Rússia e China estavam ‘tramando nos bastidores’ antes da invasão da Ucrânia: congressista

"Eles coordenaram e acho que a China está em uma posição melhor deixando Rússia ir primeiro, para avaliar"

26/02/2022 16:39 Atualizado: 26/02/2022 16:39

Por Eva Fu 

Moscou e Pequim têm mantido um ao outro a par de seus planos na preparação para a invasão da Ucrânia, de acordo com dois legisladores.

“Acho que eles coordenaram e acho que a China está em uma posição melhor deixando Rússia ir primeiro, para avaliar”, afirmou o deputado Ken Buck (republicano do Colorado) ao programa “China Insider” da EpochTV, na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), no dia 25 de fevereiro.

Ao observar a reação do mundo sobre a Ucrânia, a China está tentando avaliar seus próximos passos em Taiwan, a ilha autogovernada que o Partido Comunista Chinês reivindica como seu próprio território e há muito planeja colocar sob seu controle, por meio da força, se necessário.

“A China tem planos para Taiwan”, afirmou o legislador durante uma entrevista em Orlando, na Flórida. “E eles querem ver se o mundo impõe sanções reais à Rússia, e o quanto isso prejudicará os russos, e qual é realmente a força de vontade para impedir que uma nação agressiva ganhe mais território”.

O deputado Steve Chabot (republicano de Ohio) teve uma opinião semelhante.

Ele fez uma nota particular sobre o encontro do líder russo Vladimir Putin com o chinês Xi Jinping no dia de abertura das Olimpíadas de Pequim, há três semanas, que terminou com os dois países formando uma parceria sem limites.

“Eles estão tramando nos bastidores”, declarou ele à NTD, uma afiliada do Epoch Times, na CPAC.

A Ucrânia foi um assunto discutido durante “discussões aprofundadas” entre os chanceleres das duas nações, que ocorreu um dia antes da reunião Xi-Putin. A partir da leitura do Kremlin, Moscou também “reafirmou seu apoio” à afirmação de Pequim de que Taiwan faz parte da China.

Desde a invasão russa da Ucrânia, o Ministério das Relações Exteriores da China tem sido bombardeado com perguntas sobre se Xi tinha conhecimento prévio sobre o plano e até deu a Putin “sua bênção”, mas seus funcionários evitaram dar uma resposta direta.

“A Rússia é um grande país independente”, afirmou o porta-voz Hua Chunying a repórteres na quinta-feira.

Ela acusou o repórter de ter uma “rica” imaginação quando questionada se o momento do ataque, apenas alguns dias após a conclusão das Olimpíadas de Pequim, foi coincidência.

‘Distração’

A intensificação da crise na Ucrânia é uma bênção para Pequim, afirmou Buck. Um conflito militar desviaria a atenção dos EUA de sua rivalidade com a China, dando a Pequim uma oportunidade de explorar uma brecha.

“Se os Estados Unidos começarem a enviar tropas para a Europa para defender a Europa e fazer nossa parte como parceiro da OTAN, não poderemos fazer o que queremos ou precisamos fazer no Pacífico”, declarou Buck.

“Serve como uma distração”, acrescentou.

“Na visão da China, serve como uma forma de desviar recursos que podem ser usados ​​em outras áreas”, afirmou o congressista. “A China está mais interessada em garantir que isso seja prolongado e que a Rússia continue a manter uma ameaça aos países bálticos, a Polônia, a Hungria e a outros países da Europa”.

Um grupo de eslavos que vivem em Taiwan exibe cartazes para protestar contra a invasão militar da Ucrânia pela Rússia, em Taipei, em 25 de fevereiro de 2022. (Sam Yeh/AFP via Getty Images)
Um grupo de eslavos que vivem em Taiwan exibe cartazes para protestar contra a invasão militar da Ucrânia pela Rússia, em Taipei, em 25 de fevereiro de 2022. (Sam Yeh/AFP via Getty Images)

Até agora, Pequim se absteve de rotular diretamente o ataque da Rússia à Ucrânia como uma invasão, mas ao mesmo tempo sustentou que respeita “a soberania e integridade territorial de todos os países”, uma referência indireta à sua insistência de que Taiwan faz parte da China.

Embora os Estados Unidos não estejam prontos para uma guerra terrestre com a Rússia por causa da Ucrânia, as apostas são diferentes quando se trata de Taiwan, relatou Buck.

“A vontade de defender Taiwan é maior do que a vontade de defender a Ucrânia”, afirmou ele.

“A ideia de que a China e a maneira como eles trapacearam as relações comerciais, a maneira como roubaram propriedade intelectual, a maneira como se tornaram uma potência militar nos últimos anos e tentaram afetar as rotas marítimas necessárias para o comércio é diferente.”

“Taiwan está em uma posição que pode afetar nossa capacidade de negociar com o Japão, com a Coreia e outros vizinhos”, acrescentou. “E encorajar a China a interferir com parceiros comerciais estratégicos… não acho que os Estados Unidos realmente queiram que isso aconteça”.

De acordo com uma pesquisa de janeiro do Grupo Trafalgar, a esmagadora maioria dos americanos é contra o envio de tropas ou equipamentos militares para a Ucrânia no caso de uma invasão russa. Apenas 15% dos entrevistados acreditavam que os Estados Unidos deveriam fornecer tropas, enquanto 30% acreditavam que deveriam fornecer apenas armas e outros suprimentos.

Soldados de Taiwan ficam ao lado do navio Tuo Chiang da classe corveta produzido no país (direita) durante um exercício na cidade de Keelung, no norte de Taiwan, no dia 7 de janeiro de 2022 (SAM YEH/AFP via Getty Images)
Soldados de Taiwan ficam ao lado do navio Tuo Chiang da classe corveta produzido no país (direita) durante um exercício na cidade de Keelung, no norte de Taiwan, no dia 7 de janeiro de 2022 (SAM YEH/AFP via Getty Images)

Por outro lado, 58% dos entrevistados acreditavam que os ativos militares dos EUA deveriam ser usados ​​para defender Taiwan no caso de uma invasão pela China continental.

Para impedir a China de seguir os passos da Rússia, é preciso uma ação mais forte dos Estados Unidos, afirmaram os dois legisladores.

“É absolutamente crítico que eles [Pequim] percebam que se atacarem [Taiwan] isso terminará em sério confronto militar com os Estados Unidos”, afirmou Chabot, ao pedir a Washington que mude sua política de longa data de ambiguidade estratégica, na qual os Estados Unidos permanecem deliberadamente vagos sobre se viria em defesa de Taiwan no caso de uma invasão chinesa.

“A China não está ajudando em nada”, acrescentou Chabot. “Mas isso não é inesperado, porque os dois principais rivais no mundo agora… os piores entre os maus agentes são Putin e Xi – Rússia e China”.

David Zhang contribuiu para esta reportagem.

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