Por Agência EFE
Familiares de jornalistas perseguidos ou presos na Nicarágua levantaram a voz nesta terça-feira para denunciar que o regime de Daniel Ortega, que se tornou uma “ditadura”, “conseguiu banir todos os direitos humanos” e demolir as estruturas da sociedade civil através da “repressão, prisão e morte”.
Os depoimentos contundentes de vários familiares foram ouvidos durante a reunião bianual da Associação Interamericana de Imprensa (SIP), que começou hoje virtualmente e analisará até a próxima quinta-feira o panorama da liberdade de imprensa na América Latina, onde há uma “exacerbação da violência” contra jornalistas e meios de comunicação.
“Na Nicarágua estamos todos presos e sob os abusos de uma ditadura” que “fabrica julgamentos ilegais infundados” contra jornalistas e ordena “confiscos ilegais” de meios de comunicação, disse Renata Holmann, filha de Juan Lorenzo Holmann Chamorro, gerente geral do jornal La Prensa e um prisioneiro no país centro-americano desde agosto de 2021.
Julgamentos e confiscos ilegais da mídia
Renata ficou visivelmente afetada ao relatar o sofrimento de seu pai, “isolado e incomunicável” em uma cela “lacrada” de 2 × 2 metros, após ser condenado a nove anos de prisão por suposta lavagem de dinheiro, se referindo ao “confisco e ocupação inconstitucionais” pela Polícia das instalações do jornal.
É um “ato covarde de vingança da ditadura de Ortega-Murillo” “esmagar direitos” no país, disse Holmann, que pediu “dupla pressão nacional e internacional” e “investigar os assassinatos, torturas e detenções ilegais” do regime.
Neste segmento de depoimento, também foram ouvidas as vozes de Cristopher Mendoza Jirón, sobrinho do jornalista esportivo preso Miguel Mendoza; a jornalista exilada Lourdes Arróliga, da Fundação Violeta Chamorro, e a costarriquenha-nicaraguense Lucía Pineda, assessora de imprensa do canal 100% Noticias.
Para Pineda, a Nicarágua vive uma “situação extremamente grave” devido à repressão governamental, com um “ataque brutal e impiedoso à mídia” que só deixa o jornalista no caminho do “exílio, prisão ou até morte”.
Pineda, preso e solto em 2019, lembrou que desde os tumultos de 2018, quando grande parte do país saiu às ruas em protesto, “se passaram 4 anos de repressão, prisão e morte”.
Chamou o governo de Ortega de “regime malvado e covarde” e assegurou que se tornou o “mais nefasto na repressão da população desarmada em tempos de paz” e na prisão de todos os candidatos às eleições gerais de 2021.
Neste contexto, Arróliga disse que o “monstro que é a ditadura Ortega-Murillo (o casal presidencial) acabou com a liberdade de expressão, informação, imprensa e associação no país, mas não conseguiu erradicar o desejo de fortalecer a construção democrática” da Nicarágua.
Plano de ação para restaurar a democracia
Por sua vez, Ricardo Trotti, diretor executivo da SIP, adiantou que esta organização, diante da “perseguição sistemática do jornalismo, da opressão e da censura” no país centro-americano, desenvolveu um plano de ação para “restaurar a liberdade de imprensa e de expressão” e “restaurar a democracia”.
O plano de ação, assinado por cerca de trinta organizações hemisféricas, inclui dez pontos que permitem aos nicaraguenses “viver novamente em liberdade, democracia e com as garantias do Estado de Direito”.
Entre os pontos, destaca-se o pedido aos organismos multilaterais para o condicionamento de créditos e ajuda não humanitária ao país até que o Governo “liberte os presos políticos, devolva as instalações” aos jornais La Prensa, Confidencial e 100% Noticias.
O documento exige a libertação de presos políticos, incluindo os jornalistas Miguel Mora, Miguel Mendoza e Jaime Arellano, bem como membros do conselho de administração do La Prensa: Cristiana Chamorro, Pedro Joaquín Chamorro e Juan Lorenzo Holmann Chamorro.
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