Regime da Coreia do Norte e sua epidemia de metanfetamina

28/11/2017 17:39 Atualizado: 28/11/2017 17:40

O regime socialista da Coreia do Norte costumava ganhar moeda estrangeira, tão necessária para o regime, em parte vendendo metanfetamina; um comércio de drogas sancionado pelo Estado que deixou profundas marcas no país e além.

As atividades de drogas do regime são prolíficas e bem documentadas, sendo o cristal de metanfetamina a droga de exportação de escolha do regime, especialmente após dificuldades no plantio e produção da papoula de ópio tornaram a heroína um comércio menos confiável.

Com produtos químicos precursores baratos provenientes da China, o regime norte-coreano poderia produzir metanfetamina com confiança e em grandes quantidades. Também poderia produzir uma qualidade que deixaria os usuários de drogas “subindo pelas paredes”, com uma pureza de 99%, de acordo com um processo de 2013 da Agência de Combate às Drogas (DEA) dos Estados Unidos contra fornecedores.

Cristal de metanfetamina confiscado é exibido para jornalistas durante uma conferência de imprensa na sede da polícia federal alemã em Wiesbaden, Alemanha, em 13 de novembro de 2014 (Daniel Roland/AFP/Getty Images)
Cristal de metanfetamina confiscado é exibido para jornalistas durante uma conferência de imprensa na sede da polícia federal alemã em Wiesbaden, Alemanha, em 13 de novembro de 2014 (Daniel Roland/AFP/Getty Images)

Em referência à metanfetamina produzida sob o regime norte-coreano, uma fonte confidencial disse à DEA, “As pessoas em Nova York ficaram loucas… os lugares onde distribuímos [a metanfetamina] nos Estados Unidos, Nova York… Boston, todos esses lugares, quero dizer, enlouqueceram.”

Muitos sofreram devido à fabricação norte-coreana de metanfetamina, com os mais afetados sendo frequentemente os próprios norte-coreanos. Também seriamente afetados foram os cidadãos chineses na província de Liaoning, que faz fronteira com a Coreia do Norte e atua como um dos principais canais para as exportações de drogas da Coreia do Norte.

“Em contraste com a maioria das regiões da China, o abuso de drogas nesta região é esmagadoramente de cristal de metanfetamina”, observa o Relatório Internacional da Estratégia de Controle de Narcóticos de 2012 da agência internacional de entorpecentes dos Estados Unidos.

A polícia militar chinesa apreende drogas ilegais na vila de Boshe, na cidade de Lufeng, província de Guangdong, em 29 de dezembro (Captura de tela/CPD.com.cn)
A polícia militar chinesa apreende drogas ilegais na vila de Boshe, na cidade de Lufeng, província de Guangdong, em 29 de dezembro (Captura de tela/CPD.com.cn)

Até 2016, o problema piorou, de acordo com desertores e reportagens da mídia chinesa e russa.

“De acordo com essas fontes, a produção e o consumo de metanfetamina parece ter se expandido consideravelmente na Coreia do Norte na última década. A maior disponibilidade da droga também provocou o contrabando transfronteiriço da droga para a China e outros países”, observa o relatório de 2016.

Mas houve uma mudança na circulação de droga hoje em comparação com uma década atrás. Costumavam ocorrer apreensões de drogas da Coreia do Norte rotineiramente, interceptadas a caminho do Japão ou de países com vínculos claros com as autoridades norte-coreanas. Agora, o comércio de drogas tem mais características de livre mercado.

“A melhor informação disponível sugere que a maior parte da produção de metanfetamina agora ocorre em pequenos laboratórios operados por empreendedores criminais que parecem operar independentemente do Estado”, diz o relatório de 2016.

Mas estatal ou não, o uso de metanfetamina é epidêmico na Coreia do Norte, de acordo com muitas fontes.

Um ponto de controle militar norte-coreano é visto a partir de um posto de observação em Panmunjom, Coreia do Sul, em 28 de setembro de 2017 (Chung Sung-jun/Getty Images)
Um ponto de controle militar norte-coreano é visto a partir de um posto de observação em Panmunjom, Coreia do Sul, em 28 de setembro de 2017 (Chung Sung-jun/Getty Images)

A agência internacional de narcóticos dos Estados Unidos informa que o uso de cristal de metanfetamina é generalizado, independentemente da classe ou hierarquia sociais. Todos, desde estudantes e trabalhadores até os abastados e influentes na sociedade, são conhecidos por usarem a droga.

Até 30% dos norte-coreanos usam drogas, de acordo com Lee Kwan-hyung, um pesquisador do Centro de Dados para os Direitos Humanos na Coreia do Norte, baseado em Seul.

Lee consultou desertores da Coreia do Norte que fugiram após 2010 e descobriu uma prevalência surpreendente do uso de drogas; um desertor disse inclusive que as drogas eram mais comuns do que o arroz.

O cristal de metanfetamina é uma das drogas mais viciantes do mundo, mas na Coreia do Norte não é considerado uma grande ameaça.

“Isso não é tratado como um abuso grave e pode até ser prescrito como remédio”, disse Bronwen Dalton, professor-associado da Universidade de Tecnologia de Sydney, ao NINE.com.au.

A droga dá aos usuários energia e deixa-os alerta e pode ajudar a ignorar a dor, mas também garante ao regime de Kim Jong-un outra forma de manter os norte-coreanos sob seu controle.