A Rússia defendeu nesta sexta-feira (31), no Conselho de Segurança da ONU, o seu acordo para a instalação de armas nucleares táticas na Bielorrússia , em meio às críticas da maioria dos membros, que alertaram para os perigos representados por esta medida.
O embaixador da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, justificou a medida como resposta à presença generalizada de armas nucleares dos EUA em países europeus e ao apoio militar que as potências ocidentais estão dando à Ucrânia.
“Esperavam realmente que não respondêssemos a atos provocativos e agressivos?” perguntou Nebenzya em discurso ao Conselho de Segurança, reunido a pedido da Ucrânia e dos seus aliados após o anúncio do novo pacto entre Rússia e Bielorrússia.
O representante russo culpou os EUA por minarem toda a arquitetura de não proliferação nuclear, a fim de assegurar o seu “domínio geopolítico” e impedir a “emergência de um mundo multipolar”.
Nos últimos anos, Moscou e Washington, as duas maiores potências nucleares, puseram fim a vários acordos de controle de armas nucleares e tomaram medidas unilaterais para modernizar os seus arsenais, uma situação que, juntamente com a guerra na Ucrânia, aumentou o risco de uma arma nuclear ser utilizada em seu ponto mais alto desde as piores fases da Guerra Fria, de acordo com a própria ONU.
“A ausência de diálogo e a erosão da arquitetura de desarmamento e controle de armas, combinada com retórica perigosa e ameaças veladas, são fatores cruciais neste risco potencialmente existencial”, disse nesta sexta-feira o alto representante das Nações Unidas para o Desarmamento, Izumi Nakamitsu.
Críticas generalizadas à Rússia
Os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, foram duramente atingidas pelo acordo Rússia-Bielorrússia e acusaram o presidente russo, Vladimir Putin, de utilizar armas nucleares como uma ameaça contra aqueles que apoiam Kiev.
O representante americano, Robert Wood, disse que o pacto mostra que a Rússia está cada vez mais disposta a usar “o espectro do conflito nuclear para ganhar a sua guerra ilegal contra a Ucrânia”.
“O anúncio do presidente Putin em 25 de março é a sua última tentativa de intimidar e coagir. Isto não funcionou e não irá funcionar. Vamos continuar apoiando os esforços da Ucrânia para se defender”, declarou o embaixador britânico, James Kariuki, que insistiu que ninguém está ameaçando a Rússia.
O Reino Unido e outros países também contrariaram um dos argumentos utilizados por Moscou, que afirmou que a instalação nuclear em Belarus foi em parte em resposta à decisão de Londres de dar ao Exército ucraniano munições com urânio empobrecido, um tipo de armamento não nuclear considerado eficaz contra tanques.
“A Rússia está bem ciente de que se trata de munições convencionais, não nucleares. Este é outro exemplo de como eles tentam enganar”, insistiu Kariuki.
Às críticas sobre o desdobramento nuclear vieram de países de todos os continentes, incluindo o Brasil, que frisou a sua preocupação com o fracasso do desarmamento nuclear e a aceleração da corrida ao armamento nuclear e disse a Moscou que possíveis violações de compromissos por parte de outros Estados não justificam mais “violações”.
A China, que tem evitado criticar diretamente a Rússia no Conselho de Segurança desde o início da invasão, deixou clara a sua rejeição de longa data da utilização de armas nucleares em outros países e a sua oposição à ameaça de utilizar este tipo de armamento.
Além disso, pediu para que todas as partes no conflito ucraniano sejam “racionais e exerçam contenção”, “evitem agravar as tensões” e se abstenham de quaisquer medidas que possam levar a uma perda do controle da situação.
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