SÃO FRANCISCO — Uma manifestação ocorreu do lado de fora do consulado chinês em São Francisco na manhã de 8 de setembro para protestar sobre a interferência do regime chinês na legislatura da Califórnia.
O que deu início à manifestação foi uma carta enviada pelo consulado para todos os membros do Senado da Califórnia alertando que apoiar a Resolução Conjunta do Senado nº 10 (SJR 10) — uma resolução apoiada pelo senador Joel Anderson que condena o Partido Comunista Chinês por sua constante perseguição aos praticantes do Falun Gong — prejudicaria as relações entre os dois governos.
Falun Gong, também conhecido como Falun Dafa, é uma antiga prática espiritual chinesa na tradição budista. Consiste em viver de acordo com os princípios de verdade, compaixão e tolerância e realizar suaves exercícios meditativos.
Em 1999 havia 70 milhões de pessoas praticando Falun Gong na China, de acordo com uma pesquisa feita pelo Estado chinês, ou 100 milhões, de acordo com praticantes do Falun Gong. Entretanto, em julho de 1999, o então líder do partido comunista Jiang Zemin baniu a prática pacífica e empregou o aparato inteiro de segurança nacional, a mídia e o judiciário para participarem de uma campanha massiva de perseguição que perdura até hoje.
Extração de órgãos
O elemento mais perturbador nessa campanha brutal é a evidência contundente de que prisioneiros de consciência que praticam Falun Dafa são assassinados para prover órgãos para transplantes na China.
O Centro de Investigação de Extração de Órgãos da China reporta que a “China agora realiza mais transplantes de órgãos do que qualquer outro país no mundo, apesar de ter poucas doações”. O Centro se pergunta de onde vêm todos esses órgãos.
Em 2016, o ex-secretário de Estado Canadense para Ásia e Pacífico David Kilgour, o jornalista investigativo Ethan Gutmann e o advogado internacional de direitos humanos David Matas lançaram o relatório ‘Bloody Harvest/The Slaughter: An Update’ (‘Extração Sangrenta/O Massacre: uma atualização’) que, de acordo com o website, oferece “um exame meticuloso dos programas de transplante de centenas de hospitais na China, a partir de reportagens da mídia, da propaganda oficial, de artigos médicos, de sites de hospitais e de uma vasta quantidade de páginas da web removidas, encontradas em arquivo”.
O relatório mostra que o regime chinês realiza de 60.000 a 100.000 transplantes por ano em oposição aos 10.000 por ano alegados pela China. O regime chinês se envolveu “no assassinato em massa de inocentes, principalmente dos praticantes de um conjunto de exercícios com base espiritual, o Falun Gong, mas também uigures, tibetanos e cristãos que oram em casa, a fim de obter órgãos para transplantes”.
Também em 2016, a Câmara dos Deputados americana aprovou a resolução H. Res. 343: “Preocupação expressa em relação aos relatórios sólidos e persistentes da sistemática extração de órgãos sem consentimento, sancionada pelo Estado, de prisioneiros de consciência na República Popular da China, incluindo um grande número de praticantes do Falun Gong e membros de outras religiões e grupos de minoria étnica”.
Arquivamento da resolução
A SJR 10 dá importância à resolução H. Res. 343 e condena o governo chinês “por qualquer perseguição sancionada pelo governo aos praticantes do Falun Gong na República Popular da China”. Com ambos os partidos, Democrata e Republicano, apoiando, foi aprovada por unanimidade pelo Comitê Judiciário. O próximo passo deveria ter sido uma votação no Plenário do Senado.
Inesperadamente, o Senado votou o encaminhamento da SJR 10 de volta para o Comitê de Regimento — essencialmente barrando-a de ir à votação no Senado.
Em seu discurso na manifestação, o senador Joel Anderson colocou a culpa pelo engavetamento de sua resolução em “uma carta maldosa enviada pelo consulado chinês para desacreditar os praticantes do Falun Gong”. A carta ameaçava dizendo que a SJR 10 “poderia prejudicar profundamente as relações de cooperação entre o Estado da Califórnia e a China”.
Datada de 1º de setembro, a carta foi enviada a todos os senadores da Califórnia no dia seguinte em que 200 ativistas de direitos humanos se reuniram no Capitólio do Estado para apoiar a aprovação unânime da SJR 10 pelo Comitê Judiciário do Senado.
No mesmo dia em que essa carta foi recebida, o membro do Senado Tem Kevin De Leon removeu a resolução da bancada.
As ligações e e-mails do Epoch Times para Jonathan Underland, secretário de imprensa do senador De Leon, pedindo comentários do senador sobre esta questão não foram retornados.
Indignado com a situação de não haverem sequer permitido que sua resolução pudesse ser escutada, o senador Anderson denunciou tal “interferência alarmante com nosso processo legislativo por um poder estrangeiro que silenciou a voz dos direitos humanos”, afirmou durante o protesto.
Outros estados — Minesota, Illinóis e Pensilvânia — cada um deles aprovou resoluções similares à SJR 10 nos últimos anos.
Contra o genocídio
O senador Anderson disse que “nós devemos permanecer unidos contra o genocídio. Essa não é uma questão partidária, é uma questão de direitos humanos”.
Antes do longo recesso iniciado em 15 de setembro, o senador Anderson aproveitou cada oportunidade que encontrou para falar sobre a SJR 10 e anexá-la a outras medidas, incluindo um projeto de lei similar que condena a perseguição do governo da Chechênia à comunidade LGBT.
Ele não estava sozinho em sua tentativa. Apontando a longa história da Califórnia de demonstrar apoio às resoluções de direitos humanos, o senador Stone, um republicano de Temecula, encorajou seus colegas a deixarem a SJR 10 ser ouvida.
“Nós geralmente fazemos resoluções em apoio aos direitos humanos. Penso que essa é uma oportunidade perdida — que nos faz parecer hipócritas — aquele assassinato num sentido é justificado enquanto se opõe a assassinar em outro”, disse Stone no piso do Senado.
Seus apelos caíram em ouvidos surdos. A SJR 10 continua engavetada.
Para explicar a aparente hipocrisia do Senado da Califórnia em condenar a perseguição de cidadãos na Chechênia, mas não na China, Anderson acredita que é preciso acompanhar a cronologia:
1. Com apoio bipartidário, a SJR 10 passou de forma unânime no Comitê Judiciário;
2. Uma carta ameaçadora foi recebida do consulado chinês;
3. A resolução é engavetada sem ao menos ser lida na bancada do Senado.
Ameaças do regime chinês
Ameaças e intimidações do regime chinês a políticos americanos não são novidade.
O Congresso dos Estados Unidos já passou duas resoluções — a H Con ResR 188 em 2002 e a H Con Res 304 em 2004 — pelas quais instou o procurador-geral a investigar relatórios sobre os atos ilegais de diplomatas chineses ao tentarem intimidar representantes americanos eleitos que demonstraram apoio aos praticantes do Falun Gong. As resoluções também encorajaram os governos locais a informar ao Congresso, ao procurador-geral e ao secretário de Estado qualquer incidente de pressão ou assédio por agentes chineses.
Indignado com o fato de o poder do governo chinês de suprimir a liberdade de expressão se estender além de suas próprias fronteiras e chegar até a Liderança do Senado da Califórnia, o senador Anderson jurou continuar defendendo sua resolução até que esta tenha permissão de ser lida.
Em um apelo à consciência de seus colegas, ele disse: “Devemos permanecer firmes contra o genocídio em qualquer lugar do mundo. Existiram aqueles que negaram o Holocausto. Não há desculpas, com o que sabemos hoje, para negar o holocausto que está acontecendo na China contra os praticantes do Falun Gong. Precisamos nos posicionar e dizer que as partes do corpo de ninguém devem ser extraídas em decorrência de suas crenças religiosas”.
Ele se dirigiu diretamente aos cidadãos da Califórnia, pedindo àqueles que acreditam que o Senado deva realizar uma votação de urgência contra o genocídio liguem para seus parlamentares e lhes digam que querem ver seu voto na SJR 10.
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