Por Agência EFE
Nas últimas duas semanas, quatro mídias digitais na Venezuela se juntaram à lista de portais bloqueados pelo regime chavista, na busca de, segundo a ONG Espacio Público, dificultar o acesso à informação para cidadãos que buscam alternativas para poder conhecer as notícias do país caribenho.
A ONG venezuelana VE Sin Filter informou, no dia 1º de fevereiro, o bloqueio das mídias digitais Crónica Uno, Cocuyo Effect e EVTV nos principais provedores de internet do país, incluindo a estatal CANTV.
A mesma situação se repetiu em 12 de fevereiro com o site do jornal venezuelano “El Nacional”, dias após sua sede ter sido entregue ao número dois do chavismo, Diosdado Cabello, como parte da indenização por “dano moral” ordenada pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
“A maioria dos principais provedores de internet implementou bloqueios contra o ‘El Nacional’, um grande veículo de notícias, apenas dois dias após Diosdado Cabello ameaçá-lo dizendo: ‘Agora me dá vontade de ir para a página do El Nacional’. Cabello é um dos principais líderes do governo de Nicolás Maduro”, explicou a organização em comunicado.
A organização acrescentou que até o final de 2021, inclusive durante as eleições regionais, pelo menos 35 meios de comunicação foram bloqueados online.
No entanto, o diretor do Espacio Público, Carlos Correa, explicou à Efe que essa prática de bloqueio de páginas na Venezuela começou há pelo menos 10 anos, embora agora também sejam aplicados “bloqueios temporários”, portanto não há um número exato de portais afetados.
“Há cerca de 10 anos já tínhamos documentado mais de 3.000 sites bloqueados, agora é muito difícil porque hoje tem sites bloqueados, amanhã não (…), quando se revisa algumas das ferramentas que monitoram bloqueios de DNS, A Venezuela é um dos países com maior número de testes”, relatou.
Sem razão oficial
A VE Sin Filter garantiu que “normalmente” esses bloqueios são “encomendados” pela Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel), porém não há nenhum comunicado oficial sobre essas medidas ou o motivo pelo qual os usuários não podem acessar essas páginas da web.
Correa acrescentou que os motivos dessas restrições não são conhecidos, mas que “na verdade, são instruções da Conatel, são dados que temos por meio de canais não oficiais”.
O ativista argumentou que existe uma “política” que visa impedir ou dificultar a tarefa de informar os cidadãos, principalmente quando são divulgados trabalhos de investigação sobre suposta corrupção.
No dia 9 de fevereiro, a equipe do meio de comunicação venezuelano TalCual denunciou que o portal estava sendo alvo de um ataque DDoS (denial of service), após divulgar informações sobre a celebração de uma festa no topo de um tepuy, os famosos platôs com paredes verticais e topos planos, do Parque Nacional Canaima na Venezuela.
O editor de conteúdo da mídia, Víctor Amaya, indicou em sua conta no Twitter que o registro de solicitações ao servidor TalCual revelou um “número inusitado de solicitações de IPs controlados pelo provedor de internet estatal venezuelano Cantv”.
Correa explicou que este tipo de “ataque” é realizado por “terceiros”, pelo que neste caso exigem do Estado a “obrigação de proteger” e investigar quem o está executando, assim como o motivo.
“Parece que são os mencionados que tentam fazer esses ataques. São ataques pagos, são caros, são pagos para tentar limitar o acesso porque (…) chega uma hora que o servidor cai e por isso interrompe-se a prestação do serviço de informação”, explicou.
Correa indicou que 80% da mídia atualmente no país são emissoras de televisão e rádio que possuem um “acompanhamento muito próximo” da Chavista Conatel, o que se traduz em “regulamentações”, para que os espaços de opinião sobre política, economia e questões sociais “sejam reduzidas”.
Além disso, a maioria dos jornais não circula em papel, pois desde 2013, segundo a ONG Instituto Prensa y Sociedad (Ipys), 104 jornais impressos desapareceram na Venezuela.
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