Investidores estrangeiros estão com cada vez menos confiança na Venezuela, segundo reportagem do site Valor Econômico. Por quase 20 anos, a Wall Street tolerou o instável cenário econômico e político em contrapartida às recompensas consideráveis e à crença de que, ao fim de tudo, o governo invariavelmente quitaria suas dívidas. Essa foi a compensação, produzindo excelentes resultados para os mercados em crescimento. Mas essa crença está começando a enfraquecer.
As sanções dos Estados Unidos contra os mais importantes dirigentes do país já sinalizam desestabilizar a fluidez financeira e deixar o governo socialista impedido ou indisposto a cumprir suas obrigações.
Frente ao baixo valor do petróleo, de reservas mundiais nos menores patamares num período de 15 anos, da economia em crise, de mortes de manifestantes em meio aos protestos na rua e do isolamento internacional, a vida financeira da Venezuela e da petrolífera estatal PDVSA jamais esteve tão frágil.
“Os detentores de bônus da PDVSA estão se sentindo acuados”, afirmou Ray Zucaro, diretor de investimentos da RVX Asset Management, sediada em Miami. “Com as sanções impostas à alta administração da companhia, eles estão efetivamente amordaçados”.
Os títulos venezuelanos, agora considerados os de maior risco do mundo, passaram a valer praticamente um quinto de seu valor nas duas últimas semanas, diante da conjectura de que os Estados Unidos podem decretar sanções que asfixiariam os lucros do petróleo, origem de praticamente a totalidade das receitas do país.
Neste momento, o governo do presidente Donald Trump puniu somente indivíduos, após Maduro seguir em frente com o projeto de modificar a Constituição – uma decisão que os analistas denominam de apropriação indevida de poder. Em comunicado na terça, Trump classificou o governo de Maduro de “ditadura”.
Mais penalidades poderão ser impostas, e os investidores estão acuados pela hipótese de que os Estados Unidos escolherão diminuir as transações com papeis venezuelanos.
O jornal Miami Herald citou uma autoridade americana ao informar que os Estados Unidos consideram impor uma proibição retroativa que iria afetar não só títulos já comercializados, mas até mesmo toda nova emissão de bônus.
Um dos sintomas mais claros da alteração na disposição dos investidores é que os títulos com emissão da PDVSA com vencimento em novembro estão sendo negociados a 72 centavos por dólar, frente aos 90 centavos no começo de junho. O déficit de longo prazo apresenta risco maior ainda de inadimplência, e os títulos do governo vencendo em 2027 possuem o valor atual de apenas 40 centavos por dólar.
Essa perspectiva é discrepante com o mercado de títulos de países em desenvolvimento, com muito dinheiro, novos negócios e juros baixos.
Um dos mais importantes motivos do recente ímpeto de venda de papéis é que os especuladores estão agora encarando de forma mais sóbria a chance de que Maduro não pague as dívidas, ainda que tenha meios. Mesmo que Maduro constantemente afirme que o governo irá cumprir com suas obrigações, as sanções dos Estados Unidos poderão lhe servir como escusa para sustar os pagamentos.
O país precisa pagar, somando o principal com os juros da dívida, aproximadamente US$ 4,8 bilhões em 2017. Dessa cifra, US$ 1,6 bilhão deverão ser pagos em outubro, e US$ 1,9 bilhão, em novembro.
As empresas de investimento preocupam-se cada vez mais com negócios feitos com a PDVSA, que está com aproximadamente US$ 32 bilhões de títulos circulando no mercado, após seu diretor financeiro ter sido alvo de sanções americanas.
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