Taiwan e com o desafio de negociar com o Brasil o tratado que estabeleceu as bases para a construção e exploração conjunta da usina hidrelétrica de Itaipu.

Economista de profissão e reconhecido como ex-ministro da Fazenda, Peña, de 44 anos, visitou Taipé em julho acompanhado pela sua equipe econômica, em um sinal claro do interesse da sua nova gestão em aprofundar os laços com a ilha, celebrando 66 anos de amizade comum.

“Viemos transmitir ao povo de Taiwan a nossa determinação em estar próximos dele”, disse o futuro presidente à sua chegada, recordando que há duas décadas tinha viajado para a ilha como estudante.

Peña, sem fechar a porta para uma relação com a China, se concentrou na agenda econômica e política com Taiwan, ao contrário dos seus parceiros do Mercosul, bloco que inclui Paraguai, Brasil, Argentina e Uruguai, que já flertaram individualmente com o gigante asiático.

A volta de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência fez dos laços com a China uma das prioridades de um Brasil mais disposto a abrir caminho para um mundo multipolar.

Itaipu

O Brasil será um dos primeiros desafios do próximo presidente, cujo governo terá de negociar a revisão dos acordos do tratado que institui a barragem de Itaipu, a maior da América e a segunda maior do mundo.

Cinquenta anos após a assinatura do documento de fundação, um dos pontos a serem revistos é o Anexo C, segundo o qual Brasil e Paraguai têm direito a 50% da energia gerada pela barragem.

O trecho estabelece que o país que não utilizar totalmente a sua cota deve vender o excedente ao parceiro a preços preferenciais. No entanto, a aspiração do Paraguai tem sido obter melhores preços para a sua energia. Em entrevista à Agência EFE em junho, o futuro ministro das Relações Exteriores, Rubén Ramírez, afirmou que não há urgência nem prazo para concluir a negociação.

“Para nós, Itaipu é o principal ativo da República do Paraguai”, disse Ramírez na ocasião, quando esclareceu que não se pode “concentrar toda a agenda rica, ampla e extensa e relativizá-la com Itaipu”.

Consultada pela EFE, a historiadora Milda Rivarola considerou que essa negociação não é “apenas” sobre Lula, mas sobre o Itamaraty, que ela descreveu como “o Ministério das Relações Exteriores mais poderoso da América do Sul”.

“A proposta brasileira é: ‘toda a dívida foi paga (pela construção de Itaipu), a energia será mais barata'”, explicou a especialista, que indicou que “isso já começou este ano”, sem passar por uma “revisão”, mas sim por uma decisão do país vizinho.

Mercosul – UE

Da mesma forma, Peña herdará as negociações para selar um acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE).

O Paraguai e seus parceiros do Mercosul expressaram reservas sobre as condições ambientais previstas pelos governantes europeus, em um momento em que a relação entre Assunção e Bruxelas é marcada por um debate legislativo que visa revogar um acordo de cooperação europeia sobre educação no país.

Ramírez disse à EFE que o futuro governo está preocupado com “a incorporação de novos elementos, como as questões ambientais, que desequilibram o tratado” depois que um acordo político foi alcançado em princípio em 2019, após duas décadas de negociações entre os dois blocos.

Neste contexto, Rivarola previu um cenário internacional “bastante complexo” para o próximo governo, que também terá de lidar com as sanções impostas pelo governo dos Estados Unidos ao ex-presidente Horacio Cartes, considerado o mentor político de Peña, e a quem acusa de envolvimento em atos de corrupção antes, durante e depois do seu mandato como presidente do Paraguai.

O Paraguai “vai ser a pedra no sapato do Mercosul porque não quer um tratado com a União Europeia, mas também não pode ter um tratado com a China continental”, com a qual não tem relações, acrescentou a especialista.

Entre para nosso canal do Telegram