O Conselho Nacional de Universidades (CNU), órgão reitor do ensino superior da Nicarágua, aprovou na quinta-feira (17) a criação da estatal Universidade Nacional Casimiro Sotelo Montenegro, que substituirá a jesuíta Universidade Centro-Americana (UCA), um dos centros de estudos privados mais prestigiados do país.
O judiciário da Nicarágua, controlada pelos sandinistas, ordenou que a UCA, fundada em 1960, transferisse seus bens e imóveis, assim como suas contas bancárias, para o regime nicaraguense, após ser acusada pelo Ministério Público de ser um “centro de terrorismo, organizando grupos criminosos”.
Em sessão ordinária realizada na quinta-feira no município de Camoapa, no departamento de Boaco, no centro da Nicarágua, o CNU concordou em cancelar a autorização de operação da UCA “de acordo com as disposições do Estado nicaraguense”.
Além disso, e “para garantir a continuidade educacional dos alunos de graduação e pós-graduação” da UCA, “aprovou a criação da Universidade Nacional Casimiro Sotelo Montenegro”.
A juíza Gloria María Saavedra, titular da Décima Vara Criminal do Distrito de Manágua e formada pela UCA, enviou na terça-feira um ofício à universidade jesuíta para informar da “apreensão de bens, imóveis, dinheiro em moeda nacional ou estrangeira de contas bancárias imobilizadas, produtos financeiros em moeda nacional ou estrangeira detidos pela UCA”.
A juíza também ordenou “que a penhora de todos os bens descritos no ponto anterior seja a favor do Estado da Nicarágua, que garantirá a continuidade de todos os programas educacionais”.
UCA rechaça acusações infundadas
Segundo alegou ontem o centro de estudos, essas medidas punitivas foram tomadas “em resposta a acusações infundadas de que a Universidade Centro-Americana funcionava como um centro de terrorismo, organizando grupos criminosos”.
“Diante de tudo isso, a UCA reitera seu compromisso com a sociedade nicaraguense por uma educação superior de qualidade e fiel a seus princípios fundadores há 63 anos”, acrescentou.
Por causa desse ofício, a universidade jesuíta, cujo reitor era o padre Rolando Enrique Alvarado López, decidiu suspender suas atividades acadêmicas e administrativas.
Foi nessa universidade jesuíta que o atual ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, estudou Direito por 10 meses, antes de deixar os estudos para ingressar na luta armada contra a ditadura de Somoza (1937-1979).
Dois filhos de Ortega, Daniel Edmundo e Juan Carlos, graduaram-se em Sociologia e Comunicação Social, respectivamente, nesse centro de estudos.
Outro de seus filhos, Maurice, estudou Economia Aplicada ali por alguns trimestres, mas antes do final do primeiro ano retirou-se para estudar Produção Cinematográfica e Audiovisual fora da Nicarágua.
Na semana passada, as autoridades do regime nicaraguense congelaram as contas bancárias da universidade jesuíta e imobilizaram legalmente suas propriedades, em meio a confrontos entre a ditadura de Ortega e a Igreja Católica.
Por sua vez, a Direção de Resolução Alternativa de Conflitos (Dirac), ligada à Corte Suprema de Justiça, também controlada pelos sandinistas, revogou na última segunda-feira a credencial do Centro de Mediação da UCA, quatro meses depois de essa mesma entidade ter renovado sua vigência.
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