Salário mínimo na Venezuela cai para US$ 3,46

Situação do país nos últimos meses tornou-se mais crítica com a crise do sistema elétrico, que por sua vez afeta o abastecimento de água

25/04/2019 16:26 Atualizado: 25/04/2019 16:26

Por Jesús de León, Epoch Times

A situação na Venezuela é cada vez mais catastrófica e, de acordo com um relatório recente, o salário “soberano” caiu para o equivalente a apenas US$ 3,46 por mês.

Segundo o Centro de Documentação e Análise de Trabalhadores (Cenda), o salário mínimo de 18 mil bolívares possui apenas um poder de compra real de 2,6% da cesta básica (CAT) para o mês de março.

Durante o mês de março, os 11 itens que compõem a CAT registraram aumento inter-mensal de preços (entre 5% e 40% por item) — no mês de fevereiro foi entre 40% e 97% —, uma contração contínua no consumo venezuelano, relatou Venepress.

“Para comer produtos com proteína animal você precisa de 211.279,32 bolívares mensais, o equivalente a 12 salários mínimos”, acrescentou essa fonte.

Por exemplo, a caixa de ovos já custa quase um salário mínimo, com um preço entre 15 mil e 16 mil bolívares na área comercial do estado de Yaracuy, publicou El Pitazo.

Carlota Timaure, consumidora, explicou à mídia local que o cardápio com o qual ela alimenta sua família não vai mais poder incluir ovos, isso porque o orçamento apertado não permite que ela disponha semanalmente de 7.000 a 7.500 bolívares para comprar meia caixa de ovos.

O salário mínimo de 18 mil bolívares equivale neste momento a apenas 3,46 dólares.

Por esta razão, uma família precisa de 39 salários mínimos — dos soberanos — para cobrir as despesas básicas.

Outros dados indicam que uma renda mensal estimada em 39.600 bolívares não dá nem para dois dias no mês, já que o trabalhador precisa de um mínimo de 40.408,20 bolívares por dia.

Agora o salário compra apenas 2,8% da CAT. No mês de fevereiro comprava 3,3%.

Pessoas procuram comida no lixo nas ruas de Caracas em 22 de fevereiro de 2017 (FEDERICO PARRA / AFP / Getty Images)
Pessoas procuram comida no lixo nas ruas de Caracas em 22 de fevereiro de 2017 (FEDERICO PARRA / AFP / Getty Images)

De acordo com a rede agroalimentar venezuelana, para maio de 2019, o preço da cesta básica será impagável.

A Cesta Normativa Alimentar, cujo preço é calculado utilizando a metodologia do INE e do Banco Central, passou de 41,8 mil bolívares soberanos em dezembro para cerca de 346 mil em março, segundo essa fonte.

“Projeções com alta confiabilidade indicam que em maio o preço da cesta poderá chegar a cerca de 800 mil bolívares soberanos, ou seja, mais de 40 vezes o atual salário mínimo e para comprá-la uma família que gasta em alimentos 75% de sua renda vai precisar de cerca de um milhão de bolívares para sobreviver”, acrescentaram.

A CAN foi analisada pelo INE e pelo BCV desde 2007 para estabelecer o custo mínimo que uma família média deve pagar para se alimentar adequadamente.

Os venezuelanos vivem o dia a dia entre pobreza, fome e miséria. A situação nos últimos meses tornou-se mais crítica com a crise do sistema elétrico, que por sua vez afeta o abastecimento de água.

Mesmo nesse contexto, existem áreas onde o valor real do salário mínimo é menor.

Por exemplo, em Zulia, devido aos apagões, comprar água em recipientes de 300 litros custa cerca de US$ 8, o dobro do salário mínimo mensal que os venezuelanos ganham em meio à hiperinflação nacional, de acordo com a mídia local Versión Final.

Este estado, segundo em importância no país e com 5 milhões de habitantes, sofre apagões de 16 horas por dia há semanas.

População fica na rua durante blecaute que paralisou a Venezuela por seis dias, em Maracaibo, no estado de Zulia, em 13 de março de 2019 (JUAN BARRETO / AFP / Getty Images)
População fica na rua durante blecaute que paralisou a Venezuela por seis dias, em Maracaibo, no estado de Zulia, em 13 de março de 2019 (JUAN BARRETO / AFP / Getty Images)

“Neste setor, felizmente, temos água a cada cinco dias, temos sorte (…) outros setores ficam um mês (sem água)”, disse uma idosa moradora de Zulia, que em março passou mais de 300 horas sem eletricidade e jogou fora vários alimentos que estragaram enquanto sua casa estava escura, de acordo com essa fonte.